4.3
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The Ufo Incident
Original:The Ufo Incident
Ano:1975•País:EUA
Direção:Richard A. Colla
Roteiro:Hesper Anderson, S. Lee Pogostin, John G. Fuller
Produção:Vic Perrin
Elenco:James Earl Jones, Estelle Parsons, Barnard Hughes, Dick O'Neill, Beeson Carroll, Terrence O'Connor, Jeanne Joe, Lou Wagner, Vic Perrin

A possibilidade de sermos visitados por seres de outros planetas é uma ideia antiga e desde que aprendemos, enquanto humanidade, a manifestar nossa expressão por meio da arte, essa sempre foi uma premissa que rendeu obras interessantes. Seja em pinturas rupestres, em inscrições escondidas no interior de pirâmides, de forma simbólica em clássicos da literatura antiga, ou no cinema, trazendo um pouco para nossa era, seres que chegam do céu com habilidades além do nosso alcance sempre inspiraram terror, fascínio, e boas histórias.

Podemos rastrear histórias de seres espaciais até em Micrômegas, uma fábula de inspiração filosófica escrita por Voltaire em 1732, mas foi a partir do Guerra dos Mundos (1897), obra máxima de H.G. Wells, que essa viagem se consolidou na arte, partindo da literatura para os cinemas, chegando às massas, e aos dias de hoje inspirando tanto crença fanática em alguns quanto deboche e descrédito em outros.

E entre as primeiras vítimas conhecidas desse deboche e descrédito está o casal de estadunidenses Betty e Barney Hill. Ambos afirmaram, em 1961, terem sido abduzidos por extraterrestres e vítimas de experiências dentro de uma espaçonave. O caso ganhou notoriedade e foi bastante explorado pela imprensa da época. Vale lembrar que o célebre caso Roswell, àquela altura, ainda era relativamente recente, tendo ocorrido há menos de 15 anos, logo, era algo que habitava o imaginário popular.

A história dos Hill começa em 19 de setembro de 1961 quando o casal voltava para casa, em New Hampshire, Estados Unidos, de uma viagem de férias. Por volta das 22h30, luzes estranhas no céu fizeram com que Barney parasse o carro. As luzes coloridas não paravam de se mover de maneira estranha, e Betty tinha certeza que elas se aproximavam do casal. Eles seguiram viagem e as luzes passaram a acompanhá-los.

Em uma segunda parada, Barney desceu do carro, armado, para encará-las, e viu criaturas não humanas a bordo da, agora bem perceptível, espaçonave. Barney correu de volta para o carro e partiu em velocidade máxima, mas a espaçonave os perseguiu pela estrada de New Hampshire.

A próxima memória de Betty e Barney Hill se deu duas horas depois, a cerca de 56 km do local de onde estavam pela última vez, fugindo do disco. Seguiram para casa com uma sensação de violação e ligaram para Força Aérea. Conversando com autoridades americanas, o casal afirmou não se lembrar de nada, apenas se recordar de sentir um desconforto.

O caso ganhou atenção internacional, que não estava acostumada com histórias semelhantes e relatou toda a saga do casal Hill. Enquanto alguns acreditavam no que era noticiado, outros afirmavam não passar de uma farsa para ganhar popularidade na mídia.

Em 1966, foi lançado o livro The Interrupted Journey, que conta a experiência do casal. Quase dez anos depois, em 1975, Richard A. Colla dirigiu uma adaptação televisiva, intitulada The UFO Incident, na qual os renomados atores James Earl Jones e Estelle Parsons interpretaram Barney e Betty.

The UFO Incident, ou O Incidente OVNI, como também é conhecido, é uma produção de baixo orçamento, que pode gerar  pouca atração entre aqueles que estão acostumados ou dão preferências às grandes produções. Narrado de forma lenta e pontuada, o foco aqui é no “pós-abdução”. Durante todo o longa, assistimos às sessões de terapia de Barney e Betty Hill, que de todas as formas tentam resgatar as memórias daquelas duas horas que foram perdidas durante o sequestro.

No que diz respeito ao relato da abdução, The UFO Incident não foge do que já conhecemos e não traz muitas novidades (a não ser pela história do mapa estelar desenhado por Betty Hill, algo realmente intrigante) sobre o modus operandi dos ETs. O interessante aqui, e que acredito ser a intenção do realizador, é mostrar o horror de estar em tal situação, duvidando da própria racionalidade, e com essa ansiedade e medo se espraiando por toda a sua vida.

Betty e Barney Hill, mesmo aparentando ser um casal genuinamente feliz e amoroso, tinham seus problemas interpessoais. Como um casal interracial vivendo num bairro predominantemente branco, o racismo atravessa a vida de ambos como um fantasma – inclusive na perspectiva de Barney, que tem um histórico de conflitos raciais na infância e uma vida adulta de ativismo pela causa racial (algo que, inclusive, se relaciona com o medo que Barney sente, mais do que Betty, dos visitantes alienígenas).

Betty também não fica atrás. Mesmo sendo uma pessoa essencialmente boa e amorosa, assistente social, possui todas as limitações que uma pessoa branca tem sobre temas como racismo, e sofre por não compartilhar dos medos e receios do marido. Ela é divorciada, possui filhos de um relacionamento anterior, e também se acha feia, o que contribui para sua insegurança. Some isso a uma experiência traumática de sequestro por OVNIs, e temos uma situação muito instável e complicada de lidar.

É uma produção sem muito requinte, é bem verdade. Não há nada que se exalte demais ou especialmente aqui, a não ser a grande capacidade de realizar uma história tão boa com tão pouco. Na verdade, os atores James Earl Jones e Estelle Parsons carregam o filme nas costas. O roteiro, que contou com a participação do autor de The Interrupted Journey, John G. Fuller, apesar de ter seus méritos, mais parece trabalhar para os atores que para a história, mas funciona. A química entre os dois parece tão genuína que fica difícil não se sensibilizar com os relatos e refletir sobre a situação, quer você esteja levando aquilo tudo a sério ou não.

Por mais que causas psicológicas possam ser atribuídas aos relatos de abdução, trata-se de um tópico sobre o qual nada se sabe, e a quantidade de relatos e de pessoas que carregam essa sombra sobre suas cabeças, algo que muda suas vidas para sempre, não é pequena.

The UFO Incident é um bom filme, cujo maior trunfo é um casal de atores que consegue transmitir por meio de seus relatos uma experiência tão única (e um medo tão genuíno, tão primitivo) que é capaz de deixar reflexivos até aqueles que se recusam a acreditar.

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