She Freak (1967)

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She Freak
Original:She Freak
Ano:1967•País:EUA
Direção:Donn Davison, Byron Mabe
Roteiro:Donn Davison, David F. Friedman, Michael B. Druxman
Produção:Donn Davison, David F. Friedman
Elenco:Claire Brennen, Lee Raymond, Lynn Courtney, Bill McKinney, Claude Earl Jones, Ben Moore, Vanteen, Ben Moore, Madame Lee, Felix Silla, William Bagdad, Sandra Holcomb

She Freak é um filme americano de 1967, ano em que estava acontecendo muita coisa boa lá pras bandas dos Estados Unidos, não só no cinema, mas também na música, na literatura, na arte como um todo. Infelizmente, o filme em questão talvez não entre nessa lista, mas, de alguma forma, guarda muito do espírito da época.

Isso porque She Freak nos é apresentado como um remake não oficial do clássico atemporal Monstros (1932), de Tod Browning, mas, ao contrário do original, não investe justamente naquilo que tanto marcou a produção e faz ela ser lembrada até hoje, mais de 90 anos depois.

No filme de 67, conhecemos Jade (Claire Brennen), uma garçonete insatisfeita com o trabalho e com a vida que leva. Um dia, um parque de diversões se instala nas proximidades, e ela percebe naquela caravana uma boa oportunidade pra fazer a mudança de vida que tanto espera. Ela só não esperava que a mudança fosse ser tão aterrorizante.

Há algo de interessante nesse filme, mas ele é tão precário que vou me esforçar aqui pra elaborar. Esse esforço é necessário pois, por mais precário em recursos que seja, She Freak ainda conta com uma direção insossa, que reduz bruscamente as possibilidades do filme. Ao passo que há algo de esteticamente eficaz, por exemplo, em alguns intervalos, cenas em que o parque é destacado, com panorâmicas dos brinquedos em movimento, algo bonito de ver, mas também sentimos que esses momentos se prolongam demais, sendo intervalos em que ação nenhuma acontece. É quase como se o diretor estivesse ganhando tempo de filme.

Já durante a ação do filme, as cenas em que os atores interagem uns com os outros e a trama se desenvolve, com algumas exceções, são muito curtas, com diálogos importantes não sendo explicitados (às vezes a cena fica até sem som, apenas com o barulho do ambiente, como se o espectador fosse um observador distante olhando duas pessoas conversarem etc). Não sei se pela qualidade das atuações, que fica, em média, entre o fraco e o canastrão, mas parece haver uma tentativa velada de não exigir demais dos atores, especialmente de sua protagonista, Jade, que não convence em momento algum daquilo que é (e daí, tudo colabora pro fiasco da personagem, desde sua atuação, figurino, história etc., uma construção incoerente).

Nessa levada, em que não acontece muita coisa e que não fica clara a intensidade da passagem do tempo, a história vai se construindo e não vamos percebendo. E quando menos esperamos, é aí que entendemos que se trata de um remake de Monstros – isso, na verdade, só é possível pois primeira e última cenas são repetidas tal e qual o filme original.

Outro ponto negativo é justamente a ausência desses “freaks” em cena. Só surgem na cena final, e são claramente atores “montados”, maquiados, mostrados em ângulos fechados para evitar o constrangimento da péssima caracterização – constrangimento que incomoda, principalmente quando comparamos com o filme original, que, além de trazer pessoas com deficiências reais em cena, são todos excelentes atores, diga-se de passagem.

Mas há algum mérito aqui. Enquanto em Monstros a ênfase e valor da narrativa está nas relações interpessoais entre os ditos “freaks”, ressaltando sua humanidade a partir da sua vida cotidiana e dos preconceitos que sofrem, em She Freak o foco está na qualidade “existencial” ou filosófica dos humanos que se autodenominam “normais”, e sua monstruosidade interior. Os freaks, na verdade, são suplantados pela beleza hipnótica da protagonista, que está sempre articulando perversamente para realizar seus desejos.

Em fins dos anos 60, a mudança comportamental suscitou muitos debates de libertação social de minorias marginalizadas, e obviamente, ressuscitar Monstros seria uma excelente pedida, com possibilidades de se tornar um novo grande clássico – nas mãos de um bom realizador. O que temos, no entanto, é um filme fraco, que intenta um olhar mais acurado sobre moral e comportamento, e é honesto nisso, mas superficial em desenvolvimento. Ainda vale como curiosidade. Está disponível nos torrents. Mas a recomendação é que, se for pra escolher, fique com o Monstros (de 1932), que segue sendo, talvez, o filme mais ousado, original, chocante e contestador dos primórdios do cinema, e que nunca perde sua atualidade.

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Pedro Emmanuel

Cearense, jornalista, quase geógrafo (ainda cursando), meio praieiro e ligeiramente antissocial. Minha viagem é aprender o máximo possível sobre a vida e sobre a morte, e assim ir assimilando alguns mistérios da existência. Vivo como se fosse um detetive, mas minha mente vagueia muito. Sou fã de Star Trek, Jefferson Airplane, e do Massacre da Serra Elétrica original.

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