Sijjin
Original:Sijjin
Ano:2023•País:Indonésia Direção:Hadrah Daeng Ratu Roteiro:Ersan Özer, Lele Laila Produção:Gope T. Samtani Elenco:Ibrahim Risyad, Anggika Bolsterli, Messi Gusti, Delia Husein, Niken Anjani, Dewi Pakis, Oce Permatasari, Elly D. LuthanDeni Saputra |
A receita para uma verdadeira tragédia é apresentada nesse longa-metragem indonésio dirigido pela experiente Hadrah Daeng Ratu. Na história, uma jovem chamada Irma (interpretada por Anggika Bolsterli) carrega o peso de uma paixão avassaladora quase platônica pelo seu primo, Galang (Ibrahim Risyad). Desesperada, ela busca a orientação de um xamã local, que a aconselha a não investir nesse amor – uma vez que este homem seria a causa de sua morte. Anos depois, após um breve caso amoroso com ele, Irma ainda sonha em conquistar seu amado e fará qualquer coisa para tê-lo, passando por cima de sua então esposa Wulan (Delia Husein) e até mesmo da filha do casal, Sofia (Messi Gusti), de quem é muito próxima.
Após algumas recusas do primo, que decide terminar a relação extraconjugal, Irma vai até o local de trabalho de Galang, revela que está grávida e implora para ele não deixá-la. Em meio à discussão do casal, a protagonista é derrubada no chão e acaba tendo um aborto. Agora cheia de ódio e vontade de vingança, ela retorna ao guia espiritual e, como último recurso, realiza um pedido aos espíritos que desencadeia uma matança familiar sem precedentes: Irma pede para que ela seja a única mulher da vida de Galang.
Com uma temática central muito comum a algumas produções de horror asiático, o filme, dessa vez, tem como destaque uma mulher em busca de conquistar o homem dos seus sonhos. Nesse sentido, o papel da mulher – como aquela cuidadora do lar e devotada à religião e ao marido – é ainda mais reforçado nessa configuração cultural. Algumas diferenças relacionadas às relações familiares são interessantes de acompanhar e fazem toda a diferença na narrativa. A obsessão da protagonista com o primo, por exemplo, pode ser percebida como excessiva, uma vez que o único objetivo da personagem é, de fato, conquistá-lo.
No entanto, principalmente a partir do segundo ato, quando os personagens são minimamente desenvolvidos, e a relação de Irma com sua irmã Nisa (Niken Anjani) é aprofundada, é possível entender melhor as motivações e perturbações dela. Outro ponto positivo é a relação causa e consequência, que é muito bem trabalhada no roteiro, assim como a adição de alguns comentários sociais relacionados às diferenças religiosas e a crítica ao preconceito contra muçulmanos.
De longe, os efeitos visuais são os elementos que mais chamam a atenção aqui, embora o horror demore a aparecer. A maquiagem, efeitos práticos e uso de luz não decepcionam e são pontos muito positivos – apesar de serem pouco explorados. Dito isso, há um prolongamento do primeiro ato e do encerramento do filme que prejudicam a experiência. Menos vinte minutos de tela fariam total diferença.
Todos os atores estão bem funcionais, com exceção da atriz mirim que interpreta a Sofia, filha de Galang que é muito próxima à Irma. A personagem, que é cega, não gera empatia pela falta de carisma da atriz e sua atuação demasiadamente artificial. Por outro lado, a despeito do egoísmo e desprezo total da personagem principal em relação aos seus parentes, todos convencem como uma família relativamente unida.
Além disso, similarmente à algumas produções asiáticas, no filme há um plot twist, cujas pistas já poderiam ser descobertas desde a primeira morte. Apesar de um pouco óbvia, esse recurso narrativo funciona como um bom gancho no terceiro ato e acelera a trama, que sofre com o ritmo.
Em poucas palavras, Sijjin, que em árabe significa ‘mundo subterrâneo’, é um longa-metragem promissor em seu argumento principal e constrói um universo bastante rico e único, mas não convence o espectador com um final – ao meu ver – excessivamente moralista, que enfraquece a narrativa e simplifica demais a problemática tratada pelo filme.