4.4
(11)

Contos da Escuridão
Original:Tales from the Darkside: The Movie
Ano:1990•País:EUA
Direção:John Harrison
Roteiro:Michael McDowell, Arthur Conan Doyle, Stephen King, George A.Romero
Produção:Mitchell Galin, Richard P. Rubinstein
Elenco:Debbie Harry, Matthew Lawrence, Christian Slater, David Johansen, William Hickey, Robert Sedgwick, David Forrester, Steve Buscemi, James Remar, Philip Lenkowsky, Rae Dawn ChongRobert Klein,

Desde o clássico Na Solidão da Noite (Dead of Night, 1945), histórias curtas têm sido um interessante chamariz para o medo. É um estilo de terror conta-gotas, que dificilmente incomoda, e tem a necessidade de ser ágil, sem muito tempo para desenvolvimento de personagens e da atmosfera assustadora. Seja fazendo parte de séries de TV ou antologias temáticas, outro ponto interessante desses curtas é que grande parte deles possui final pessimista, sem gancho para continuações. O maior divisor de águas desse subgênero foi, sem dúvida, Creepshow, inspirado nas HQs da EC Comics. O primeiro filme, lançado em 1982, sob o comando de George A.Romero, foi muito bem recebido e havia o interesse de iniciar uma franquia, algo complicado pelo produto pertencer a Warner Bros., com suas inúmeras restrições. Assim, a produtora Laurel Entertainment optou por desenvolver uma nova linha de antologias, mudando o nome para Tales from the Darkside, numa referência a outros quadrinhos da EC, como Tales from the Crypt e The Vault of Horror, lançados na década de 50.

Assim, em vez de um novo filme, optaram pela série de TV. Em 29 de outubro de 1983, estreou o piloto, Trick or Treat, dirigido por Bob Balaban, com roteiro de Franco Amurri e George A. Romero. Além de Romero, textos de Clive Barker, Michael Bishop, Robert Bloch e Stephen King estiveram entre os 90 episódios exibidos em 4 temporadas, tendo seu fim em 24 de julho de 1988. Dois anos depois do término da série, substituída por Monsters, foi lançado o filme Contos da Escuridão, que teve passagem pelos cinemas brasileiros em 23 de agosto de 1991. O longa foi projetado para ser uma continuação de Creepshow, como comentou Tom Savini em entrevista, mas, por não ter o formato relacionado aos quadrinhos, optou-se pela versão cinematográfica da série, tendo como fio condutor uma narrativa para apresentar as demais.

Nela, a bruxa Betty (Deborah Harry) está planejando um jantar entre amigos, cujo prato principal é o garoto Timmy (Matthew Lawrence), mantido preso acorrentado numa jaula. Para distrai-la e evitar que seja aberto para os procedimentos culinários, ele começa a ler histórias de terror, presentes no livro Tales from the Darkside. A primeira, Lot 249, foi escrita por Michael McDowell, numa adaptação de um conto de Arthur Conan Doyle, e tem um elenco de rostos conhecidos. Nele, o estudante Edward Bellingham (Steve Buscemi) está em vias de participar de um concurso, mas sente-se enganado por dois colegas, Susan (Julianne Moore) e Lee (Robert Sedgwick). Ele recebe a entrega do tal Lote 249, que contém um sarcófago e uma múmia, além de um pergaminho que permite reanimá-la, e prepara uma vingança, com a ameaça do irmão de Susan, Andy (Christian Slater).

Apesar do bom elenco, Lot 249 é apenas mediano. A caracterização da múmia (Michael Deak) é até interessante, com seus movimentos lentos e olhar morto, valorizado pela fotografia escura, assim como a ideia final de ampliação da vingança proposta, mas o personagem de Slater é suficientemente irritante para diminuir a avaliação do episódio. Desdenhando da múmia, com uma expressão de deboche, Andy cava seu próprio túmulo ao promover uma nova vingança e deixar seu principal inimigo simplesmente partir, mesmo sabendo que ele fora responsável pelos atos da criatura. Não faz sentido, embora a conclusão pessimista remeta ao estilo Creepshow de apresentar o medo.

A segunda história, Cat From Hell, tem inspiração no conto de Stephen KingO Gato dos Infernos“, que foi publicado na antologia Ao Cair da Noite. É o melhor dos três, e ainda tem mais méritos que o próprio texto original, deixando evidente as ações do roteiro de George A. Romero. O milionário Drogan (William Hickey), dono de uma empresa de farmacêutica, contrata os serviços de um assassino de aluguel, Halston (David Johansen), para matar…um gato! Segundo o idoso, em cadeira de rodas, o felino seria o responsável por assassinar três pessoas em sua mansão, sua irmã Amanda (Dolores Sutton), a amiga dela Carolyn (Alice Drummond) e o mordomo Richard Gage (Mark Margolis).

Desdenhando do trabalho, mas consciente que se trata de um bom dinheiro, ele aceita, principalmente por acreditar na facilidade do serviço. Deixado na residência por Drogan – no texto, ele leva o gato para um passeio, promovendo uma repetição da morte do mordomo -, Halston parte para a realização da tarefa, descobrindo que o animal pode ser mesmo uma entidade maléfica disposta a se vingar de Drogan e daqueles que cruzarem seu caminho. Os efeitos especiais são um mescla do tosco “animal de pelúcia no rosto agitado da vítima” para o bem feito, numa conclusão agressiva e impressionante, que daria orgulho ao Gato Preto, de Edgar Allan Poe.

O último segmento, Lover’s Vow, tem roteiro de Michael McDowell e inspiração no folclore de Yuki-onna, um espírito oriental apresentado por Lafcadio Hearn no livro Kwaidan. O artista Preston (James Remar) mora em um estúdio grandioso, onde se destaca um grande gárgula. Quando seu agente anuncia que sua última exposição foi um fracasso, após afogar a tristeza, ele é surpreendido por uma criatura alada, uma espécie de gárgula com aparência de Gremlins, que assassina o dono do bar em que estava, e só o deixa vivo com uma condição: ele nunca deve revelar a ninguém sua aparência.

Logo depois, ele conhece a bela Carola (Rae Dawn Chong), com quem se envolve e se apaixona. Além disso, sua sorte muda completamente, e ele começa a fazer sucesso com suas artes e esculturas. Contudo, o episódio traumático parece não sair de sua lembrança, e cada vez mais ele se sente tentado a revelar o que aconteceu naquela terrível noite. O enredo é simples e extremamente previsível, mas sempre funciona. Além de bons efeitos, principalmente na grotesca cena final, o que garante a boa avaliação são as cenas sangrentas e desmembramentos.

Ao término do segmento, há a conclusão da situação desesperadora de Timmy, que não irá aceitar tão facilmente seu destino. Com a direção acertada de John Harrison, que comandou 8 episódios da série original, Contos da Escuridão é bem divertido, embora bastante inferior aos dois filmes da franquia Creepshow. Custou menos de U$5 milhões de dólares e arrecadou U$16, o que poderia impulsionar uma sequência. Havia essa intenção, inclusive, e teria a adaptação de “Almost Human“, de Robert Bloch, e “Pinfall” e “Rainy Season“, ambos de Stephen King. No entanto, não saiu do papel, o que se pode apontar como um final pessimista para uma antologia que poderia dispor de mais exemplares interessantes.

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2 Comentários

  1. Realmente esse é o verdadeiro Creepshow 3 e não aquela coisa amadora e sem qualidade lá dos anos 2000. Uma baita antologia, destaque principalmente pra terceira história, com certeza a melhor, não vejo tanto como problema ela ser um pouco previsível.

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