Cuckoo: O Medo Chama
Original:Cuckoo
Ano:2024•País:EUA Direção:Tilman Singer Roteiro:Tilman Singer Produção:Josh Rosenbaum, Ken Kao, Thor Bradwell, Maria Tsigka, Markus Halberschmi, Ben Rimmer, Emily Cheung Elenco:Hunter Schafer, Jan Bluthard, Marton Csokas, Jessica Henwick, Dan Stevens, Mila Lieu, Greta Fernández |
O cuco é um dos espécimes mais famosos dentro da ornitologia (ramo da zoologia que estuda as aves), e não pelos motivos mais nobres: trata-se de um dos maiores trambiqueiros do mundo animal, depositando seus ovos nos ninhos de outras aves em vez de construir o seu próprio ninho. Quando o jovem cuco se desenvolve, expulsa os filhotes legítimos do hospedeiro, que o alimenta até a independência. Lógico que os hábitos dos cucos são um prato cheio para analogias sobre hospedeiros, identificação e adoção, já tendo sido explorados em várias mídias, desde as historinhas divertidas da Turma da Mônica (essa só quem viveu a década de 90 vai lembrar) até filmes mais sérios, como o recente Viveiro.
Em Cuckoo, segundo longa-metragem do diretor alemão Tilman Singer, acompanhamos a trajetória de Gretchen (Hunter Schafer), uma jovem de 17 anos que está se mudando para um resort no interior da Alemanha com seu pai, Luis (Marton Csokas), sua madrasta Beth (Jessica Henwick), e sua meia-irmã Alma (Mila Lieu). A garota não parece muito satisfeita com a mudança, ainda vivenciando o luto pela morte da mãe, além de não morrer de amores pela nova família. Ela planeja escapar dali assim que possível, então aceita a oferta de emprego do chefe de seu pai, o excêntrico Herr König (Dan Stevens fazendo o que ele faz de melhor, que é interpretar malucos), e passa a trabalhar na recepção do resort. No entanto, conforme o tempo passa, vibrações sinistras e visões de uma mulher encapuzada fazem a garota perceber que há algo de muito errado naquele lugar.
Gosto muito do início de Cuckoo. A atmosfera incômoda é construída lentamente, desde situações claramente suspeitas, como Gretchen ser proibida de trabalhar no turno da noite ou pessoas vomitando inexplicavelmente, ruídos anormalmente altos associados a loops de consciência, até uma ameaçadora figura feminina perambulando pela propriedade. Esta figura, apenas creditada como A Mulher Encapuzada (Kalin Morrow), é um dos grandes acertos do longa, com um design interessante e amedrontador (inclusive, uma certa cena de perseguição envolvendo uma bicicleta é a melhor do filme inteiro). As atuações de Hunter Schafer e Dan Stevens também são competentes, ainda que a primeira pareça um pouco deslocada no estereótipo de adolescente revoltada que detesta a madrasta.
O grande problema em Cuckoo é a queda vertiginosa no terceiro ato. A explicação do “cuco” é bem simplória, desenvolvendo poucas questões introduzidas nos dois primeiros terços. Os miniloops são minimamente explorados e todo o enredo envolvendo as ligações e gravações da mãe da Gretchen parecem soltas e sem propósito, qual o motivo de estarem ali? E as motivações de König, quais seriam? A mulher encapuzada também é descartada cedo demais, um grande desperdício para um personagem com tanto potencial. Sem entrar em spoilers, o filme encerra sem responder muitas das perguntas que se propôs a fazer.
Pela repercussão que teve, esperava mais de Cuckoo. O filme tinha tudo para ser uma das gratas surpresas do ano, até pela proposta interessante que apresenta, mas o final confuso e pouco explicativo prejudica bastante a experiência final. Talvez seja interessante para quem queira ver mais da Hunter Schafer além de Euphoria, ou quem sabe conferir a mais nova adição ao currículo de esquisitões interpretados por Dan Stevens. Tirando isso, é uma produção insossa que deve cair no esquecimento rapidamente.