Maus (2017)

3
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Maus
Original:The Maus
Ano:2017•País:Espanha
Direção:Yayo Herrero
Roteiro:Yayo Herrero
Produção:Enrique López Lavigne
Elenco:August Wittgenstein, Alma Terzic, Ella Jazz, Sanin Milavic, Aleksandar Seksan

Os efeitos da guerra são psicologicamente desastrosos. Além do corpo muitas vezes mutilado, a consciência retorna destruída, herdando pesadelos que repetem emoções vívidas, uma sensação constante de perseguição e uma variável loucura. Um dos maiores representantes dessa fuga do inferno é o excelente Alucinações do Passado, de Adrian Lyne, que apresenta cenas perturbadoras relacionadas ao pós-guerra, imergindo o espectador num espiral de horror e medo. O espanhol Maus, de Yayo Herrero, exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de SP, dialoga com a paranoia e as consequências de uma experiência similar ao transformar uma personagem aterrorizada num frio espectro da violência, embora não consiga se encontrar na escuridão de um abrigo.

Selma (a belíssima Alma Terzic) é uma muçulmana sobrevivente da Guerra da Bósnia, conflito bélico ocorrido na década de 90. Perdeu muitos parentes, mortos pelos sérvios, cujos corpos somente foram encontrados anos mais tarde, após uma enchente na região. Ela e o namorado alemão Alex (August Wittgenstein) estão presos numa região florestal da Bósnia, devido a um problema no eixo do veículo, atolado na lama, quando pretendiam chegar ao aeroporto e retornar para Berlin. Na cena inicial, a garota está agarrando com veemência seu amuleto “hamajlija“, pedindo a proteção de Ya Hafizu, uma Guardiã espiritual. Assustada pelo ambiente considerado hostil, ela é frequentemente tranquilizada por Alex, que acredita que conseguirão atravessar a floresta sem maiores problemas até o vilarejo mais próximo.

No caminho, a garota anuncia a todo momento que estão sendo observados, e que viu algo se escondendo numa neblina. Ao encontrar um veículo abandonado, com utensílios como uma faca de caça e cordas, Selma implora para continuarem o percurso, mas o insistente Alex não só mexe no carro como aciona um walkie talkie, ainda que não entenda o que está sendo dito por não conhecer a língua bósnia. A situação se complica quando surgem dois homens, Milos (Sanin Milavic) e Vuk (Aleksandar Seksan), sérvios que estariam na região desativando minas terrestres. Uma delas é acionada pelo cachorro Bobby, e a primeira visão atormenta Selma: ela é estuprada por Vuk, sem que Alex apareça para salvá-la.

Os estranhos sugerem que a dupla vá com eles até um abrigo para cuidar dos ferimentos de Selma, mas a garota desconfia que possa ser uma armadilha. Mais pesadelos e cenas absolutamente escuras intrigarão o público reforçando os temores da jovem, assombrada pelo enterro coletivo de seus parentes e por uma entidade feminina que parece acompanhá-los durante a jornada.

Apesar do contexto interessante, lembrando o drama de guerra de Angelina Jolie, Na Terra de Amor e Ódio, e que também conta com a atriz Alma Terzic, Maus peca por não explorar a ambientação adequadamente – o enquadramento de Herrero na nuca dos personagens não se justifica -, nem o suspense claustrofóbico, e ainda repete algumas cenas de maneira incômoda. Faz referência também aos Djins, quando a entidade, envolta pela escuridão, aparece para incentivar a loucura da protagonista. A beleza angelical de Selma, mostrada no close de seu rosto e olhos claros no começo, vai aos poucos se apagando pelas sujeira e sangue, combinando com sua postura cada vez mais agressiva. Já Alex, apelidado de “Europa” pelos sujeitos, não consegue a empatia do público em suas decisões equivocadas, tanto que seu desaparecimento nas cenas-chave beneficia o enredo ao invés de permitir a preocupação do espectador.

Orçado em pouco mais de 2000 euros, o longa teve uma passagem discreta pelo Fantastic Fest, em 22 de setembro. Trata-se de um bom thriller com sedução sobrenatural, sem aprofundamento nos aspectos que poderiam deixá-lo mais forte e envolvente.

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Média da classificação 3 / 5. Número de votos: 5

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

10 thoughts on “Maus (2017)

  • 05/12/2020 em 14:05
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    Nos comentários dizem que o filme não faz sentido, mas realmente não fará sentido para uma pessoa leiga sobre a Guerra De Bósnia. Antes de fazer uma crítica sobre o filme tenha base e bom conhecimento sobre o assunto tratado.

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  • 26/08/2020 em 03:26
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    [COMENTÁRIO COM SPOILERS]

    A verdade é que ela tem alucinações pelo ocorrido na guerra, nada durante o filme aconteceu de verdade. Só mostra a loucura dela, o que aconteceu de fato, foi ela querer metralhar todo mundo na cena final, no parque.

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    • 05/12/2020 em 14:03
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      Exatamente, estou estudando sobre a Europa e a professora passou esse filme para fazemos uma resenha crítica/argumentativa.

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  • 24/03/2020 em 02:46
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    Acabei de perder meu tempo ao assistir a esse filme péssimo.
    Muito ruim mesmo!!!!
    Resumo:
    1- Não assista.
    2 – Uma casal se perde numa floresta e aí o namorado larga a namorada no meio do Mato para ir procurar ajuda ?
    Aí 2 caras aparecem e um a estupra. No ato ela acaba desmaiando e quando acorda, o idiota do namorado dela apresenta os dois perigos como pessoas que ajudariam. Ela avisa que estão em perigo e que é melhor ir embora e ele diz que sabe o que faz, então dá um monte de merda, ela resolve tudo SOZINHA, enquanto ele fica desmaiado quase o filme todo. No final ela explode numa mina e ele fica vivo no final, mesmo sendo um frouxo inútil.

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    • 24/06/2020 em 05:10
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      Kkkkkkkkkkk foi isso msm, e no final ela reaparece dando tiro com uma metralhadora num parque, uma perda de tempo total, tentaram botar um ar sobrenatural com aquela figura feminina q tbm n serviu pra nada, eu achei MT bosta

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  • 14/07/2019 em 08:56
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    NÂo entendi bulhufas,o filme empolga no começo mais durante as cenas seguintes fica cansativo,sem surpresa nenhuma,o final nao entendi nada,realmente uma bosta nao recomendo que percam seu tempo com isso aff

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  • 29/03/2019 em 01:11
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    A atriz faz com que a gente sinta realmente a tensão de estar ali,ela foi demais! Eu confesso que não entendi o final, ficou faltando o desfecho …não se sabe o que aconteceu com ela…e a última cena eu definitivamente não entendi nada rsrs mas gostei do filme,só queria uma explicação para entender o que o diretor quis dizer no final .

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    • 28/05/2020 em 11:07
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      Filme chato, repetitivo e muito chato. Já falei chato?
      O filme desenvolve de forma ruim e todos parecem ter atitudes sem noção. Parceiro da vítima, junto com ela, resolve procurar ajuda a deixando na floresta. Fala sério! E faz papel de bobalhão no meio de dois caras que não parecem nada hostis.
      O filme poderia ter apenas 45 minutos, mas prolonga por 90 e poucos numa chatice sem fim. Você fica feliz com o final, não com desfecho, que por sinal é ruim, mas pelo fato de ter acabado o filme mesmo.

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  • 30/12/2018 em 18:24
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    Penso que o filme acaba por ser um pouco forçado… Sem grandes surpresas.. Achei também algumas ações seguintes bastante previsíveis.

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  • 21/08/2018 em 00:17
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    Um filme fraco! E uma correçao: a atriz não é essa beleza toda não!

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