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Tara Maldita
Original:The Bad Seed
Ano:1956•País:EUA
Direção:Mervyn LeRoy
Roteiro:John Lee Mahin, Maxwell Anderson, William March
Produção:Mervyn LeRoy
Elenco:Nancy Kelly, Patty McCormack, Henry Jones, Eileen Heckart, William Hopper, Paul Fix, Jesse White, Frank Cady

A banalização do tema “crianças assassinas” não permite hoje que as pessoas se incomodem em ver um grupo de crianças adorando o demônio de um milharal ou praticando atos insanos na comemoração do Natal. É tão comum como qualquer outro assassino em série, frio e torturador, ainda que vê-las sendo assassinadas possa causar um certo desconforto. Na década de 50, essa ousadia só poderia partir do cinema exploitation, com os video nasties ou produções experimentais. William March acabou com a inocência ao lançar em 1954 o livro The Bad Seed – lançado por aqui pela Darkside com o título Menina Má – sobre as ações insensíveis de uma garotinha de apenas 8 anos.

Escrita durante um de seus colapsos, a obra caiu como uma bomba atômica na família americana. Tornou-se um sucesso absoluto com a adaptação para o teatro de Maxwell Anderson, popularizando o texto original e conduzindo-o a uma inevitável versão para a tela grande. A peça teve 334 exibições, com boa parte do elenco sendo convidada para a produção cinematográfica, incluindo Nancy Kelly, vencedora do prêmio Tony por sua caracterização como a sofredora Christine Penmark (e pensar que Bette Davis até tentou o papel no cinema, e Alfred Hitchcock foi cogitado para dirigir).

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March não pode ver sua obra ganhar vida no comando de Mervyn LeRoy. Ainda mais imaginar que a história da terrível Rhoda poderia vir a ser um filmaço, indicado a várias estatuetas do Oscar, além do Globo de Ouro. Desenvolvido a partir de um roteiro de John Lee Mahin, Tara Maldita é bastante teatral: poucos personagens se cruzando a todo momento na sala da casa de Christine (Nancy Kelly), mãe de uma garotinha aparentemente normal, mas que esconde uma frieza assustadora. Mimada pela vizinha Monica Breedlove (Evelyn Varden), com inúmeros presentes e carinhos, Rhoda (excelentemente interpretado por Patty McCormack) é considerada madura e insensível, com talento para a leitura, escrita e música.

Enquanto a pequena participa de um piquenique, promovido pela escola de Claudia Fern (Joan Croydon), um menino morre afogado, com marcas suspeitas nas mãos e na cabeça. Algumas pessoas juram tê-la visto importunando o garoto por conta da medalha de caligrafia que ele ganhara em uma disputa, momentos antes de seu sumiço. Christine encontra o prêmio entre as coisas da menina e começa a desconfiar de suas atitudes, algo que se confirma depois que ela conversa com seu pai, Richard Bravo (Paul Fix), e confirma suas suspeitas de que fora adotada. Bravo era um famoso jornalista criminal, e estudou casos de assassinos em série terríveis, como a viúva negra Bessie, que matava maridos e familiares pelo valor do seguro.

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Na conversa dramática com o pai, Christine descobre que é filha biológica de Bessie, e que talvez possa ter transmitido como herança genética para Rhoda a maldade da avó. Ela desconfia ainda que a menina tenha contribuído para a morte de uma senhora, para adquirir um abajur, e que as solas de metal de seu sapato serviram para manter Claude embaixo d´água no píer do piquenique. Assombrada por essa maldição, Christine conhece mais detalhes sobre assassinos em série, principalmente com natureza infantil violenta, com o psiquiatra criminalista e amigo, Reginald ‘Reggie’ Tasker (Gage Clarke). Diante dessa realidade, o que uma mãe pode fazer? E como impedir que a menina continue matando, como aparenta estar próximo de cometer com o empregado Leroy (Henry Jones).

Grande parte dos diálogos do filme são idênticos ao do livro; assim como a sequência de muitas cenas. Contudo, como diferença há alguns personagens apenas citados na obra, mas que ganham destaque na tela: o sargento Kenneth Penmark (William Hopper), pai de Rhoda, visto em diversos momentos do filme; e o pai de Christine, Richard Bravo. Ambos são importantes porque permitem que o diálogo com a protagonista sirva para expor alguns de seus pensamentos que o leitor conhecia nas páginas. A Christine literária sofre a todo momento sozinha, sem ter com quem conversar, apenas o leitor e as cartas que escreve para o marido na guerra – e que jamais as envia.

No entanto, a diferença maior está na cena final. Depois de algumas exibições-teste em que o público não aprovou o final, o longa ganhou alguns minutos a mais do que acontece no livro e ainda um destino diferente para duas personagens. Essa alteração também serviu como marketing para o lançamento do filme, com os dizeres finais que pediam para o público não contar a ninguém o que acontecia – lembra dos movie gimmicks? É claro que essas mudanças estão relacionadas à época da produção, onde conclusões frias e pessimistas não eram muito bem aceitas aos padrões pré-determinados pela sociedade. Tanto que o tapinha no bumbum no final é uma prova de que era preciso fazer o espectador sair do cinema com um sorriso no rosto.

Mesmo com essa liberdade poética, o longa merece uma recomendação, como um dos precursores do subgênero das crianças malditas. Mesmo que seja para mais tarde bater no bumbum daquele pequeno ordinário…

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1 comentário

  1. Lendo sua crítica, agora está explicado, o final supostamente “feliz”, pois acho que o filme deveria ter terminado 10 minutos antes. Mas é um ótimo filme com excelentes atuações.

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