4.8
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A Garota da Vez
Original:Woman of the Hour
Ano:2024•País:EUA
Direção:Anna Kendrick
Roteiro:Ian McDonald
Produção:Roy Lee, Miri Yoon, J. D. Lifshitz, Raphael Margules, Sean Patrick O'Reilly
Elenco:Anna Kendrick, Daniel Zovatto, Nicolette Robinson, Tony Hale, Autumn Best, Pete Holmes

O gênero true crime, que leva às telas histórias de assassinos reais, muitas vezes de forma bastante romantizada, é bastante popular – basta contar quantos filmes e séries sobre Ted Bundy são lançados ano sim, ano também, só pra citar um dos maiores exemplos. Em sua estreia na direção com A Garota da Vez, Anna Kendrick, atriz mais conhecida por seus papeis em filmes mais leves (como a franquia musical A Escolha Perfeita), adapta a história real de mais um serial killer, mas de um ponto de vista mais interessante.

Mesmo depois de já ter sido preso por abuso sexual infantil, Rodney Alcala foi parte de uma situação bizarra: ele participou do The Dating Game em 1978, programa exibido em rede nacional nos Estados Unidos que consiste em três solteiros que competem respondendo perguntas de uma mulher, que não sabe quem eles são. No final, um deles é o escolhido da moça para um encontro com tudo pago pelo programa.

A Garota da Vez já começa mostrando pra gente quem exatamente é Rodney, abrindo com uma cena com ele fotografando uma mulher, que chega a se abrir com ele sobre problemas em sua vida pessoal, para pouco depois ser brutalmente assassinada. Por mais que seja atroz, a cena é filmada de forma a mostrar o que precisamos saber, sem excesso de exploração e sem qualquer forma de fetichização. Ali entendemos que estamos conhecendo um homem monstruoso.

Em seguida, conhecemos Cheryl Bradshaw, interpretada pela própria Kendrick, uma aspirante a atriz com dificuldades de ser escalada em qualquer coisa. Para dar um empurrãozinho na imagem da moça, sua agente consegue que ela participe do tal Dating Game, e é aí que as histórias de Cheryl e Rodney vão se encontrar.

O roteiro de Ian McDonald conta essa história como se fossem dois filmes, o de Cheryl e o de Rodney, cada um com seu tom. Apesar de estar em uma fase ruim, Cheryl é engraçada e rebate provocações e comentários sexistas habilmente, levando sua personalidade (e a de Kendrick, muito confortável no papel) para o Dating Game, para desespero do apresentador, Ed (Tony Hale), e de dois dos solteiros. Já o terceiro candidato, Rodney, se apresenta como um homem que sempre tem boas respostas para as perguntas de Cheryl.

Os atos escabrosos de Rodney são mostrados de forma não linear, com o assassinato que inicia o filme acontecendo em 1977 e o Dating Game se passando em 1978. Depois ainda acompanhamos o encontro do assassino com uma adolescente, Amy, em 1979, o que significa que, sim, Rodney estava livre no ano seguinte ao programa. Essa informação serve para aumentar a apreensão dos espectadores, já que ficamos ansiosos para preencher essa lacuna e entender o que aconteceu com Cheryl. Em idas e vindas no tempo, conhecemos brevemente algumas das vítimas de Rodney, todas representações das mulheres assassinadas pelo serial killer no mundo real.

Saber que um assassino conseguiu se livrar da prisão por tanto tempo é a primeira forma que o filme usa para mostrar a incompetência (ou o descaso?) das autoridades, mas há ainda outra personagem, Laura, uma mulher que vai com a família assistir ao Dating Game no estúdio e reconhece Rodney como suspeito de matar sua melhor amiga. Laura já tinha conversado com as autoridades e nada aconteceu, mas ela vê aqui uma nova oportunidade de denunciar Rodney, apenas para ser motivo de chacota. Laura é a representação das pessoas que tentaram parar o Rodney real e não foram ouvidas, o que fica ainda mais doloroso no final do filme, quando, nos créditos finais, entendemos que a suspeita é que Alcala tenha matado mais de 130 pessoas, em sua maioria mulheres.

Misturando uma dose de comédia com cenas agonizantes (a do estacionamento se destaca especialmente no quesito nervoso), A Garota da Vez soube contar histórias de pessoas reais, sem culpar as vítimas pelo que lhes aconteceu e sem apresentar o assassino como o encanto em pessoa – ainda que Rodney seja, sim, charmoso e acessível, mas o que se sobressai é sua habilidade de usar esses traços para atrair e enganar mulheres, especialmente as mais vulneráveis.

A maior falha do filme é sua resolução, que parece ignorar muito do que vimos até ali, especialmente no que diz respeito às mulheres desacreditadas. Parece que a história precisava terminar, mas o final escolhido acabou sendo apressado e destoante. Ainda assim, o primeiro trabalho de Anna Kendrick na direção é cativante e diferente dentro de um gênero povoado por assassinos seriais romantizados.

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