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Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra
Original:Mouse Trap
Ano:2024•País:Canadá
Direção:Jamie Bailey
Roteiro:Simon Phillips
Produção:Simon Phillips, Jamie Bailey, Mem Ferda
Elenco:Simon Phillips, Sophie McIntosh, Madeline Kelman, Ben Harris, Callum Sywyk, Mireille Gagné, James Laurin, Kayleigh Styles, Mackenzie Mills

O simpático ratinho criado por Walt Disney também caiu nas armadilhas do domínio público. A primeira aparição animada do personagem, no curta-metragem Steamboat Willie, de 1928, está livre da âncora dos direitos autorais, podendo navegar livremente nas mãos de qualquer artista ou cineasta. Se o Ursinho Pooh já se transformou em um caipira assassino e levou ainda sua trupe de criaturas anteriormente agradáveis para um banho de sangue e mel, por que não fazer o mesmo com Mickey Mouse, mesmo que o “fazer” seja produzir qualquer coisa de terror?

Mouse Trap é bem qualquer coisa do gênero. Não há um enredo que justifique usar o personagem popular que não seja como máscara de um slasher de quintal. Mas isso poderia não ser um problema, se o roteiro de Simon Phillips soubesse explorar as características do Mickey ou simplesmente criasse tensão, uma trama curiosa e banhasse tudo com altas doses de sangue e violência. Parece que a intenção aqui foi apenas usar a marca, estampar a cara do personagem na capa do filme e tentar atrair fãs de horror que aceitam qualquer coisa.

Quando a produção teve seu anúncio oficial, a internet se incendiou com memes virais, sinopses e imagens. Até mesmo quem acha a franquia Ursinho Pooh bastante equivocada ficou com uma pulga de expectativas, comentando se futuramente teríamos outros clássicos da Disney apresentados em produções do gênero. É claro que sim, se esses maltratos continuarem sendo levados à tela grande, atiçando curiosos, na criação de um novo estilo de cinema com personagens conhecidos em filmes ruins. Questão de tempo para você ver por aqui críticas de um Peter Pan no Inferno do Nunca, Sherlock Holmes enfrenta Sharknado

Para mostrar que seu filme não deve ser levado a sério, Jamie Bailey inicia a produção com um letreiro Star Wars para deixar claro que o que será visto não tem envolvimento algum com a Disney. Mas, não será um besteirol ou uma sátira ao estilo para infortúnio de seus realizadores. O longa se passa inteiramente numa espécie de “play games” intitulada Fun Haven, aos cuidados do proprietário Tim Collins (Simon Phillips, também produtor do filme). Ele avisa suas duas funcionárias, Alex Fen (Sophie McIntosh) e Jayna (Madeline Kelman), que elas terão que fazer hora extra para atender uma festa particular.

Depois, elas ficam falando bobagens, e ele se tranca numa sala repleta de referências ao Mickey, incluindo uma máscara, para assistir Steamboat Willie. Ouve vozes estranhas – era para ser alguém imitando o Mickey, imagino – e vai em direção à máscara de borracha. Sim, não há mistério sobre a identidade do assassino, nem a razão para ele ter sido possuído por essa entidade. Mesmo não restando dúvidas, o longa intercala cenas com o interrogatório da gótica Rebecca (Mackenzie Mills) pelos detetives Cole (Damir Kovic) e Marsh (Nick Biskupek), acusando-a pelos crimes, mesmo que não tenha razão alguma para isso: o assassino é corpulento e ela foi encontrada com um corte no calcanhar.

Mesmo não estando presente a todo momento, Rebecca sabe tudo o que aconteceu em detalhes, até nas conversas solitárias entre dois personagens. Daqui algumas semanas será aniversário de Alex, então seus amigos resolveram contratar o espaço para uma celebração antecipada no local. Todos ali presentes são apaixonados por Alex, que só deixa sinais de interesse pelo esquisitão Marcus (Callum Sywyk). Mickey então começa a matá-los em cenas offscreen, sem violência e quase sem sangue – será que a intenção era vender o filme para a Disney +?

E é isso. Não tem nada além de assassinatos, personagens desaparecendo sem motivo algum, insinuações de culpados que preocupam zero o espectador e correria de um lado para o outro. E, sabe-se lá por quê, o assassino fica aparecendo e desaparecendo em efeitos Chapolin e, quando lhe apontam uma lanterna, ele fica preso pela iluminação. Não há justificativa para esse poder de teletransporte do Mickey – ou o roteirista lançou alguma referência a alguma história do personagem que desconheço. E como se tudo não estivesse ruim o bastante, de repente o filme termina em um corte brusco, surgindo os bem-vindos créditos finais. Acabou o dinheiro? O que diabos aconteceu para a história terminar com personagens ainda vivos e o vilão deixando uma risadinha no ar?

Peraí que ainda tem uma cena pós-crédito nesse roteiro sem pé nem cabeça, deixando a entender que o rato assassino tinha uma comparsa, como Shawnee Smith em Jogos Mortais. É um gancho para uma continuação que – os deuses da Sétima Arte que me ouçam – nunca deve sair do papel. Mouse Trap já foi ruim o bastante, colocando o infernauta numa armadilha comprovada no subtítulo nacional, “a diversão agora é outra.” Sim, outra, não esta.

Perto de Mouse Trap, os filmes do Ursinho Pooh podem ser considerados um novo O Massacre da Serra Elétrica. Nada ali funciona. Iluminação ruim, nada de suspense, zero carisma dos personagens, atuações de novela da Record, diálogos escritos por algum adolescente com espinhas na cara… Não sei como alguém investiu dinheiro nisso, achou que estaria realizando algo no mínimo aceitável. E ainda precisou explicar no começo que a indústria de Walt Disney e nem a de Star Wars têm algo a ver com o filme. Poderia fazer um adendo ao espectador, alertando que não se responsabiliza pelas decepções que virão pelo caminho.

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