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Furiosa: Uma Saga Mad Max
Original:Furiosa: A Mad Max Saga
Ano:2024•País:Austrália, EUA
Direção:George Miller
Roteiro:George Miller, Nick Lathouris
Produção:George Miller, Doug Mitchell
Elenco:Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke, Alyla Browne, George Shevtsov, Lachy Hulme, John Howard, Angus Sampson, Charlee Fraser, Elsa Pataky, Nathan Jones, Josh Helman, David Field, Rahel Romahn, David Collins, Goran D. Kleut, CJ. Bloomfield, Matuse

George Miller se mostrou hábil em construir personagens peculiares, extravagantes. Em todos os filmes da cinessérie Mad Max, circularam várias figuras estranhas pelos desertos pós-apocalípticos australianos, muito além do louco Max. No original, lançado em 1979, Max (Mel Gibson) era um ranger que tinha como chefe o bizarro Fred “Fifi” Macaffee (Roger Ward), enfrentando como cartão de visitas o insano e respeitado Cavaleiro da Noite (Vincent Gil), e suas citações apocalípticas. Incomodou um grupo de motoqueiros, destacando-se o misterioso e frio Bubba Zanetti (Geoff Parry), além do biruta Johnny the Boy (Tim Burns). No segundo filme, logo no começo, Max é visto confrontando o punk Wez (Vernon Wells) para depois lidar com o fortão Lord Humungus (Kjell Nilsson), com sua máscara de hóquei, anterior a Jason Voorhees. Isso sem falar do garoto selvagem (Emil Minty) com seu bumerangue de metal e o piloto Jedediah (Bruce Spence) em seu girocóptero improvável. A Cúpula do Trovão tinha como ameaça o gigante Blaster (Paul Larsson), comandado pelo anão Master (Angelo Rossitto), tendo a inveja da Tia Entidade (Tina Turner), que queria assumir o submundo onde habitava Ironbar (Angry Anderson), aparentemente imortal. Por fim, na Estrada da Fúria, havia o líder da Cidadela, Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), com um peculiar respirador e sua voz gutural, tendo o apoio de um anão observador e o braço forte do grandalhão Rictus Erectus (Nathan Jones). E havia também uma tal Imperatriz Furiosa (Charlize Theron).

Desde que começou a planejar Estrada da Fúria, no início dos anos 2000, Miller já havia elaborado roteiros com o pano de fundo de seus principais personagens – é o que justifica a tridimensionalidade de todos eles. Charlize Theron se baseou nesse perfil desenvolvido para imaginar a angústia de sua personagem, com seu desejo de se libertar dos domínios de Immortan Joe para reencontrar suas origens no Vale Verde. O cineasta pretendia filmar as duas produções ao mesmo tempo, mas abandonou a ideia pelos custos, pensando futuramente em transformar a origem de Furiosa em um anime, dirigido por Mahiro Maeda. O grande alcance, tanto de bilheteria quanto crítica, de Estrada da Fúria fez o projeto voltar a ser um live action, mas havia todo um processo jurídico pela frente, numa ação contra a Warner Bros. envolvendo disputa salarial. Com os bastidores menos inflamados, Miller já tinha intenção de fazer Furiosa e mais duas sequências do longa de 2015.

Com a chegada de Furiosa: Uma Saga Mad Max aos cinemas, conquistando menos bilheteria do que se imaginava, mas com boas críticas, os intentos de ampliação do universo Mad Max foi esfriado. O orçamento de quase US$170 milhões de dólares até o momento não foi batido, tendo feito apenas US$120 milhões nas estreias mundiais. Dificilmente o longa irá se pagar, mesmo com toda a força dos streamings, o que se mostra desastroso nas expectativas. Talvez se explique pela mudança de protagonista: embora Charlize Theron tenha demonstrado interesse em retornar, com o apoio de tecnologia de rejuvenescimento em CGI, Miller fez testes com várias atrizes e se convenceu a contratar Anya Taylor-Joy pela performance dela em Last Night in Soho e o convencimento do diretor Edgar Wright: “faça um favor a si mesmo e agarre a oportunidade de trabalhar com ela“.

Apesar da sempre boa performance, Taylor-Joy é completamente diferente de Theron e não conseguiu emulá-la adequadamente em Furiosa, mantendo sempre a mesma expressão raivosa, tanto que a melhor parte desse novo filme se concentra no primeiro ato, na interpretação da pequena Alyla Browne (também está em Sting: Aranha Assassina). Por outro lado, Chris Hemsworth, que quis atuar como Mad Max em Estrada da Fúria mas não conseguiu o papel por não ser tão conhecido na época, está ótimo como o vilão carismático Dementus, contando com uma boa maquiagem facial e alteração na voz. E há também Lachy Hulme como Immortan Joe, substituindo o falecido Hugh Keays-Byrne, sem influenciar na construção do personagem.

Dividido em capítulos, começa mostrando duas crianças curiosas, Furiosa (Browne) e Valquíria, enquanto colhiam pêssegos, tendo problemas com um grupo de motoqueiros quando a primeira resolve sabotar um dos veículos. Furiosa é sequestrada pela gangue, apesar dos bons esforços da mãe dela, Mary (Charlee Fraser), e dos atrapalhados motoqueiros. Eles a levam para Dementus, e ainda planejam revelar a existência do Vale Verde, um local que ainda mantém características do mundo antes do apocalipse, como frutas, plantações e água. A garota é mantida prisioneira sem pronunciar qualquer palavra, tatuando em seu braço um mapa estelar para que possa retornar para casa, e ainda sendo obrigada a assistir à crucificação de sua mãe.

Tempos depois, Dementus planeja tomar para seu grupo a Cidadela comandada por Immortan Joe, sem imaginar que o local tem um exército de seguidores, os chamados War Boys, e uma boa estrutura de defesa. Sem sucesso, ele parte para Gastown, uma refinaria que abastece a cidadela com combustível, fazendo uso da estratégia do Cavalo de Troia para invadi-la. A conquista do território permite um acordo de paz com a Cidadela, recebendo comida e água pelo fornecimento de gasolina. Mas Joe também adquire Furiosa, colocando-a com suas outras esposas. Percebendo o interesse sexual de Rictus, Furiosa corta seus cabelos e finge ser um garoto para trabalhar com outros escravos no local.

Anos se passam, atuando como um jovem mudo, já com o rosto de Taylor-Joy, Furiosa ajuda a construir o veículo “War Rig“, aquele caminhão de combustível altamente resistente, que ficará sob seus domínios em Estrada da Fúria. Unindo-se a Jack (Tom Burke), ela aprende a sobreviver no local e planejam uma fuga juntos, enquanto Dementus precisa enfrentar seu tenente traidor, The Octoboss (Goran D. Kleut), e as ações de Joe, planejando retomar o controle de Gastown. E, como de costume em toda a franquia, o longa terá seus momentos “road movie“, com perseguições, com a exploração do espaço através de paraquedas, ultraleves, saltos entre veículos e explosões.

Ainda que envolto em ação e um ótimo enredo, Furiosa: Uma Saga Mad Max é bastante inferior a Estrada da Fúria. Muita de sua força se perde no ato final, na vingança de Furiosa contra Dementus, e em alguns combates sem tanto impacto no deserto. Como já se sabe o destino da protagonista pois se trata de um prelúdio e também se sabe que Dementus não estará na continuação, mas teremos Immortan Joe e Rictus, já é possível prever boa parte dos acontecimentos. Miller até resgata a trilha incidental, com algumas inovações, e mantém a boa qualidade técnica e as câmeras ágeis nas sequências de movimento pela estrada, mas não são acréscimos que poderiam transformar a prequel em um dos destaques do ano.

Assim, Furiosa: Uma Saga Mad Max se mostra até satisfatório para os fãs dos outros quatro filmes, mas esperava-se algo tão grandioso e épico como se mostrou o longa de 2015. Caso Wasteland, o sexto filme da série, saia do papel, com o retorno de Max e até especulações sobre o envolvimento de Mel Gibson, espera-se que o rosto de Furiosa volte a ser aquele de Estrada da Fúria, quando a personagem conquistou o público e fez Mad Max repensar sua jornada solitária.

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3 Comentários

  1. George Miller não deveria ter perdido tempo com esse spin off que quase ninguém pediu, deveria ter ido logo para um Mad Max 5 (de preferência com o retorno do Mel Gibson). Agora o filme flopou e dificilmente teremos um novo Mad Max, ou pelo menos não com o envolvimento de George Miller.

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