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Minha Irmã, a Serial Killer
Original:My Sister, the Serial Killer
Ano:2019•País:Nigéria
Autor:Oyinkan Braithwaite•Editora: Kapulana

O relacionamento entre irmãs (ou irmãos) pode ser algo complicado. De filha única, é promovida a irmã mais velha em um piscar de olhos, tendo que dividir suas coisas e sua vida com outra pessoa. Ciúmes, admiração, brigas, cumplicidade; é uma relação de amor e ódio, um laço fortíssimo que compartilham. Fatalmente, possuem um forte senso de proteção uma com a outra, de não deixar que nada de ruim aconteça, especialmente com a mais nova. Mas o que fazer se sua irmã for uma assassina? O sentimento de protege-la a qualquer custo sobrepuja qualquer outro, mesmo que isso custe vidas inocentes? É exatamente isso que será abordado em Minha Irmã, a Serial Killer, livro de estreia da autora nigeriana Oyinkan Braithwaite.

Korede é uma mulher limpa e organizada, sem tempo para sorrisos e simpatias desnecessárias. Faz o que precisa ser feito e ponto, pragmatismo é seu sobrenome. Já sua irmã mais nova, Ayoola, não poderia ser mais diferente. Desorganizada, mimada, dissimulada e sem preocupações, parece que tudo que consegue é sem esforço algum, inclusive sua beleza. Ayoola arranca suspiros e olhares por onde passa, virando imediatamente o centro das atenções, apesar de sua personalidade duvidosa – coisa que ninguém parece dar a mínima, inclusive sua mãe. Poderia ser apenas mais uma história de irmãs com personalidades distintas, e de fato é, se não fosse por um pequeno detalhe adicional: Ayoola matou seus últimos três namorados, e Korede é sua cúmplice. Enquanto a mais nova mata, a mais velha passa vários panos – literal e figurativamente – para as atitudes questionáveis e criminosas da irmã.

A narrativa, contada totalmente sob o ponto de vista de Korede, é simples, com capítulos curtos e diretos, o que faz com que a leitura seja rápida, fluida e divertida. Não há um grande desenvolvimento das personagens, elas se mantêm no mesmo tom durante toda a história, e nenhuma delas é especialmente confiável, tendo um caráter bem questionável (isso vale para os coadjuvantes também). Ayoola é arrogante, narcisista, manipuladora e mesquinha, o que é coerente, afinal é uma provável sociopata; enquanto Korede é amargurada e sente-se responsável pela irmã, sempre se mostrando rígida no trabalho e em casa, mas na verdade se revela apenas uma pessoa passiva e conivente, e sua personalidade não é explorada para muito além disso. Fica claro ao longo das páginas que as irmãs cresceram em uma família disfuncional, com um pai violento e ganancioso que deixou traumas profundos nas irmãs e mãe, entretanto, o enredo peca ao explorar pouco o assunto. Tudo é feito de forma um tanto superficial, apesar de ser perceptível que Korede se vê como uma prisioneira dentro de sua própria casa desde muito jovem até os dias de hoje, e nada faz para mudar isso.

A partir de pouco mais da metade as coisas avançam e ficam mais interessantes, tendo um clímax que poderia ser uma bela reviravolta, mas a autora opta por deixar as coisas mornas. Como dito, é uma história divertida, mas não chega a ser surpreendente e fica com a sensação de que, no final, não chegou a lugar algum. Entretém, levanta questões interessantes e relevantes, mas é isso. Apesar do título, o foco é a pressão que Korede sofre e o dilema moral entre continuar fiel à irmã e aos seus laços de sangue, ou revelar toda a verdade, além de mostrar sua nada saudável dinâmica familiar.

A autora critica de forma um pouco mais descontraída temas como a ditadura da beleza, o machismo muito forte na sociedade, a corrupção na Nigéria (que vale também para o resto do mundo), abusos familiares e negligência e também promove uma reflexão de até onde vale a pena proteger indiscriminadamente quem ama.

Minha Irmã, a Serial Killer não chega a ser um grande suspense, talvez nem tenha tal pretensão. Falta tensão, mistério e melhor construção da trama e profundidade dos personagens. É muito mais um drama familiar com toques ácidos de humor, mas também temos uma pitada de horror, afinal, encobrir os assassinatos da irmã enquanto todos acham-na um verdadeiro anjo na Terra é ruim o suficiente. Braithwaite escreve de uma forma criativa, que foge dos conhecidos clichês presentes em obras que abordam o tema serial killer. Há muito potencial e é um bom romance de estreia da autora, porém, a superficialidade transforma o livro apenas em um passatempo agradável com alguns momentos instigantes, mas pouco memorável.

Minha Irmã, a Serial Killer foi o livro escolhido para o encontro de setembro do Clube do Livro Boca do Inferno, em parceria com a Poison Books, que aconteceu no dia 29/09. Foram discutidos tópicos como codependência emocional, consequências do trauma familiar causados na infância, manipulação emocional, relações tóxicas familiares, machismo e poder, narração não confiável e como nem todos são flor que se cheire e o horror presente naquilo que é palpável e realista, sendo mais próximo do que imaginamos.

O próximo encontro do Clube do Livro acontecerá no dia 27 de outubro, domingo, a partir das 14h30 na livraria Poison Books (Rua Júlia Izar, 31 – Tatuapé/SP). O livro que será discutido no mês de Halloween será Rainhas do Insólito vol. 1, antologia organizada por Lucas Marchetti.

O cronograma completo do clube pode ser encontrado aqui!

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