Floresta dos Suicidas
Original:Suicide Forest Ano:2024•País:EUA Autor:Jeremy Bates•Editora: DarkSide Books |
Aokigahara, também conhecida como Jukai (“Mar de Árvores”, em japonês), é uma floresta que fica próxima à base do Monte Fuji e, justamente por isso, seu solo é rochoso de lava e promove diversas formações vulcânicas, além de equipamentos eletrônicos não funcionarem direito devido à composição magnética do solo. Com vegetação densa, o som, o vento e até mesmo muito dos raios solares são bloqueados, fazendo com que o local seja muito silencioso e propício para lendas assustadoras. Um dos mitos japoneses ligados à Aokigahara é dos Yūrei, que são espíritos de pessoas que morreram de forma extremamente trágica ou violenta e não encontram descanso na morte, atormentando qualquer um que entre na floresta. Outra lenda associada é a de abandono de idosos – Ubasute -, onde diz-se que comunidades rurais abandonavam idosos, enfermos e até mesmo crianças pequenas em tempos de escassez, deixando-os para morrer.
Como se todo a atmosfera horripilante que envolve Aokigahara já não fosse o suficiente, muito além de mitos e lendas, a floresta também é conhecida como floresta dos suicídios. Infelizmente não é folclore local, e as pessoas de fato vão até lá com esse propósito. Nas décadas de 50 e 60 o local se popularizou por causa de um livro chamado Kuroi Jukai, onde o casal de protagonistas se mata na floresta e, posteriormente, o livro O Manual Completo do Suicídio menciona a floresta como um lugar para praticar o ato. A reputação da floresta atrai alguns curiosos, mas também sua popularidade é algo que preocupa, já que isso pode perpetuar mais tragédias. Os números de corpos encontrados anualmente em Aokigahara são alarmantes, o que levou as autoridades a espalharem inúmeras placas de ajuda ao longo das trilhas da floresta e fazerem patrulhas regulares. É uma realidade triste e pesada, e mesmo assim ainda há pessoas que vão até lá para fazerem vídeos debochados ou esperando encontrar um corpo. Tudo em nome das visualizações, não é mesmo?
Criticando isso e trazendo toda a sinistra carga de horror e mistério que Aokigahara carrega – seja nas lendas, seja na realidade – o autor Jeremy Bates nos apresenta a obra Floresta dos Suicidas, publicada pela DarkSide Books. O nome, é claro, é autoexplicativo, e possui diversos gatilhos sobre o tema.
Tudo que Ethan queria era escalar o Monte Fuji. Não tivera muitas experiências turísticas no Japão desde que foi para lá lecionar inglês, e achou que era o momento. Junto com sua namorada, Mel, John Scott – amigo de longa data de Mel – e outros amigos, decide ir até lá, e todos estavam ansiosos para isso, porém, o tempo amanheceu fechado. Poderia chover a qualquer momento, e essas condições definitivamente não são ideais para acampar e escalar em uma montanha como o Fuji. Desanimados, acabam dando de cara com um casal de turistas quando chegam à base do monte. Eles pretendem fazer trilha na floresta que tem logo ali próxima, a famosa Aokigahara. O grupo de Ethan se divide, alguns animados por terem a oportunidade de passear em um lugar com fama de assombrado e, quem sabe, a possibilidade de ver um corpo, e outros que não acham isso uma boa ideia em hipótese alguma. No final das contas, fica decidido que vão conhecer a floresta, afinal. Apenas Honda fica firme em sua decisão, preferindo aguardar o retorno do grupo em uma pousada próxima. Cada passo dentro de Aokigahara é cheio de tensão, o medo e a imaginação tomando conta, até que, pouco a pouco, descobrem que a floresta dos suicidas esconde segredos mais terríveis do que imaginavam.
A todo momento, a narrativa nos deixa apreensivos, mesmo no começo onde pouca coisa acontece. Bates consegue passar a atmosfera sombria de Aokigahara através das páginas, de modo que á fácil se imaginar andando ali, com aquele grupo, e alerta a todo momento, especialmente por causa do silêncio opressor, muito citado. O medo e a tensão a cada passo são palpáveis.
Os personagens, em geral, não são especialmente carismáticos (sem entrar no mérito de decisões burras. Muitas vezes são as decisões burras que fazem a história avançar, afinal), alguns sendo puros babacas, outros sendo falsos moralistas, outros passivos ao extremo, mas isso é algo interessante. Estão sob pressão, em condições nada ideais em um lugar desconhecido – afinal, apenas um integrante do grupo é japonês -, então as diferentes facetas do ser humano vão aparecendo e as máscaras de simpatia vão ruindo. Alguns lidam com o estresse fazendo piadas em momentos e lugares inapropriados, outros tentam parecer eufóricos para não ficar óbvio que estão com medo, outros ficam ranzinzas e o ranço que tem por alguém aumenta a cada minuto que passa ao lado daquela pessoa. Ser agradável em um lugar daqueles, preocupados apenas em sobreviver, é a última coisa que vai passar pela cabeça de alguém, logo, faz sentido serem retratados assim. De todo modo, dá para perceber que possuem personalidades complexas e conhecemos alguns de seus dramas internos, mas tais aspectos acabam não sendo explorados em sua totalidade. A estrela da história é a floresta, todo o resto é mero coadjuvante de seus horrores, sejam reais ou sobrenaturais.
O desespero pela sobrevivência, a falta de recursos, o luto, a sanidade indo embora e dando lugar à agressividade e à loucura e a impotência diante à morte são abordados constantemente ao longo da leitura.
Conforme a história avança, a sensação de pavor também cresce, e com todas as lendas a respeito do local – além da própria realidade macabra -, diversas teorias se formam em nossa mente. A floresta realmente é assombrada? São os espíritos das pessoas que vão até ali para morrer, ou outro tipo de entidade? Por qual caminho o autor vai seguir? Todo um clima de A Bruxa de Blair se forma aqui. E é aí que temos um balde de água fria.
Quando tudo se revela, acaba sendo deveras decepcionante. Fica a sensação de potencial desperdiçado. Poderia ser uma excelente história de horror, mas o desfecho deixa a desejar, quase como se o final fosse uma outra história à parte. Do suspense claustrofóbico e possíveis assombrações, somos redirecionados para um plot twist que deveria ser surpreendente, mas que acaba ficando deslocado. Muito da trama construída até a metade do livro sofre uma mudança súbita sem muito desenvolvimento. Não estraga a experiência como um todo, porém, poderia ser muito mais.
Deixando de lado a parte final, Floresta dos Suicidas é cheia de momentos obscuros que causam arrepios ao longo da leitura, especialmente por se tratar de um lugar real que as pessoas procuram para acabarem com as próprias vidas; os suicídios e o fato de dezenas de corpos serem encontrados em Aokigahara todos os anos não é ficção.