![]() Serra das Almas
Original:Serra das Almas
Ano:2024•País:Brasil Direção:Lírio Ferreira Roteiro:Audemir Leuzinger, Paulo Fontenelle, Maria Clara Escobar Produção:Alcir Lacerda Filho, Daniela Vieira Elenco:Ravel Andrade, Vertin Moura, Jorge Neto, Mari Oliveira, David Santos, Pally Siqueira, Julia Stockler |
Serra das Almas é um daqueles filmes que aborda a existência de dias na nossa vida em que tudo que possa dar errado… vai dar errado. Começamos com o que parece um sequestro, onde três vítimas são levadas para uma casa em meio à serra em Pernambuco e a paz da natureza. Um casal recepciona essas pessoas e acaba mais envolvido do que gostaria.
A jornalista investigativa Samanta (Júlia Stockler) e sua estagiária Luiza (Pally) trabalham em uma matéria que parece ser um grande esquema de corrupção: uma figura pública famosa desvia dinheiro público e trafica joias preciosas.
Em contrapartida temos os outros rapazes que acreditam ser uma das poucas oportunidades para se fazer dinheiro, lidando com quem já o tem. Para isso estão dispostos a passar de limites acreditando numa impunidade que atrapalha todo seu plano inicial.
As cenas de ação são executadas com excelência e encaixam em momentos muito coerentes com o tom dramático do filme. São bem coreografadas e ambientadas, deixando uma tensão e expectativa pela desgraça do começo ao fim.
O elenco possui uma ótima dinâmica, trazendo atuações para personagens muito verossímeis. Isso é elevado pela qualidade de um roteiro pé no chão, sabendo onde encaixar humor, drama e ação.
Temos uma dualidade de ambientações que traz uma riqueza aos elementos principais para evidenciar as diferenças entre as realidades das personagens. Ao mesmo tempo, possui cenas de flashbacks de uma cidade urbana, moderna, barulhenta e caótica, que contrapõem com o isolamento, silêncio, vastidão da natureza de um nordeste periférico. A maior parte da trama se passa na casa isolada na Serra, onde todo o desdobramento da investigação e do sequestro sofre suas consequências.
Os flashbacks dão uma profundidade e personalidade contando as histórias de todos os envolvidos. Porém, algumas cenas se estendem, causando uma ruptura no ritmo da história que nem todo momento funciona bem. E também serve apenas para criarmos empatia e não necessariamente para que as personagens se desenvolvam. A personagem da atriz Mari Oliveira, por exemplo, é mal aproveitada, e parecia ter uma importância maior (com uma das maiores atuações do filme), mas parece estar sempre na superfície de momentos muito pontuais.
E por falar em superfície, apesar do filme querer levantar críticas importantes sobre questões recorrentes regionais e no nosso cenário brasileiro como um todo, o roteiro parece não chegar a lugar algum. O filme acaba com suas críticas ao pincelá-las de maneira superficial e não fazendo nada com elas de fato.
Ainda assim, consegue agradar os fãs com um bom “plot twist” enquanto conecta as relações de personagens tão diferentes em uma situação tão inusitada e caótica. Com mortes criativas e bem “encaixadas”, Lírio Ferreira mostra uma direção consistente neste thriller pernambucano que agrega muito ao cinema de gênero nacional.
Com surtos, sangues e luta por poder, Serra das Almas chega hoje aos cinemas brasileiros. Intencionalmente sem muitas respostas, o longa já se faz válido pelas questões que levanta. Suas contradições em tela são características palpáveis do que vivemos fora dela como país.
A esquerda deve amar esse filme.