O Sexto Sentido
Original:The Sixth Sense
Ano:1999•País:EUA Direção:M. Night Shyamalan Roteiro:M. Night Shyamalan Produção:Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Barry Mendel Elenco:Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette, Olivia Williams, Trevor Morgan, Donnie Wahlberg, Peter Anthony Tambakis, Jeffrey Zubernis |
A esta altura todos já sabem como termina. E ainda continua surpreendente imaginar os rumos da carreira do cineasta indiano a partir de seu sucesso absoluto, lançado em 1999, numa briga particular, na época, com Bruxa de Blair. Shyamalan engataria um trabalho a cada dois anos, com sua a inspiração assumida em Hitchcock incomodando críticos na mesma proporção que atraía adjetivos elogiosos de seus seguidores. O Sexto Sentido foi além de um horror psicológico eficiente, mas serviu como motor propulsor da carreira do cineasta e levou o gênero para o Oscar com seis indicações.
O sexto sentido, na verdade, era uma qualidade de David Vogel, o então presidente da The Walt Disney Studios. Depois que Shyamalan havia mostrado um pouco de seu talento com duas comédias, sendo que a última com distribuição da Miramax, Vogel decidiu ler um novo roteiro, colocado em sua mesa, na íntegra e se apaixonou pelo seu conteúdo. Se não conseguia os direitos financeiros para seu lançamento, até mesmo porque a Disney ainda possuía certas restrições quanto ao material lançado, ele comprou os direitos do texto e vendeu para a Spyglass Entertainment, com cláusulas no contrato sobre o box office. Ele já previa o sucesso de uma produção que custara aproximadamente U$40 milhões, e conquistaria só nos EUA quase U$300 milhões, apontando aquele diretor sem muita experiência como um vulcão dourado em erupção.
Entretanto, o sucesso não foi por acaso. O Sexto Sentido é realmente um filmaço, e continua com força em seu conteúdo numa releitura quinze anos depois. Engana-se que o tacha como apenas um filme de fantasmas, o que é uma visão rasa de um trabalho bem moldado sobre o fim de um relacionamento, a difícil aceitação de uma separação, quando cada eixo evita enxergar o outro. Aliás, todo trabalho do diretor possibilita uma análise profunda sobre fases da vida escondidas em metáforas sobrenaturais. Só para exemplificar, Corpo Fechado pode ser visto apenas como o surgimento de um herói e consequentemente um vilão, mas também traz uma leitura sobre o divórcio através dos opostos; Sinais é um filme sobre invasão alienígena maquiando a perda da fé diante da morte de um ente querido; e até o criticado Fim dos Tempos traz um cataclisma e um pré-apocalipse para mostrar que os Homens, ao destruir a Natureza, andam para trás na evolução, cometendo suicídios lentamente…
O longa começa com a chegada do Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis), um psiquiatra infantil, em casa com a esposa após um evento de comemoração de um prêmio de honra ao mérito. Levemente embriagados, sua esposa Anna (Olivia Williams) já deixa claro o quanto ele anda afastado de casa por conta do trabalho – a ponta de um iceberg de qualquer relacionamento. Ao notar a casa invadida, ele pede que a esposa chame a polícia, enquanto conversa no banheiro com um ex-paciente, Vincent Grey (Donnie Wahlberg), que o acusa de ter destruído sua vida, no momento em que ele mais precisava de ajuda. “Ninguém deve sentir medo sozinho.“, o rapaz perturbado diz antes de atirar em Crowe e se suicidar.
No outono seguinte, Dr. Crowe está às voltas com um novo paciente, um garoto de nove anos chamado Cole Sear (Haley Joel Osment), com sintomas similares ao de Vincent Grey: problemas de socialização e protagonismo, além de um sofrimento pessoal envolvendo possíveis alucinações. O garoto vive com a mãe, Lynn (Toni Collette), que não lhe dá a atenção necessária por consequência de uma perda traumática. Ao conviver com o pequeno, aos poucos, Dr. Crowe descobre mais sobre sua condição até conseguir a confiança necessária para o famoso desabafo na cama: “Eu vejo pessoas mortas.”
Por conta desse segredo trazido à tona apenas no segundo ato, até lá, não há visões assustadoras ou assombrações. O espectador acompanha os fatos na percepção do médico antecipando essa revelação, numa narrativa lenta e cadenciada, quando o incômodo do garoto se torna evidente e é transmitido para o público, sem poupá-lo dos calafrios. A partir daí, o até então drama psicológico é envolto por elementos sobrenaturais com a presença de fantasmas perturbados em busca de ajuda. Há os enforcados da escola, o que sabe onde a arma está escondida e a menina que baba – exposições sempre assustadoras, acompanhadas da trilha sonora acertada e os posicionamentos de câmera inteligentes e bem escolhidos.
Torna-se impossível não se envolver com o drama do pequeno Cole. Ora, quem teria coragem de se aproximar dessas entidades em estado de sofrimento absoluto para tentar ouví-las e fazê-las entender sua nova condição? Dentre as regras observadas pelo menino duas são fundamentais, mas que facilitam para o público prever a surpresa final: 1) um fantasma não enxerga o outro; 2) muitos não sabem que estão mortos. Mesmo com essa antecipação dessa surpresa, Shyamalan age consciente na apresentação das peças que conduzirão ao clímax como a cor vermelha mostrada somente nos momentos certos, deixando a revelação final apenas como a cereja de um bolo degustado e apreciado lentamente.
Excelente filme.
Um dos melhores filmes do diretor Night Shyamalan. A história é incrível, atuações impecáveis e o final é surpreendente.
Um filme perturbador e aterrorizante.
5 caveiras!!!!