Terça do Terror
Original:Angkhan Khlumpong: Extreme
Ano:2024•País:Tailândia Direção:Prueksa Amaruji, Abhichoke Chandrasen, Prin Keeratiratanalak, Chayan Laoyodtrakool, Alisa Pien, Chookiat Sakveerakul, Eakasit Thairaat Roteiro:Chayan Laoyodtrakool, Prueksa Amaruji, Prueksa Amaruji, Abhichoke Chandrasen, Pun Homchuen, Prin Keeratiratanalak, Kanokphan Ornrattanasakul, Alisa Pien, Chookiat Sakveerakul, Kasidej Sundararjun, Eakasit Thairaat, Thanamas Thalerngsuk, Thamuya Thasananukulkij Produção:Genwaii Thongdenok, Chartchai Worapiankul, Chuyot Mueangyot, Chayamporn Taeratanachai, Duangkamor Wongpratoom Elenco:Pattaravadee Boonmeesup, Sutthirak Subvijitra, Chayanit Chansangavej, Panisara Rikulsurakan, Narupornkamol Chaisang, Sakuntala Thianphairot, Nat Kitcharit, Praewa Suthamphong, Namthip 'Bee' Jongrachatawiboon |
Como desenvolver uma história de horror com originalidade, mas sem abrir mão das convenções de gênero? A série antológica tailandesa Terça do Terror (no original Angkhan Khlumpong: Extreme), de 2024, atualmente disponível no catálogo da Netflix, mostra que é possível conectar questões sociais com crenças locais e boas doses de jumpscares. A produção, criada por Chayan Laoyodtrakool, conta com oito episódios de histórias independentes, supostamente reais, inspiradas em um programa de rádio.
Um dos maiores méritos da série é, sem dúvida, a criação de uma tensão crescente, que é favorecida pela ambientação – as locações, por vezes, passam uma sensação de sujeira, abandono e se encaixam perfeitamente nas narrativas dos personagens que vão sendo apresentados. Com um roteiro afiado, a maioria das histórias funcionam muito bem separadamente (e como um conjunto), além disso, os personagens são bem dimensionados e possuem profundidade mesmo com pouco tempo de tela.
Os comentários sociais localizam muito bem o espectador nas narrativas tailandesas, explorando costumes locais e fugindo de estereótipos. Nesse sentido, Terça do Terror é um excelente exemplo do por quê características em comum entre o Brasil e a Tailândia são tão comentadas nas redes sociais – aqui, temas como a religiosidade, o senso de comunidade e até os problemas sociais são similares com a realidade brasileira. O que fortalece essa percepção é a incorporação da cultura nas narrativas, que eleva o nível de qualidade dos elementos do gênero do horror.
O que costura tudo isso é a direção, que é funcional e perspicaz ao saber dosar o que mostrar no momento certo. Apesar disso, em alguns momentos durante os episódios, os jumpscares, que funcionam na maioria das vezes, são excessivos. No entanto, apesar da predileção pelo uso dessa convenção de gênero, em todos os episódios é possível tomar alguns sustos e ficar tenso por um bom tempo com a narrativa. Da mesma forma, parte dos plot twists são bem utilizados, com exceção de dois episódios, onde as pretensas viradas nas histórias não são nem um pouco convincentes.
A maquiagem e o design de produção da série são elogiáveis e cumprem o seu papel narrativo, apresentando criaturas mitológicas com uma certa pegada gore. Outro aspecto positivo é o horror psicológico, presente em grande parte dos episódios. Esse aspecto aprofunda subtramas e os personagens, que são muito bem interpretados.
No entanto, no quarto episódio, intitulado “The Vow”, a construção de personagens e do primeiro ato não só se estende para o segundo e terceiro atos, mas acaba tomando conta da narrativa, transformando-a em um grande drama com elementos de horror, que aos poucos se enfraquecem no filme. Na história, um casal que está prestes a se casar pede a bênção para a deusa do amor. A condição é jurar honestidade para sempre – mas ambos possuem segredos que devem ser revelados ou então ambos sofrerão as consequências.
Com uma premissa original, o encerramento do enredo não é satisfatório e destoa completamente do restante da série, o que acaba sendo lamentável uma vez que o episódio quatro é o que mais destaca elementos da mitologia local. A isso acrescenta-se o fato de que o visual da criatura deste capítulo é muito bem feito e faz parte de um universo interessante, com potencial para se tornar o mais interessante de toda a série.
Outro episódio que não consegue ser tão bem-sucedido com os demais é o oitavo, “Viral Curse”, que narra o drama de uma mãe solteira que precisa superar as dificuldades financeiras para manter a casa e ainda lidar com uma maldição lançada por um programa de rádio (mais uma piscadinha para os espectadores e o reforço da existência de um único universo na série). Apesar do desenvolvimento ser interessante e promissor, o terceiro ato força dois plot twists que não funcionam como tal e não surpreendem.
Seja pela repetição do formato “apresentação dos personagens, trama-problema, resolução e plot twist” ou mesmo pela construção frágil das viradas, o oitavo episódio sofre por levantar muitas expectativas de uma antologia até então muito bem conduzida, instigante, visualmente bem feita e diferente. Mesmo com alguns problemas na execução e no roteiro, Terça do Terror surpreende pela qualidade, pela riqueza cultural e os comentários sociais, abordados estrategicamente para gerar tensão e acrescentar ao ambiente de suspense.