A Chegada
Original:Arrival
Ano:2016•País:EUA Direção:Denis Villeneuve Roteiro:Eric Heisserer, Ted Chiang Produção: Elenco:Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg, Mark O'Brien, Tzi Ma, Abigail Pniowsky, Julia Scarlett Dan |
Em 1997, a Dra. Ellie Arroway, uma inspirada Jodie Foster, descobre uma maneira de contactar uma misteriosa força alienígena que a ajuda a não somente desvendar os segredos do Universo como também a se tornar uma pessoa melhor. Cética e absolutamente sem fé, ela faz uma viagem de auto-conhecimento, muito além da exploração de vida inteligente no espaço sideral. O longa A Chegada, de Denis Villeneuve, que chegou aos cinemas brasileiros em 24 de novembro de 2016, trata das mesmas questões e ainda impõe outras, permitindo a reflexão sobre atitudes e a importância da comunicação.
A linguista Louise Banks (Amy Adams, de Batman Vs Superman, 2016) é atormentada por uma triste visão em que aparece cuidando de uma bebê até ela se tornar adolescente e morrer de cancer, em seus braços. Em um dia como qualquer outro em que ela pretendia simplesmente exercer sua função como professora universitária – e explicar a dificuldade em estudar a língua portuguesa -, o mundo está extasiado com a chegada de gigantescas naves em pontos estratégicos do planeta. Enquanto todos observam o fenômeno como algo extraordinário, ela segue sua rotina normal, caminhando até seu carro e se dirigindo para casa. Dias depois, solitária no emprego, ela recebe a visita do Coronel Weber (Forest Whitaker, de Rogue One, 2016), pedindo que ela auxilie uma equipe de comunicação com os seres de outro planeta, em Montana, em companhia do físico Ian Donnelly (Jeremy Renner, de Vingadores – Era de Ultron, 2015).
As naves imensas, em formato ovoide, são isoladas da população mundial, enquanto líderes de diversas nações discutem as estratégias que serão tomadas, incluindo um ataque que impeça a destruição da humanidade. Como é costume em produções similares, as pessoas começam a enlouquecer, seja para saques em supermercados ou para promover suicídio em massa e causar revoltas e quebra-quebra. A solução seria definir as intenções alienígenas o quanto antes! Louise, Ian e outros especialistas entram no espaço aberto da nave para tentar dialogar com os extra-terrestres, através de uma parede de vidro. As duas criaturas que comandam a nave – apelidadas de maneira criativa como Abbott e Costello, em referência aos humoristas clássicos – enviam símbolos como meio de comunicação, exigindo uma atenção especial para seu significado.
Louise acredita que o diálogo deve iniciar dos primeiros sinais de alfabetição, ensinando os seres a entender os nomes humanos e ações simples como andar, mesmo a contragosto dos comandantes americanos. Quando ela interpreta um símbolo como “arma“, os chineses, apoiados por outros líderes, dão início ao procedimento de guerra. Caberá à especialista, descobrir o que realmente querem os alienígenas e entender qual a relação de tudo isso com as visões que continua tendo.
Com efeitos visuais adequados para a proposta, como na concepção dos alienígenas heptapodes, o roteiro de Eric Heisserer (Quando as Luzes se Apagam, 2016) conduz o espectador a reflexões interessantes – muitas delas não podem ser expostas por serem spoilers gravíssimos. O que é mais interessante é o modo como a comunicação se estabelece entre as raças, podendo levar o trabalho para ampla discussão em aulas de linguísticas. É claro que tudo funciona de forma conveniente para o trabalho do diretor de Os Suspeitos (2013), permitindo algumas coincidências narrativas típicas do cinemão americano, mas como produto final é bem curioso.
Se Amy Adams está um pouco distante de Jodie Foster no carisma e interpretação, seus personagens nutrem uma bagagem dramática similar, ainda que tenham convicções diferentes. E é exatamente esse melodrama que pode incomodar os fãs de uma ficção científica mais agressiva, com alienígenas destruindo a América com suas armas a laser. Não há ondas gigantes, nem pessoas sendo desintegradas por monstros de borracha. A Chegada é envolto em simbolismo, traçando paralelos com o nascimento de um bebê e o modo de encarar essa nova realidade. Mas, tem uma força inteligente através da discussão sobre semântica, interpretação visual e comunicação. Como fruto dessa área, eu não poderia menosprezar um conteúdo tão interessante e reflexivo!
Gosto muito do trabalho de Villeneuve, mas não gostei do final desse filme. Prefiro muito mais CONTATO, de Zemeckis.