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O Segredo do Lago Mungo
Original:Lake Mungo
Ano:2008•País:Austrália
Direção:Joel Anderson
Roteiro:Joel Anderson
Produção:Georgie Nevile, David Rapsey
Elenco:Rosie Traynor, David Pledger, Martin Sharpe, Talia Zucker, Tania Lentini, Cameron Strachan, Judith Roberts, Robin Cuming, Marcus Costello

Uma jovem morre afogada durante um passeio e uma série de aparições fantasmagóricas passam a assombrar a sua família. Essa é a premissa não muito inovadora do longa-metragem O Segredo do Lago Mungo (Lake Mungo), de 2008, que é roteirizado e dirigido por Joel Anderson, conhecido mais recentemente pelo excelente Entrevista com o Demônio. Aqui, o diretor aposta no gênero mockumentary para contar uma história que envelheceu como vinho, mas deixou a desejar no desenvolvimento da relação entre os personagens com o ícone maior do mistério – o lago.

Enquanto ficção, o longa-metragem funciona até bem; estruturalmente, enquanto (falso) documentário, ele é excelente – apesar do gênero estar saturado nos últimos anos.

Flertando com a metodologia de apuração do jornalismo, o documentário pode ser considerado uma espécie de gênero audiovisual desse campo de produção da comunicação. Ao utilizar documentos, fontes e com uma estrutura narrativa própria de matérias jornalísticas, esse tipo de obra reivindica a verdade para si a todo momento. Por isso, a escolha do subgênero mockumentary em O Segredo do Lago Mungo, que por sinal é muito bem executada é, por si só, um elemento que ajuda a narrar os fatos, incutindo na cabeça do espectador dúvidas sobre a veracidade dos acontecimentos.

Esse recurso de linguagem, apesar de ser esperado em um filme de assombração, contribui para o reforço de um ambiente de mistério e medo, que é desperdiçado no segundo ato. Isso porque o rumo que é tomado na história parte de uma decisão preguiçosa que gera uma quebra de expectativa já conhecida no universo cinematográfico do horror: justamente quando os relatos de aparições ficam mais intensos, eles são colocados em descrédito na história de forma completamente anticlimática e previsível, o que quase estraga a experiência do espectador.

Ainda sobre o tom da obra, em alguns momentos, espera-se que a história inclua também elementos de eco horror e drama familiar, mas não há o desenvolvimento ou referência a  nenhum outro gênero e algumas subtramas não são plenamente exploradas. Como consequência disso, o enredo perde muitas oportunidades de tornar o filme um pouco mais memorável e diferenciado dos demais de seu subgênero.

Já em relação às escolhas estéticas, surpreendentemente a fotografia é muito bonita e ajuda a envolver o espectador na história como se ela fosse real. O uso de imagens gravadas por câmeras caseiras possuem uma certa qualidade, apesar de claramente serem produzidas para o longa – até mesmo porque é um típico filme de 2008. No entanto, ainda assim, os vídeos mostrados como evidências da assombração conseguem ser assustadores e provocam o efeito “encontrar o fantasma na imagem” no público.

Certamente o ponto mais fraco do filme está no segundo ato, que além de ser um balde de água fria, atrasa o terceiro momento do filme, que é bem mais instigante. Neste ponto da narrativa, os segredos da falecida Alice Palmer (Talia Zucker) começam a ser revelados, desencadeando uma série de outros acontecimentos que apavoram a família e surpreendem o espectador. Finalmente, nessa altura, as relações entre os personagens começam a ser mais explicados e os desdobramentos salvam a história, que começava a ficar repetitiva e pouco interessante.

Dito isso, o destaque do elenco é Talia Zucker (Alice), que convence como uma adolescente popular, cheia de amigas, mas que esconde segredos perturbadores. A atriz em cena chama a atenção e transmite medo e muitos conflitos internos, uma vez que ela precisa ser uma vítima da qual todos desconfiam para que o mistério envolto à sua morte funcione bem. Rosie Traynor (June Palmer) e David Pledger (Russell Palmer), respectivamente mãe e pai da jovem, são competentes em transmitir o desejo de saberem mais sobre as circunstâncias da morte da filha. E, por último, Martin Sharpe como Mathew Palmer, irmão de Alice, é um personagem que toma decisões burras pouco justificadas – um problema de roteiro que acaba prejudicando a performance do ator.

Seja porque o lago realmente existe ou porque a cena mais assustadora de todo o filme se passa nesse local – Mungo deveria ser o personagem principal da trama.

A decepção reside no fato de que o local está diretamente conectado com as circunstâncias da morte de Alice, pouco elucidadas no longa. O erro só parece ser consertado nos últimos minutos do filme, quando a ligação da falecida com o lago fica mais explícita, sendo criada uma espécie de mitologia que não é aprofundada. Com isso, o filme tem bons momentos, mas não é incrível ao ponto de explorar todo o horror de segredos não revelados que corroem e podem ser fatais.

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