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Hellboy
Original:Hellboy
Ano:2019•País:EUA, UK, Bulgária
Direção:Neil Marshall
Roteiro:Andrew Cosby
Produção:Lawrence Gordon, Carl Hampe, Lloyd Levin, Mike Richardson, John Thompson, Les Weldon, Philip Westgren
Elenco:David Harbour, Milla Jovovich, Ian McShane, Brian Gleeson, Ana Tabakova, Penelope Mitchell, David Harbour, Mark Stanley, Mario de la Rosa, Atanas Srebrev

Durante um bom tempo falou-se sobre um terceiro filme da franquia Hellboy. Mesmo que o segundo, Hellboy II: O Exército Dourado, não tenha feito o mesmo sucesso do anterior, com uma bilheteria americana que não pagou o investimento, del Toro sempre ouvia nas entrevistas perguntas sobre a volta do herói demoníaco. Em janeiro de 2017, o cineasta abriu um poll em seu twitter para saber se haveria o interesse na realização de um novo filme, e a interação mostrou que mais de 100 mil espectadores gostariam de ver mais uma vez Ron Perlman caracterizado como Hellboy e sendo dirigido por Guillermo del Toro. A partir do que o público escolheu, o diretor prometeu um encontro com o ator protagonista e o criador do personagem, Mike Mignola, para discutir o projeto. Como uma das partes não concordou em ver uma nova aventura infernal, del Toro informou em sua rede social que não havia a menor possibilidade de ele trazer o herói de volta. Com a insistência do estúdio e a negação de Perlman, que só voltaria à maquiagem com o envolvimento do cineasta, o novo filme passou de continuação para reboot, surgindo, então, o Hellboy de Neil Marshall.

Adquirindo notoriedade pela filmografia inicialmente sensacional – Cães de Caça, Abismo do Medo, Juízo Final -, Marshall ainda faria Centurião e dirigiria diversos episódios de séries importantes como Game of Thrones, Constantine, Hannibal e Westworld até volta à direção de longas, justamente com Hellboy. A partir de um roteiro de Andrew Cosby, o longa estreou nos cinemas entre abril e maio e foi um grandioso fracasso. Com um orçamento estimado em 50 milhões – só para constar, o segundo custou 85 e conseguiu se pagar nos lançamentos pelo mundo -, Hellboy já praticamente abandonou os cinemas com um um valor adquirido que não chega à casa dos 40. Além de um box office vergonhoso, o novo Hellboy recebeu muitas críticas negativas, o que deve provavelmente enterrar as possibilidades de uma continuação, e, talvez, o próprio personagem na tela grande.

Mas, será que o diabo é tão feio quanto pintam? Infelizmente, sim. Sem carisma, com um humor de quinta-série, o reboot apresenta falhas em praticamente todos os aspectos técnicos: efeitos especiais extremamente digitais ainda que tenha muitas cenas sangrentas, roteiro irritante e antagonista pouco ameaçadora compõem um trabalho aparentemente feito às pressas e com muita má vontade. Se existe algo positivo no filme, pode-se mencionar a violência (algo sutil nos filmes do del toro) e a trilha sonora, que já era evidente desde o trailer. Talvez todo o resultado poderia surtir um efeito melhor em um curta-metragem, como um experimento em vez de expor um Hellboy turbinado.

O enredo começa com a apresentação da vilã, Nimue (Milla Jovovich), a Rainha Sangrenta, em seu último suspiro na Idade das Trevas. Depois de lançar uma praga sobre a Inglaterra, cabe ao famoso Rei Arthur (“sim, aquele Rei Arthur“), interpretado por Mark Stanley, usar sua Excalibur para desmembrá-la e espalhar pelo país as partes de seu corpo, com a ajuda de seus fiéis escudeiros. Nos dias atuais, o popular Hellboy (David Harbour) – este não vive nas sombras, sendo já mundialmente conhecido – está em uma missão no México, contra um clã de vampiros, tendo que enfrentar nos ringues de luta livre o agente da B.P.R.D. desaparecido Esteban Ruiz (Mario de la Rosa), que antes de morrer anuncia que o fim está próximo e blá blá blá.

Em sua segunda missão, Hellboy é convocado pelo líder da empresa de busca sobrenatural, seu pai adotivo professor Broom (Ian McShane), para ajudar o clube Osiris a enfrentar três gigantes. Antes de ser traído pelos sócios e descobrir que o objetivo era eliminá-lo, uma vez que as profecias indicam que Hellboy comandará o fim dos tempos, o herói vermelho descobre que seu “nascimento” aconteceu durante o experimento nazista Ragnarok – algo também visto no filme original, mas sem a necessidade do professor se esconder ou fechar o portal. Curiosamente, durante o confronto com os gigantes, naqueles efeitos digitais incômodos, Hellboy foi intensamente ferido, o que, no filme de del Toro, já iria resultar em sua morte. Esta versão traz um herói mais resistente e imortal.

E a vilã?, você poderia perguntar. Amaldiçoado a andar como um porco, Gruagach (Stephen Graham) é aconselhado pela famosa bruxa Baba Yaga (Troy James) sobre o restabelecimento da Rainha Sangrenta e que ela poderá ajudá-lo a voltar à sua condição normal. Enquanto o porco age em sua missão de juntar as partes da bruxa, o que resulta num humor constrangedor envolvendo-a no momento em que ela assiste a TV, Hellboy é salvo pela jovem médium Alice Monaghan (Sasha Lane), que tem o poder de permitir que pessoas mortas se comuniquem, em um efeito exageradamente bobo em que a garota vomita a alma do fantasma, como um gênio da lâmpada – é ver para crer. Ela se unirá a Hellboy e, contando com o agente Ben Daimio (Daniel Dae Kim), que, na verdade, também quer matar o herói, formando um grupo contra o ressurgimento da Rainha, fato que não precisa de muito esforço para prever como acontecerá.

Toda essa mistura, que ainda inclui a participação do Mago Merlin (Brian Gleeson) e o encontro com a espada do Rei Arthur, deixa evidente que o roteiro estava tentando atirar para todos os lados. Se nos filmes originais Hellboy era o mais próximo do que se pode imaginar de um demônio no confronto com criaturas obscuras, nesta nova versão transparece a impressão que a qualquer momento irão aparecer trolls, gnomos e até a Sininho. Em outras palavras, a agressividade nos confrontos violentos, entre corpos despedaçados em explosões sangrentas, camufla um filme do gênero fantasia, com diversos personagens do cenário literário pop. Ainda que as HQs possam ter esse tom, há uma diferença muito evidente em relação à imagem que o público adquiriu com os primeiros filmes: cadê os gatos, o charuto e a extravagância de um anti-herói?

Em contrapartida, alguns nomes no elenco estão bem, como o próprio David Harbour, um rosto com características próximas de Perlman. Embora demonstre também sua condição mal humorada, ele também está com um aspecto assustador (uma carranca mais demoníaca e pelos no corpo), mas com insistentes piadinhas e frases de efeito como a que está no trailer, quando ele diz que é de Capricórnio. É realmente torturante acompanhar a insistência do roteiro na gag do celular que quebra a tela toda a vez que o herói o toca com seus dedos gigantes.

Tentando deixar de lado a imagem que o público criou do personagem nos dois bons filmes de del Toro, o que pode ser considerado um equívoco na busca de uma personalidade distinta, o novo Hellboy tem grandes chances de ocupar as primeiras posições na lista dos piores lançamentos de 2019. Não diverte, nem impressiona, e muito menos desperta a vontade de vê-lo mais vezes – somente deixa saudades dos longas de 2004 e 2008. Quem sabe del Toro e Perlman não pensem melhor sobre uma nova continuação que permita novamente honrar o demônio bem intencionado?

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4 Comentários

  1. Filme Bom! tem seus erros porem é assistivel! nota 8

  2. Eu gostei do filme, pra mim deu pro gasto. O gore compensa. É um filme B assumido, de ponta a ponta. O efeitos visuais são bons e as criaturas também, gostei muito da Baba Yaga. E gostei também da fotografia, da iluminação, dos movimentos de câmera. Só é mal contado, talvez ficasse muito melhor se fosse uma mini-série com mais tempo de tela. Deu pra ver claramente que foi cortado muito coisa para encurtar o filme.

  3. Agora fiquei curioso sobre quem foi a parte não interessada na continuação dos filmes do Del Toro, já que ele e Perlman deixaram claro que voltariam.

    1. Deve ter sido o Mike Mignola, criador e dono dos direitos do personagem. Agora, por que ele não queria que fizessem outro filme eu não sei.

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