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Cadáver
Original:The Possession of Hannah Grace
Ano:2018•País:EUA
Direção:Diederik Van Rooijen
Roteiro:Brian Sieve
Produção:Todd Garner, Sean Robins
Elenco:Shay Mitchell, Grey Damon, Kirby Johnson, Nick Thune, Louis Herthum, Stana Katic, Jacob Ming-Trent, James A. Watson Jr., Marianne Bayard

A proposta era até viável. Trabalhar no turno da madrugada em um grande hospital de Boston parecia uma maneira bem tranquila para um recomeço. Se você não sente repulsa de sangue ou cadáveres e precisa da solidão para reorganizar seus pensamentos após um episódio traumático, é provável que o emprego como receptor de corpos não seja assim tão complicado. Isso se o cinema de horror não tiver sido alimentado por exemplares que mostram o quão assustador um ambiente envolto por cadáveres pode ser. Dentre os mais recentes, é impossível não lembrar de A Autópsia (The Autopsy of Jane Doe, 2016), aquele conto sobrenatural sobre dois homens que precisam cuidar de um corpo amaldiçoado. Aliás, não é exagero dizer que o longa do holandês Diederik Van Rooijen, Cadáver (The Possession of Hannah Grace), que chegou aos cinemas brasileiros na semana passada, tem um grau de parentesco muito próximo do trabalho de André Øvredal, com base apenas no argumento principal. A diferença está exatamente na proposta. Se o corpo de Jane Doe havia sido exposto em uma condição extremamente claustrofóbica, com apenas dois personagens na maior parte do tempo diante de um Mal absoluto, o de Hannah propõe uma dimensão maior, com mais possibilidades, além de envolver o subgênero do exorcismo e possessão demoníaca.

Se o título original já era bastante explicativo e óbvio, o longa não perde tempo em mostrar a que veio. Hannah Grace (Kirby Johnson) está presa a uma cama, sendo exorcizada por dois padres, Marcato (Gijs Scholten van Aschat) e Cunningham (Guy Clemens), sob a observação do pai da garota (Louis Herthum). Após a morte de um deles, quando o demônio que ocupa a jovem demonstra seu poder de crucificação no ar – e que será utilizado por diversas vezes -, a possuída é sufocada pelo próprio pai e, aparentemente, morta. Três meses depois, Megan (Shay Mitchell, de Pretty Little Liars) está prestes a iniciar um novo emprego. Ex-policial, afastada depois de ocasionar a morte de um parceiro, sofrendo de ansiedade, ela é indicada pela amiga Lisa (Stana Katic) a tentar uma vaga no necrotério de um hospital.

Logo nos primeiros dias da nova profissão, ela recebe o cadáver de uma Jane Doe, encontrada pela polícia, enquanto era mutilada por um desconhecido. Com problemas na aparelhagem de foto e registro, ela descobre, pelas digitais, que a morta sofreu um exorcismo meses atrás, e seu corpo foi dado como desaparecido. É só o primeiro movimento de um pesadelo que irá acompanhá-la madrugada adentro, quando o corpo começar a se recompor e fazer vítimas no local, assombrando também os seguranças, Dave (Maximillian McNamara) e Ernie (Jacob Ming-Trent), um simpático paramédico, Randy (Nick Thune), e seu ex-namorado, Andrew (Grey Damon). A necessidade de fazer vítimas é uma das ideias do enredo insano de Brian Sieve (da série Scream), que deixa de lado o horror psicológico do segundo ato para uma correria, uma possuída que anda pelas paredes e se locomove, aos estalos, como um fantasma oriental.

Pela experiência como policial, Megan nunca aparenta ser uma garota indefesa. Luta, enfrenta os perigos com coragem e ainda conta com a sorte, já apresentando traços do que acontecerá no último ato. Depois do começo comum ao subgênero dos exorcismos, Sieve tenta se esquivar de qualquer referência ao dar à vilã poderes e possibilidades – nada que surpreenda. Contudo, a principal falha está na aceleração de seu final, uma facilitação do roteiro para que tudo se encaixe como o previsto, ignorando o clímax.

Contando com um bom elenco, incluindo até mesmo o alívio cômico Dave, Van Rooijen faz um trabalho interessante. Comanda de maneira segura e faz alguns acertos principalmente na cena mais tensa, quando Megan fica presa numa gaveta de corpos, sendo observada por outros mortos. Também merece menção a sequência de perseguição a uma das vítimas até o telhado do hospital, com a “demônio-aranha” em seu encalço, e a que apresenta um frame de uma câmera de segurança. São bons momentos que perdem força nas que envolve o crematório, sempre resultando em efeitos razoáveis e uma edição acelerada dos acontecimentos.

Dentre as estreias de dezembro até o momento (Parque do Inferno, Cadáver e O Chamado do Mal), o melhor ainda é, sem dúvida, A Mata Negra, de Rodrigo Aragão, que está chegando hoje aos cinemas e merece o seu prestígio. Vale a pena conhecer essa maldição rural ao invés de apostar em obras que insistem em copiar outras produções, demonstrando, sobretudo, falta de personalidade. Cadáver é até bonzinho, mas se envereda por velhos estilos, mortos e enterrados.

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