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O Macaco
Original:The Monkey
Ano:1980•País:EUA
Autor:Stephen King•Editora:

Na infância, certos acontecimentos são tão marcantes que nos acompanham para sempre. Tanto lembranças boas quanto momentos traumáticos acabam sendo levados para o resto da vida quando ocorrem nessa época, impactando diretamente nossa personalidade e escolhas. Do mesmo modo, nos apegamos mais facilmente às coisas quando crianças. Quem não teve um brinquedo favorito inesquecível, ou mesmo um objeto aleatório qualquer que, se visto anos depois, vai despertar memórias afetivas? E isso vale também para os traumas. Alguma decoração amedrontadora, algum boneco que te dava calafrios só de olhar…esse tipo de coisa fica marcada ainda mais fundo, afinal, o medo é um sentimento poderoso e paralisante. Não é à toa que o conceito de bonecos assassinos e objetos amaldiçoados é tão utilizado nos filmes de terror, além de fazerem parte de inúmeras lendas urbanas (quem nunca ouviu falar do disco da Xuxa ou do boneco do Fofão? Até que não era nascido nessa época já ouviu tais lendas). O medo desses brinquedos pode te acompanhar durante toda sua fase adulta, pior ainda se algum deles decide reaparecer do mais absoluto nada, despertando todas aquelas memórias terríveis e nada afetivas que deveriam fazer parte do passado.

Brincando com isso, Stephen King escreveu um conto que fala sobre um brinquedo de aparência inofensiva, mas que pode ser assustadora quanto mais se presta atenção. E, sendo King o mestre do terror, é claro que o tal brinquedo não é comum e muito menos inofensivo, e sim amaldiçoado e terrível. Estamos falando do conto O Macaco, escrito em 1980, que faz parte da antologia Tripulação de Esqueletos, publicado no Brasil pela editora Suma.

Enquanto vasculha caixas de sua antiga casa, Hal Shelborn encontra um velho brinquedo de infância dado por seu pai: um daqueles macacos que segura um prato em cada pata a fim de batê-los quando acionada a corda. Um item de colecionador. Bonitinho à primeira vista, mas com um olhar e sorriso macabros que escondem intenções sombrias. O macaco desperta péssimas lembranças da infância em Hal que, agora como pai de família, fica desesperado ao avistá-lo novamente. Quando criança, esse brinquedo fora jogado em um poço fundo após uma série de tragédias acontecerem. Tragédias essas que, curiosamente, aconteciam sempre após o macaco bater seus pratos em uma sinfonia fatal.

Em aproximadamente 20 páginas, King trabalha o horror psicológico e sobrenatural. Não apenas imaginar a aparência do macaco pode dar calafrios, mas também o fato de nunca saber quem vai morrer ou quando os címbalos serão tocados, já que aparentemente o diabólico macaco possui vontade própria. É algo absurdo, por ser um macaquinho de plástico, ao mesmo tempo que é completamente plausível. Se tumbas podem conter maldições e isso ser algo totalmente aceitável, por que um objeto desses não poderia ser amaldiçoado? Desgraças acontecem enquanto uma marcha fúnebre é tocada por um brinquedo ridículo. E isso é assustador, mas também faz sentido, de uma maneira um tanto perturbadora. Especialmente na cabeça de uma criança. Os objetos com as aparências mais adoráveis costumam ser os mais apavorantes, vide aquelas bonecas de porcelana que parecem estar à espera para sugar sua alma. Ou, dando um exemplo cinematográfico, o boneco Chucky é muito mais medonho quando na sua forma fofa de “Good Guy” do que no modo assassino cheio de remendos.

É uma história que vai tocar mais fundo especialmente àqueles que já tiveram alguma experiência ruim, tem alguma história assustadora ou simplesmente tinha medo de algum brinquedo quando criança. O pavor crescente de que todo aquele horror de anos atrás está de volta, e agora ameaça seus próprios filhos, é palpável. Hal tenta fingir normalidade, mas dá para sentir seu terror através das palavras durante toda a narrativa, do começo ao desfecho. Não sabemos o motivo do objeto ser amaldiçoado e nem temos um grande desenvolvimento dos personagens, mas isso acaba não importando tanto. As pessoas morrem, e a culpa é do macaco.

Além do fato de não saber quando ou quem morrerá, o aspecto psicológico está presente também justamente nisso de objeto maldito. Quando crianças, somos mais suscetíveis e nossa imaginação desconhece limites, logo, é perfeitamente aceitável que nosso jovem e ainda em desenvolvimento cérebro associe que algo ruim aconteceu porque um chinelo estava virado, por ter passado debaixo de uma escada, por ter pisado em uma fenda no chão, ou por um macaco de brinquedo ter batido seus pratos do mal. As superstições tem as origens mais absurdas, e o medo faz com que essa associação de que algo ruim aconteceu após tal coisa ter sido feita seja inconsciente, ficando marcada e sendo passada por gerações.

King conseguiu brincar com o imaginário das pessoas usando uma premissa simples e um objeto bobo, criando uma história macabra de atmosfera sinistra. Cuidado com os brinquedos de infância, nunca se sabe quando eles serão amaldiçoados e se rebelarão. E lembre-se que todo mundo morre. Um dia. Talvez algum macaco batendo seus pratos anuncie que o dia está mais perto do que imagina.

Osgood Perkins (Longlegs) dirige a adaptação do conto O Macaco, com produção de James Wan. O diretor afirma que, dado o absurdo do brinquedo utilizado no conto, preferiu seguir a linha “comédia sombria”, buscando apresentar cenas que misturam humor e momentos grotescos. O autor Stephen King aprovou a adaptação de seu conto, e compartilhou sua opinião no Threads: “Você nunca viu nada como O MACACO. É insano pra caramba. Como alguém que já se entregou a insanidades de vez em quando, digo isso com admiração.

O longa estreou nos cinemas brasileiros no dia 6 de março de 2025.

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