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A Sombra do Pai
Original:A Sombra do Pai
Ano:2018•País:Brasil
Direção:Gabriela Amaral
Roteiro:Gabriela Amaral
Produção:Rodrigo Teixeira, Rodrigo Sarti Werthein, Rune Tavares
Elenco:Nina Medeiros, Julio Machado, Luciana Paes, Rafael Raposo, Tomás Decina, Clara Moura, Dinho Lima Flor, Naloana Lima, André Luiz

Ainda que se produza menos do que se poderia – considerando o público enorme que consome o gênero no Brasil -, dá para dizer que o cinema de terror nacional vem passando por um período de efervescência. É isso o que atestam produções como As Boas Maneiras (2017), O Clube dos Canibais (2018), Propriedade (2022) e O Animal Cordial (2017), este último, a ótima estreia de Gabriela Amaral Almeida na direção de longas-metragens. Em relação aos exemplos que citei, é muito bom também perceber que se trata de filmes bastante diferentes entre si, embora possuam em comum a temática da tensão social, do choque de classes.

O mesmo se aplica ao segundo longa de Gabriela, A Sombra do Pai (2018). Ainda que a narrativa se incline mais para o cotidiano da personagem da pequena Dalva (Nina Medeiros), o dia a dia de seu pai, Jorge (Julio Machado), no canteiro de obras em que trabalha é um elemento essencial. Deprimido pela morte mais ou menos recente da esposa (Naloana Lima) e assombrado (literalmente) pelo presente massacrante e o futuro desolador da realidade do trabalho braçal, Jorge vai se tornando o morto-vivo que coloca em perigo a filha Dalva, aparentemente dotada de poderes sobrenaturais.

Outra similaridade entre O Animal Cordial e A Sombra do Pai é a trama contida em poucos cenários – no primeiro, o restaurante, no segundo, a casa da família e o prédio em construção. Contudo, a predileção da diretora por closes nos personagens faz com que os cenários sejam subutilizados. Nunca chegamos a conhecer direito aquela casa, nunca chegamos a sentir-nos transportados para lá, e isso faria muita diferença na construção do suspense, especialmente a partir da hora em que Dalva começa a passar boa parte do dia ali sozinha.

Arrisco a dizer que os momentos de maior terror em A Sombra do Pai são aqueles em que Dalva assiste a Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989) e A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968) na tevê, referências que dialogam com o que acontece no enredo, mas que acabam funcionando como um tiro no pé devido ao contraste que provocam.

O recurso de contar a história através de fragmentos que não necessariamente se relacionam, formando uma espécie de mosaico narrativo parecido com o que Kleber Mendonça Filho utilizou em O Som ao Redor (2012), vai tornando- se arrastado e cansativo ao apresentar sequências e cenas que vão do nada a lugar nenhum, levantando a dúvida se esse não seria mais um daqueles casos de curta-metragem esticado ao máximo para virar um longa.

Com exceção da tia de Dalva, Cristina (Luciana Paes), e do namorado dela, Elton (Rafael Raposo), nenhum dos personagens parece uma pessoa de verdade. E, ironicamente, isso ocorre por causa de uma busca por realismo, embora ainda dentro de um gênero fantástico. A fim de tentar conferir densidade psicológica aos personagens, dá-lhe semblantes graves, comportamentos apáticos, silêncios longamente estendidos, como se todos ali carregassem o mundo nas costas o tempo todo. Até a única amiguinha de Dalva, Abigail (Clara Moura), muda para um comportamento sombrio e hostil de uma hora para outra.

No terreno das ideias, A Sombra do Pai levanta muitas questões interessantes quanto ao luto, à crença no sobrenatural, ao processo esmagador do capitalismo e ao papel masculino em um ambiente doméstico, mas a maior parte delas parece propositalmente mal desenvolvida, como se numa tentativa de colar o filme mais ao cinema “de arte” (e bota aspas nisso) do que ao gênero terror, talvez numa busca tola por validação artística em um país ainda sem tanta tradição no cinema fantástico. Uma pena.

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