México Bárbaro
Original:México Bárbaro
Ano:2014•País:México Direção:Laurette Flores Bornn, Edgar Nito, Aaron Soto, Isaac Ezban, Lex Ortega, Jorge Michel Grau, Ulises Guzman, Gigi Saul Guerrero Roteiro:Laurette Flores Bornn, Edgar Nito, Aaron Soto, Isaac Ezban, Lex Ortega, Jorge Michel Grau, Ulises Guzman,Gigi Saul Guerrero Produção:Andrew Thomas Hunt Elenco:Dulce Alexa, Sara Camacho, Gabriel Carter, Lorena Gonzalez, Claudia Goytia, Emi Kamito, Gilean Alducin Luciano |
México é um país que tem uma rica cultura em torno do misticismo de seu passado. Rituais maias e astecas, criaturas que lembram duendes, fantasmas, e várias outras lendas são adaptadas na visão de oito dos mais talentosos diretores mexicanos contemporâneos do gênero de horror. Assim como em Fábulas Negras, onde quatro diretores brasileiros exploram nossas lendas e folclore, é uma boa oportunidade para conhecer mais sobre o cinema de gênero mexicano e suas lendas.
O primeiro segmento Tzompantli, do diretor Laurette Flores, mostra um jornalista que consegue uma entrevista com uma membro do cartel de drogas, que lhe conta sobre sacrifícios praticados em rituais antigos. O segmento é rápido, não se aprofunda muito no tema, mas acerta ao relacionar crenças com as atuais condições do país.
Jaral de Berrios, o melhor segmento da antologia, mostra dois homens em um cenário western que se refugiam em um casarão no meio do deserto. Lá são assombrados por um espírito de uma linda mulher. O diretor Edgar Nito utiliza bem os recursos da locação para criar um ambiente solitário e aterrador, quando os homens ficam a mercê do espírito vingativo em uma horripilante sequência final.
Drena, do diretor Aaron Soto, narra a história de uma garota que recebe uma visita de uma bizarra criatura que lhe faz um pedido inusitado: sugar o sangue da irmã através de sua vagina. Bizarro e estranho, uma ideia que podia render uma história interessante, porém peca em sua execução.
La Cosa Mas Preciada é o segmento mais escatológico. Um jovem casal vai passar uma noite em um chalé no meio de uma floresta. Avisados por um morador local sobre uma ameaça, ignoram o mesmo. São atacados por uma espécie de duende que, nas palavras do morador, gosta de roubar coisas dos visitantes, porém a criatura se interessa por outra coisa que a garota perderia naquela noite. Isaac Esban não poupa da escatologia, mostrando uma criatura gosmenta e repulsiva. Tem bons momentos, apesar do elenco limitado.
Lo que Importa Es Lo de Adentro é o segmento mais pesado em seu visual e narrativa, realista e atual. Explora o mito “Bicho Papão” na visão de crianças, que na verdade é um pedófilo que rouba órgãos. Necrofilia, tráfico de órgãos, canibalismo, tudo mostrado sem pudores pelo diretor Lex Ortega.
Jorge Michel Grau é talvez o mais conhecido entre os diretores da antologia. Responsável pelo sensacional Somos lo que Hay, que ganhou um ótimo remake americano, Jorge Michel tem também um segmento em outra antologia, ABC da Morte. Em Muñecas, o diretor faz uma versão para a bizarra a Ilha das Bonecas, um lugar conhecido como Xochimilco, uma área repleta de misticismo e um visual aterrorizante. Jorge Michel Grau utiliza do ambiente mostrando a história de um psicopata que sequestra visitantes (sempre mulheres), para posteriormente, matá-las. O diretor prefere narrar uma história diferente da lenda local, onde um habitante da ilha era assombrado pelo espírito de uma menina que morreu afogada na ilha. Ele decidiu pendurar várias bonecas ao redor de sua casa para agradar e acalmar o espírito. Com o tempo as bonecas envelheceram e acabaram virando figuras macabras, servindo com atração turística. Visualmente muito interessante, o pecado do curta é que a história criada pelo diretor não se justifica com o ambiente.
Siete Veces Siete é o segmento de Ulises Guzman, quem tive o prazer de conhecer no Cinefantasy SP, em 2011, com a exibição de Alucardos, um sensacional documentário sobre Juan Lopez Moctezuma, diretor de Alucarda, um dos filmes mais importantes do gênero no México. Neste segmento, um homem desfigurado pratica um ritual de ressurreição com uma pessoa de seu passado. Muito bem realizado e enigmático, vemos uma interessante história de homem com um misterioso passado em busca de redenção, ou não.
Dia de Los Muertos fecha com chave de ouro a antologia. O segmento de Gigi Saul Guerreiro mostra uma noite em uma boate de strippers, onde as dançarinas, maquiadas com as tradicionais caveiras mexicanas, se vingam de seus clientes que a abusaram sexualmente. Uma sequência sensacional, com uma narrativa ágil e uma edição frenética durante a vingança das garotas.
Entre episódios sensacionais e outros irregulares, como é de se esperar de toda antologia, as adaptações de México Bárbaro partem da visão criativa dos diretores para as lendas e são apenas parte do que a cultura mexicana tem a oferecer. A iniciativa é ótima, e que venham mais antologias mexicanas.