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Anna e o Apocalipse
Original:Anna and the Apocalypse
Ano:2017•País:UK
Direção:John McPhail
Roteiro:Alan McDonald, Tommy Reilly, Ryan McHenry
Produção:Naysun Alae-Carew , Nicholas Crum, Tracy Jarvis, Charlotte Walsh
Elenco:Ella Hunt, Malcolm Cumming, Sarah Swire, Christopher Leveaux, Marli Siu, Ben Wiggins, Mark Benton, Paul Kaye, Euan Bennet

Para quem gosta de musicais, tem sentimentos estranhos sobre Natal e ama um bom filme de zumbi, o longa-metragem Anna and the Apocalypse, de 2017, dirigido por John McPhail, pode parecer uma boa opção para assistir durante as festividades de final de ano. Apesar das altas expectativas, esse híbrido de gêneros desperta emoções confusas em quem acompanha a sua personagem principal, uma típica adolescente outsider que acorda em um mundo pós-apocalíptico, onde a sua jornada pela sobrevivência é acompanhada de muita música, romance e dramas familiares.

Além dos zumbis, Anna precisa então lidar com o seu pai, com quem possui uma relação complicada, com o seu melhor amigo – que é apaixonado por ela –, com os amigos, e com um ex completamente esnobe e babaca. Como se já não bastasse essa quantidade de enredos sendo desenvolvidos ao mesmo tempo, a personagem ainda tem o sonho de fazer uma viagem para a Austrália, o que movimenta uma série de conflitos entre ela e as outras pessoas de sua vida.

Quem vai desavisado para esse filme, vai se surpreender – às vezes de uma forma bem negativa – com as sequências musicais que os personagens adolescentes protagonizam durante a história. Nesse sentido, o grande ponto dessa produção é alcançar um público muito específico, que vai estranhar o setlist, mas pode se divertir nesse processo. Por outro lado, a parte do horror, no que diz respeito ao universo do fim do mundo e dos zumbis, é quase satisfatória: o visual dos mortos-vivos não é grande coisa, mas poderia ser pior; as cenas de fuga não causam muita aflição, mas são utilizadas de forma estratégica para localizar o espectador neste ambiente hostil de apocalipse; o filme trabalha um certo body horror funcional e quase perde o controle do tom na maior parte do tempo.

Além disso, toda cinematografia faz referência a filmes de comédias e romances adolescentes, inclusive nas cenas que flertam mais com o gênero do horror. Sobre isso, há algumas boas ideias de mistura de gêneros, como é a sequência da performance de “Turning My Life Around”, em que Anna e seu amigo John (Malcolm Cumming), em uma manhã de dezembro, cantam sobre seus sonhos e sobre o sentimento de incompreensão típica dessa fase da vida enquanto que, ao fundo, zumbis aterrorizam a vizinhança.

Nesse sentido, vale destacar que todos os atores que interpretam os estudantes da escola de Ensino Médio, colegas de Anna, não convencem como adolescentes, o que também é o caso da protagonista que dá nome ao filme, que é interpretada pela Ella Hunt, cujo trabalho mais relevante talvez esteja em O Amante de Lady Chatterlay. Isso acaba prejudicando a narrativa na medida em que quase todas as músicas são desabafos de uma geração que já era completamente desesperançosa e que canta as suas angústias, agora, em um contexto ainda mais desesperador.

Também existem problemas com outros personagens do filme, que são excessivamente estereotipados, como é o caso do personagem do diretor da escola Arthur Savage (interpretado por Paul Kaye), que é bastante caricato. Ele é aquele típico gestor frustrado e inquisidor, que busca manter o colégio sob um regime autoritário e moralista. Ao final, o seu arco narrativo, que é bastante dramático e aterrorizante, é mais um daqueles momentos onde o tom do filme oscila, sem muita sutileza, de um besteirol para um filme de horror.

Ao final, apesar de render alguns momentos divertidos, a produção quer trabalhar com muitos elementos ao mesmo tempo, o que acaba deixando o tom cada vez mais confuso até a resolução de todas as tramas. Além disso, essa estratégia narrativa acaba prejudicando o ritmo do filme, que é extremamente inconstante, com momentos muito arrastados e sequências frenéticas. O desenvolvimento dos personagens é absolutamente superficial – como é de se esperar em um musical adolescente – mas, ao final, alguns arcos são dramáticos e assustadores demais para convencerem. Nesse sentido, muitos personagens importantes morrem e são descartados da narrativa sem mais nem menos.

Portanto, Anna and the Apocalypse não deve agradar ao público dos musicais de horror, nem mesmo ao dos filmes natalinos. Porém, o filme possui algumas boas músicas que despertam um mix de sensações, boas e negativas, de uma data que é ambígua por natureza. Além disso, o longa faz um aceno para uma discussão interessante sobre o espírito da juventude contemporânea em meio ao processo de digitalização da vida e de artificialidades em um mundo fadado ao fracasso do fim.

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