![]() Sociedade dos Talentos Mortos
Original:Gui cai zhi dao
Ano:2024•País:Taiwan Direção:John Hsu Roteiro:Kun-Lin Tsai, John Produção:Tung Ting-an Elenco:Chen Bolin, Sandrine Pinna, Gingle Wang, Yao Yi Ti, Bai Jing-yi, Soso Tseng, Lin He-Hsuan, Huang Di-yang, Milia Luo, Peace Yang, Luke Hong, Lung Hor, Geifan, Una Jiang, Jaw Cheng Hung |
Após a morte existe um prazo de 30 dias para que cada espírito trabalhe duro para se tornar uma lenda urbana e não cair no esquecimento. Caso não tenha prestígio e reconhecimento no pós-vida, sua alma desaparece para sempre. Mas e quando você não é assustador o suficiente e morreu de uma maneira “sem graça”?
Esse é o prazo e a missão da nossa protagonista novata na morte, que contará com a ajuda de um “agente de talentos de susto” e sua equipe para não precisar “sumir”. Enganado está quem achou que haveria descanso. No longa os fantasmas precisam trabalhar, ganhar dinheiro, pagar pra comer, tirar uma licença para assombrar e participam de competições na TV aberta concorrendo ao prêmio “Susto de Ouro”. E inclusive até pegam transporte público. Sumir e aparecer em lugares distantes? Coisa de filme… digo… outros filmes!
Dead Talents Society (2024) é dirigido por John Hsu e traz diversão garantida em seu novo terrir. Mesclando críticas sociais, o filme é uma grande sátira sobre a relação das pessoas com a fama, a produtividade e, por que não, ao próprio sistema capitalista.
O filme ainda tira sarro de vários clichês utilizados em obras de horror. Em uma cena em que a protagonista fica parecida com a Samara de O Chamado e sua colega questiona que é apenas um cabelo grande no rosto. É possível conferir várias piadinhas e referências a outras obras asiáticas de sucesso, em diversas cenas. Inclusive os próprios fantasmas acabam se assustando, se machucando e provando “na prática” o quanto alguns dos clichês não fazem muito sentido.
Apesar de ser um terrir escrachado, o roteiro possui pitadas emocionais, principalmente ao abordar a solidão como um dos temas principais. As personagens possuem suas questões pessoais dando a entender que cada um tem, da sua forma, o objetivo de se sentir pertencente em algum lugar ou grupo. O ser visto e não desaparecer dos fantasmas é uma analogia para essa questão social muito presente na cultura asiática.
Além de um roteiro consistente, toda a montagem e fotografia são extremamente bem pensadas em seus detalhes. Como a revista VOGUE que “do outro lado” é chamada de MORGUE (necrotério em português), além de personagens muito identificáveis com a vida real como influencers, apresentadores de reality shows e talk shows, e agentes cheios de promessas com cheiro de enganação no ar.
Existe também o arco das duas celebridades que competem entre si. A lenda que assombra há anos um quarto de hotel da mesma maneira e uma jovem assombração assustadora que utiliza dos meios tecnológicos como viralizar na internet para passar a maldição adiante, pensando na dualidade entre a modernidade e métodos clássicos, além de criticar como certas competições entre nós e o nossos, no fundo, nem deveriam existir.
Os fãs de ação e do gore também devem apreciar os efeitos práticos. Não poupando sangue, o filme possui muitas cenas com lutas e movimentos coreografados que são uma boa pedida nessa mistura de gêneros que torna o longa extremamente divertido e aproveitável.
Dead Talents Society coloca seu holofote em personagens carismáticos e principalmente nos socialmente rejeitados ou tidos como estranhos. Criando empatia e identificação, traz uma mensagem positiva que nunca é tarde para criar conexões e encontrar “os seus”.
Mesmo com a frustração da “vida após a morte” ser tão semelhante com a realidade da “vida de fato”, o filme traz a mensagem de que não precisamos performar o tempo todo para sermos considerados alguém. As mídias e redes sociais não são medidores de valor, conexão ou merecimento. Cada personagem se basta como é. Somos suficientes.
Sociedade dos Talentos Mortos teve sua estreia diretamente na Netflix e entretém tanto em seus 110 minutos com sua leveza e crítica, que mal sentimos o tempo passar. Vale a pena conferir e boa diversão!