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Tattoo - Salve Sua Pele
Original:Tattoo
Ano:2002•País:Alemanha
Direção:Robert Schwentke
Roteiro:Robert Schwentke
Produção:Jan Hinter, Roman Kuhn
Elenco:August Diehl, Christian Redl, Nadeshda Brennicke, Johan Leysen, Fatih Cevikkollu, Monika Bleibtreu, Joe Bausch, Florian Panzner, Jasmin Schwiers

Salve sua pele!“. Esta expressão corriqueira, normalmente usada para recomendar que alguém fuja de um perigo iminente, nunca se encaixou tão bem num filme quanto em Tattoo, uma produção alemã de 2002. Recentemente lançada nas locadoras brasileiras, esta história sobre a caçada da polícia a um assassino, digamos, diferente, infelizmente enfrenta o limbo típico das produções desconhecidas, pouco divulgadas e comentadas. Pior: fica à sombra de outros filmes “dark” sobre serial killers, tipo os americanos SevenJogos Mortais. Por tudo isso, Tattoo é daqueles que você só vai pegar na mão quando não encontrar nada melhor na locadora – o que é uma tremenda injustiça. Mesmo que beba, sim, da fonte de clichês do gênero “caçada a serial killer“, esta produção obscura tem muitos pontos positivos e, definitivamente, não merece a poeira das prateleiras das locadoras…

Eu mesmo acabei pegando o filme por acaso. Nem o nome (já existe uma história de suspense com este título, feita nos anos 80 e lançada no Brasil como Tatuagem) nem a capinha sem atrativos me chamaram muito a atenção. Acabei fisgado pela sugestão do meu amigo balconista de locadora, que, apesar de ter me recomendado várias bombas dizendo que eram ótimos filmes (como Na Companhia do Medo), às vezes acerta uma. Num dia em que só havia Alone in the Dark e Hitch – Conselheiro Amoroso como boas opções (imagine as ruins!), ele me indicou Tattoo dizendo que era um filme forte, com algumas cenas bem sangrentas. Não pensei duas vezes! No mínimo, renderia uma crítica curtinha para o Boca do Inferno, avaliei. Antes, até perdi meu precioso tempo fazendo uma busca para ver o que falavam sobre Tattoo na Internet. Em páginas brasileiras, absolutamente nada, nem uma palavrinha extraoficial sobre o filme! Como sempre, bem informado o nosso povo brasileiro e a nossa imprensa verde-amarela! Tive que ver o filme às escuras, e minha surpresa foi inevitável: não era só mais uma versão picareta de Seven, mas uma trama com vida própria, interessante e incluindo algumas situações marcantes, daquelas que ficam na cabeça muito tempo depois de ver o filme.

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Tattoo lida com um tema tão original quanto bizarro: o serial killer em questão arranca a pele de suas vítimas, algo que não é lá muito original; mas não o faz por loucura e nem por algum trauma de infância desconhecido, como é comum no gênero, e sim por motivos bem, digamos, “normais“. Acontece que o roteiro deste filme alemão enfoca uma sinistra lenda urbana que alguns juram ser uma triste verdade: os comerciantes e colecionadores de tatuagens. E todos nós sabemos onde as tatuagens estão gravadas, não é? Supostamente, estes colecionadores comercializam pele humana tatuada como se fossem quadros comuns!!! No mundo maluco em que vivemos, onde tem até gente que se excita comendo excrementos, nem é de se duvidar que exista mesmo esse tipo de colecionador. E Tattoo faz a coisa parecer tão convincente que qualquer pessoa com uma bela tatuagem no corpo certamente vai começar a pensar na probabilidade de ela um dia acabar virando “peça de coleção“. hehehehe

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Muita gente acha que tatuagem é modismo, mas a arte de pintar o corpo é milenar. Já no Antigo Egito se usava esta técnica de introduzir pigmento na pele por perfuração, mais ou menos como nos moldes atuais – guardadas as devidas proporções, é claro. Arqueólogos já encontraram marcas de tatuagem em múmias com 4.000 anos de idade! Mas foi só por volta do ano 2.000 antes de Cristo que a tatuagem se difundiu pela Ásia, por países como China e Japão, onde se transformaria em um fortíssimo elemento cultural. É só reparar que, até os tempos modernos, os integrantes da máfia oriental – a Yakuza – tatuam dragões no corpo. Índios e piratas também tinham o costume de fazer tatuagens. Aos poucos, então, vamos voltando às nossas origens, decorando nossos corpos com tatuagens e perfurando-os com brincos e piercings, como índios “selvagens” já faziam há milhares de anos…

Normalmente, o cinema é um tanto preconceituoso ao enfocar este universo de tattoos e piercings. É comum os vilões ostentarem estas marcas, além de usarem drogas e roupas de couro. Em Tattoo, felizmente, a coisa não tem este olhar atrasadíssimo típico do cinema americano. O roteiro até enfoca, bem de leve, alguns dos excessos da geração atual, algumas técnicas mais radicais. É o caso da “body modification” (modificação corporal), representada por atitudes singelas como a de cortar a língua no meio para parecer uma língua de cobra ou lagarto, ou ainda serrar os dentes para que eles fiquem pontudos como os dos vampiros! Felizmente, estes detalhes são enfocados no filme com um mínimo de respeito e sem julgamentos, fugindo do clichê comum ao cinema americano de mostrar tatuados como desajustados.

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O tema é muito rico e interessante, além de cada vez mais atual. Por reportagens na TV, podemos perceber que esta onda de “retorno às culturas antigas” e modificação corporal já atingiu alguns extremos preocupantes. Recentemente, por exemplo, eu li reportagens sobre as chamadas “tatuagens tridimensionais“, que nada mais são do que chapas e bolinhas metálicas colocadas sob a pele para formar desenhos! Pode? Além disso, sabe-se que existem algumas “tribos” moderninhas, mais extremas, que gostam de testar os limites da dor corporal, fazendo a suspensão por meio de ganchos metálicos enfiados na carne, como naquela cena famosa do filme Um Homem Chamado Cavalo. Argh! Nos Estados Unidos, existe até um bizarro “Homem-Lagarto” que não só cortou a língua no meio, mas também tatuou escamas verdes pelo corpo inteiro para se transformar, literalmente, no réptil! E nem vou citar algumas técnicas mais bizarras, como aquela em que cicatrizes são produzidas “artificialmente” no corpo por meio de lacerações ou ferros quentes – e algumas pessoas acham isso bonito. Claro, gosto não se discute (só quando alguém diz gostar de House of the Dead)…

Em 1998, a geração tatuagens-piercings e seus excessos já tinha dado origem a um filme de suspense, só que americano e bem meia-boca. Dirigido e estrelado pelo roqueiro Dee Snider, Strangeland (lançado aqui como Mórbido Silêncio) ficava apenas nas boas intenções, ao narrar as peripécias de um freak (o próprio Snider) com obsessão por tatuagens, piercings e extrema dor física, que adorava torturar suas vítimas com agulhas e objetos pontudos sob a pele… Infelizmente, Snider exagerou ao escrever o roteiro e o resultado – que poderia ser algo interessante – virou uma cópia bagaceira e sem graça de Seven, valorizada apenas pela trilha sonora repleta de punk rock e hardcore (o que levou muita gente a idolatrar o filme apenas pelas músicas!!!). Feito apenas quatro anos depois de Mórbido Silêncio, Tattoo foi bem mais feliz ao retratar o mesmo universo, porém sem apelar para exageros, fetichismo e torturas baratas.

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A história já começa muito interessante, com o take de uma garota completamente nua, com piercings no rosto, chorando e cambaleando pelas ruas de Berlim, numa noite escura. Quando a câmera mostra suas costas, o espectador vê que uma grande área de sua pele foi arrancada. Infelizmente, não chegamos a descobrir muito sobre a moça, de onde veio ou para onde vai, porque um ônibus em alta velocidade a atinge em cheio antes de bater em outro veículo e explodir. Corta para o nome do filme e, com uma introdução tão poderosa, você já sabe que o que vem em seguida é no mínimo fora do convencional. Na cena seguinte, o filme nos transporta para uma interessante tomada aérea de uma rave clandestina, realizada no porão de um velho prédio de apartamentos. É ali que conhecemos nosso personagem principal: o jovem Marc Schrader (August Diehl, que no ano seguinte, 2003, apareceu em Anatomia 2). Ao ver aquele jovem seboso, de touquinha, dançando alucinado e consumindo ecstasy como se fosse bala de goma, o espectador imagina de tudo… menos que ele seja um jovem cadete da polícia!!! Isso mesmo: o “herói“, se é que podemos chamá-lo assim, não tem qualquer pretensão de seguir do lado correto da lei, apesar de este ser seu trabalho, e só aí o enredo já vai na contramão de 99% do que o cinema americano produz no gênero (onde os personagens sempre são íntegros e honestos, com raras e insignificantes manchas em seu currículo).

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A alegria dos jovens na rave é interrompida quando policiais entram para uma batida. Graças a uma ajudinha de sua amiga e colega de quarto, que é DJ no festerê, Schrader consegue escapar das garras do furioso policial responsável pela batida, o inspetor-chefe Minks (retratado de maneira amarga e mal-humorada por Christian Redl, que rouba o filme). Já na cena seguinte, num contraste bizarro, Schrader está todo feliz e seguro de si na festa de formatura da academia de polícia, ciente de que será transferido para algum departamento burocrático de processamento de dados, onde pode ganhar confortavelmente seu cheque de pagamento sem arriscar a pele (desculpe o trocadilho). Só que ele é abordado por Minks, que o reconhece como o jovem fujão da rave. De posse da jaqueta do cadete, onde ainda há dois comprimidos de ecstasy, o inspetor faz uma chantagem típica de policial de cinema: ou Schrader trabalha ao seu lado no departamento de homicídios, como parceiro para “assuntos especiais“, ou vai para a cadeia e é expulso da força policial. Desnecessário dizer que o jovem cede à chantagem. No caso, Minks quer Schrader como parceiro porque ele pode se infiltrar facilmente em raves e outros locais onde quem manda são os jovens, e onde ele, um policial linha-dura dos velhos tempos, não teria a menor chance de passar desapercebido. Preconceituoso, Minks vê os tatuados e excêntricos frequentadores destes inferninhos como desajustados e dementes.

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O primeiro caso da dupla, claro, é o do corpo da moça atropelada na primeira cena do filme, que está parcialmente carbonizado. Primeiro, os policiais descobrem que falta um bom pedaço de pele no cadáver; depois, percebem que a língua da vítima está cortada ao meio, denunciando que ela é uma adepta das técnicas radicais de “modificação corporal” (“Nunca pensei que seria possível identificar alguém pela língua”, brinca o médico-legista). Mas a melhor descoberta vem no final: o legista encontrou, no estômago do cadáver, um dedo decepado, provavelmente pertencente à pessoa de quem a vítima fugia. Isso mesmo: antes de sair correndo pelada pelas ruas de Berlim, ela mordeu, decepou e engoliu o dedo de seu agressor, permitindo que a polícia identifique as impressões digitais do criminoso! Já está criativo o suficiente ou você ainda quer mais? Não demora para os policiais descobrirem que a moça queimada é Lynn Wilson (Christiane Scheda), uma americana de Nova York que mudou-se para a Alemanha há alguns anos. Já o “proprietário” do dedo decepado eles descobrem ser um célebre molestador de crianças chamado Günzel (Joe Bausch), que está em liberdade condicional. Quando a dupla revista o apartamento da morta, entra em cena a gatíssima Maya Kroner (Nadeshda Brennicke), que vem a ser uma velha amiga americana de Lynn. É ela quem introduz Minks e Schrader no universo underground das tatuagens e tatuadores. E é quando ficamos sabendo que são as tatuagens a relação entre o serial killer e suas vítimas.

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Logo, a polícia dá uma batida na casa de Günzel, apenas para encontrar o porão forrado com plástico preto e restos de sangue e carne humana. Ali também encontram um sinistro artefato: uma grande tira de pele humana, com uma bela tatuagem em estilo oriental, que foi arrancada das costas de Lynn. Seguindo seu faro de detetive, Minks cava no quintal e descobre vários outros cadáveres nas mesmas condições, faltando um pedaço ou outro de pele, e em variadas condições de decomposição, comprovando que Günzel vem se dedicando ao hábito pouco comum há um bom tempo… Mas as investigações ainda estão na estaca zero quando Schrader, num lance de sorte, cruza com um viciado em heroína ferido na estação de metrô. O chapadão tem um curativo mal-feito sobre um grande corte na barriga e, ao ser “interrogado” de maneira bem pouco convencional pelo jovem policial, explica que simplesmente “vendeu” uma de suas tatuagens para poder comprar drogas. No caso, o viciado combinou com um comprador, fez uma cirurgia para a retirada da pele tatuada e saiu com a grana para gastar – que nem os malucos que vendem sangue e até um dos rins no desespero para faturar um dinheirinho!!!!

Surpreso e ao mesmo tempo enojado com tal comércio, Schrader chega ao negociador destas estranhas “obras de arte“, um advogado inescrupuloso chamado Frank Schoubya (Johan Leysen), ele próprio um grande colecionador de pele tatuada, que tem um mórbido museu em sua casa onde expõe pedaços de gente como se fossem, realmente, pinturas. Utilizando as informações do advogado e da própria Maya – com quem Schrader inevitavelmente se envolve -, a dupla de policiais chega a um sinistro mercado negro de pele humana, realizado de forma secreta pela Internet. E descobrem, também, que o interesse do bizarro assassino à solta é “colecionar” 12 raríssimas tatuagens feitas por um falecido e renomado tatuador oriental, e que seriam as únicas reproduções de obras de arte dos séculos 17 e 18. Nem precisa dizer que o criminoso não se preocupa muito com o fato de suas “telas” estarem pintadas em pessoas ainda vivas, não é mesmo?

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Tattoo parte de uma história simples (a já batida caçada ao serial killer bizarro da vez) e poderia muito bem ficar na mesma média de tantas produções parecidas lançadas nos últimos anos, onde só muda a motivação e o modus operandi criativo do assassino, como Ressurreição – Retalhos de um Crime, Cálculo Mortal, O Observador e outras que nem merecem ser citadas. Mas a boa notícia é que este filme alemão surpreende a cada minuto. A identidade do assassino fica um tanto óbvia desde o início (mesmo para quem não é lá muito observador), mas o mais importante nesta história não é descobrir quem é que está por trás de tudo, e sim como a polícia chegará ao culpado – isso se chegar! Além disso, Tattoo brinca o tempo todo com as expectativas do espectador, ao lançar uma série de reviravoltas na meia hora final, algumas realmente inesperadas. Uma delas é a trama paralela envolvendo um trauma do passado do inspetor Minks, que busca obsessivamente pela sua filha desaparecida. Este, por sinal, é um dos motivos para ele recrutar o jovem Schrader como seu parceiro: ele espera que o rapaz, frequentador assíduo de raves e do “submundo“, tenha contatos para encontrar pistas que levem à sua desaparecida filha, que fugiu de casa justamente para viver neste submundo.

Tudo bem que muitas cenas lembram Seven, e talvez a referência até seja proposital. Há, por exemplo, uma recriação do momento em que o herói encontra pedaços de uma pessoa querida deixados pelo assassino para enfurecê-lo, como também acontecia no filme de David Fincher. E há, claro, as eventuais pistas falsas que complicam a trama. Mas o roteiro de Tattoo é ligeiramente mais fora do convencional, a começar pela sua dupla de heróis, que poderia muito bem ser encarada como uma versão hardcore dos personagens de Morgan Freeman e Brad Pitt em Seven. Enquanto no conhecido filme americano de 1995 Pitt interpretava um jovem policial honesto e competente, e Freeman um policial veterano com seu próprio código de honra e aversão à violência, a dupla Minks e Schrader, de Tattoo, é completamente oposta: Minks é o veterano com seu próprio código de honra, mas que adora usar métodos pouco ortodoxos para resolver os casos, como entrar sem permissão em qualquer lugar e ameaçar testemunhas na base do sopapo; já Schrader é o jovem mais marginal do que policial, que não quer nem saber de manter a lei e a ordem e praticamente faz tudo errado, do começo ao fim do filme (isso que ele é o herói da trama!).

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Continuando a série de “anti-clichês“, vale dizer que, ao contrário do herói ganhar o dia fazendo um megaplano para agarrar o assassino, ele na verdade põe tudo a perder amadoristicamente (algo totalmente “anti-Hollywood“). Os policiais acabam descobrindo as coisas quase sempre por acaso, e não por mérito próprio, outro detalhe muito “anti-heróico“, porém bem mais realista. E esqueça aquele negócio de “super-tira” típico dos filmes americanos, onde os heróis fazem malabarismos para perseguir o assassino ou se envolvem em grandes e emocionantes tiroteios – isso não existe aqui! Para completar, muita gente vai ficar espantada com o fato da descoberta da identidade do assassino não ser feita pelo herói, e sim por um personagem secundário de pouca ou nenhuma importância na trama, que ainda esfrega sua façanha na cara do mocinho, como se dissesse: “Viu, idiota? Isso estava na sua cara o tempo todo e você não percebeu!“. Incrível e muito, mas muito inesperado!

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Os méritos são todos do diretor e roteirista Robert Schwentke, um nome que merece ser acompanhado com mais atenção daqui pra frente. Ele dá mais destaque para a personalidade da sua dupla de heróis do que para os próprios crimes do psicopata (que eram a grande atração, por exemplo, em Seven). É impossível não simpatizar com o drama do amargurado Minks, que vive uma eterna depressão por ter perdido a esposa num acidente de carro. E que procura, incansavelmente, pela filha desaparecida. Noite após noite, o veterano policial vai para as ruas abordar garotas que se pareçam com a filha, fazendo com que o espectador se compadeça do sofrimento do homem da lei. O próprio destino do personagem é uma das surpresas que a trama de Tattoo reserva ao espectador. Ao contrário de outros diretores estreantes no gênero, Schwentke também não se rende a modernismos estéticos típicos de publicitários estreando no cinema, embora use alguma câmera lenta e a tradicional cena onde a câmera vira 180º em alta velocidade – algo que já está virando clichê.

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Para os fãs de sangue e violência, Tattoo talvez fique aquém da expectativa no tocante à realização dos crimes. Nunca vemos uma pessoa sendo morta on-screen (com exceção da garota atropelada no início). Em compensação, a câmera de Schwentke não poupa o estômago do espectador de vários detalhes gráficos das vítimas “pós-crime“, com efeitos bem sangrentos e realistas mostrando cadáveres com a pele arrancada, a necropsia de corpos parcialmente decompostos e até o resultado bastante gráfico de um tiro na cabeça de um infeliz. São imagens fortes que remetem aos bons filmes do gênero e que não escondem sua tentativa de chocar o espectador de qualquer jeito. Os mais sensíveis certamente vão se arrepiar, mas ainda considero que o toque mais sádico do filme é a macabra sala de “obras de arte”, com as enormes tiras de pele tatuada exibidas como se fosse um museu comum!

Como DVD nacional não vem com extras, é preciso pescar informações sobre os bastidores na Internet. Uma das curiosidades é que estas tiras de pele tatuada foram feitas com couro de ovelha – e ainda assim parecem surpreendentemente reais. Só de imaginar que algo como um museu de pele humana possa existir já arrepia, e é especialmente irônica a cena em que Schrader encontra, na Internet, as “listas de preços” de tatuagens, com fotos de futuras vítimas acorrentadas exibindo suas “pinturas corporais“. Este é um outro ponto sagaz e criativo do roteiro de Tattoo: o filme não retrata seu serial killer como um vilão necessariamente louco, traumatizado ou afetado, mas sim como uma pessoa comum, inteligente e perspicaz, cujo único defeito é ter o hábito amoral de colecionar pele humana tatuada, e sem paciência para esperar que seus “proprietários” morram.

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Chegando ao Brasil com três anos de atraso (pelo menos chegou!), Tattoo ganhou, neste tempo todo, menção especial em vários festivais de cinema fantástico da Europa, como o European Film Fantasy e o German Camera Award. O elenco de desconhecidos é esforçado e a interação entre os personagens é convincente – principalmente o relacionamento entre Minks e Schrader. Para quem gosta de cinema de boa qualidade, o filme ainda reserva algumas cenas bem interessantes fora do esquema “sangue-violência“, especialmente aquela em que Maya revela ter o corpo repleto de tatuagens. Para mostrá-lo a Schrader, ela simplesmente vai para a chuva usando um fino vestido branco – que logo fica transparente, revelando não só as belas curvas da gostosona, mas também as tatuagens que cobrem seu lindo corpo. Este talvez ainda não seja o filme definitivo sobre o universo de tatuagens, piercings e outras formas de modificação corporal. Mas sabendo da forma convencional e preconceituosa como o cinema americano olha para estas culturas modernas, é um alívio ver que Tattoo pelo menos trata o tema sem enfocar os personagens tatuados como pervertidos ou malucos.

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Tattoo não é uma nova obra-prima do cinema, apenas uma produção muito divertida e bem diferente da média, em um gênero (o dos “serial killers criativos“) já bastante desgastado depois de tantos filmes, cópias e imitações. Mas com certeza vale muito mais que certos lixos produzidos pelo cinema americano às dúzias, e por isso é uma pena que vá terminar seus dias entre outras produções desconhecidas nas prateleiras das locadoras. Assim, na próxima vez que você for procurar algo para ver, deixe na estante bobagens da terra do Tio Sam e dê uma chance aos alemães e sua bizarra coleção de pele humana tatuada. Sempre é bom ver como ainda há muitas histórias inteligentes e interessantes para contar!

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1 comentário

  1. tudo que eu queria era assistir de novo esse filme e poder baixar ele e ter comigo para assistir quando quiser!

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