![]() Mar em Chamas
Original:Nordsjøen / The Burning Sea
Ano:2021•País:Noruega Direção:John Andreas Andersen Roteiro:Lars Gudmestad, Harald Rosenløw-Eeg Produção:Therese Bøhn, Catrin Gundersen, Martin Sundland Elenco:Rolf Kristian Larsen, Kristine Kujath Thorp, Henrik Bjelland, Anders Baasmo, Bjørn Floberg, Christoffer Staib, Anneke von der Lippe, Cengiz Al |
O fator motivador de boa parte dos filmes de desastre é, além de explorar sequências de destruição e suspense, mostrar que danos ambientais trazem consequências. O cinema de Hollywood já consumiu a temática à exaustão, com cineastas como Roland Emmerich e Michael Bay em produções pouco convincentes e totalmente ufanistas. Mas o universo cinematográfico é bem mais amplo que se imagina e cada vez mais estão despontando produções no estilo, oriundas de países como China (Separados pelo Destino, 2010), Rússia (Voo de Emergência, 2016), Suécia (O Inimaginável, 2018) e Coreia do Sul (Alerta Vermelho, 2019, Sobreviventes – Depois do Terremoto, 2023), sem precisar mencionar o ciclo de monstros gigantes japoneses. E a Noruega também tem bons exemplares que valem uma espiada, como a trinca A Onda (2015), Terremoto (2018) e Mar em Chamas (Nordsjøen, 2021), sendo estes dois últimos comandados por John Andreas Andersen.
A ameaça da vez é a queda de uma plataforma petrolífera, o início de uma cadeia de eventos que podem culminar em uma tragédia ambiental sem precedentes. Como é de praxe em produções do estilo – e acabam sendo fatores inevitáveis na humanização do roteiro -, o evento vem acompanhado de complicações familiares, frieza dos responsáveis, heroísmo e até sacrifício. Apesar de algumas obviedades, trata-se de um bom exemplar de thriller de desastre, com elementos de drama e um bom elenco, sem apelar para efeitos exagerados, ondas imensas e prédios destruídos. O longa está chegando à plataforma Adrenalina Pura nesta segunda-feira, dia 27, e vale seu testemunho.
“É como dirigir um carro: em alta velocidade e por muito tempo nunca acaba bem. É um risco de incidentes indesejáveis.“. No relato inicial de William Lie (Bjørn Floberg), ele relata que está no ramo petrolífero desde 1971, com bons ganhos financeiros, seguindo à risca o que os americanos diziam que precisava ser feito. No “Mar do Norte“, um dos títulos da produção, foram construídas várias plataformas de exploração de petróleo, perfurando o solo a ponto de deixá-lo como um “queijo suíço“, algo que, claro, culminaria em prováveis incidentes no futuro. Quando uma delas tomba, Lie convoca Sofia (Kristine Kujath Thorp) e Arthur (Rolf Kristian Larsen), que trabalham com robôs-serpentes para auxiliar em investigação submersa. Ambos assinam um contrato de confidencialidade e são levados ao local para operar uma exploração em busca de sobreviventes, possivelmente mantidos em bolhas de ar.
Corpos e um sobrevivente são avistados, pouco antes de um vazamento de gás ocasionar uma explosão. As filmagens submersas, realizadas pelo robô, evidenciam uma rachadura imensa, reflexos das perfurações, e que poderá abalar outras plataformas em um efeito dominó e gerar vazamentos de óleo em gigantesca escala. Além do receio que o desastre irá afetar a fauna e a flora e tornar inabitável cidades litorâneas por mais de um século, Sofia ainda tem uma preocupação pessoal: o namorado Stian (Henrik Bjelland) trabalha na plataforma Gullfalks A, que, juntamente com outras, está em processo de fechamento e evacuação. Devido a um problema com o Poço A, o chefe da estrutura, Ronny (Anders Baasmo), diz que precisará ser realizado um procedimento manual, e Stian se oferece para a ação.
Quando todas as plataformas começam a tombar, a evacuação é realizada sem Stian, considerado por Lie morto no incidente. Enquanto o vazamento se espalha e há a provável sugestão que o óleo seja incendiado, Sofia se une a Arthur numa missão de resgate sem autorização, acreditando que o rapaz possa estar vivo. Mas para isso terá que enfrentar o abalo das estruturas e a incidência do “mar em chamas“, numa corrida contra o tempo para evitar que Odin (Nils Elias Olsen) fique sem o pai.
Carregado em trilha sonora apocalíptica, como se algum troll gigantesco fosse despontar do oceano, o longa se beneficia pela carga dramática nas sequências de resgate, a partir de inúmeras facilidades do roteiro de Lars Gudmestad e Harald Rosenløw-Eeg. Apesar dos bons efeitos digitais e das tecnologias apresentadas, a dimensão do problema parece em nenhum momento afetar o espectador. Existe a preocupação com os personagens, desenvolvidos pela vontade de Sofia de morar junto com o namorado, sem receber o devido convite, e agora luta para buscá-lo em algum tubo de parte da plataforma destruída; e pelo olhar tristonho de Ronny ao garoto que aguarda o retorno prometido de Sofia com o pai. Tem até aquela fala típica de “quem de vocês vai contar para o menino que o pai não irá voltar?“.
E o momento mais aguardado pelo título parece mais distante e menos desastroso do que deveria ser. Para quem aguarda um inferno marítimo, em proporções dantescas, vai precisar se contentar com câmeras na mão em algumas sequências e a visão afastada de um fogo de duração curta. E, mais do que a sobrevivência de uma família, o que mais importa é o que foi perdido pelo desastre ambiental, mesmo que em uma escala menor do habitué em produções similares. A recomendação se deve ao suspense que acompanha a maior parte da projeção e pela oportunidade de ver heróis de ocasião e reencontrar a ganância de quem pouco se importa com a vida humana, além dos gastos e do acordo de confidencialidade.