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Lady Killers Profile: Mary Ann Cotton
Original:Mary Ann Cotton – Dark Angel Britain’s First Female Serial Killer
Ano:2023•País:UK
Autor:Martin Connolly•Editora: Darkside Books

Quando falamos em assassinos ingleses, imediatamente o primeiro nome que vem à mente é o de Jack, O Estripador. Porém, pelo menos duas décadas antes de Jack amedrontar os moradores de Whitechapel, havia uma mulher que foi considerada a primeira serial killer da Inglaterra – e uma das mais mortais da era vitoriana. Mary Ann Cotton ficou conhecida por matar mais de vinte pessoas envenenadas, todas próximas a si, em especial pessoas de sua família. Será que essa dama vitoriana conhecida como Anjo Negro realmente foi tão letal assim? Sua história é destrinchada em mais um livro da série Lady Killers, publicado pela DarkSide Books.

Mary Ann perdeu o pai ainda criança, e começou a trabalhar desde cedo. Considerada como dona de uma beleza chamativa, não demorou para conseguir um casamento com um modesto trabalhador, William Mowbray. E foi a partir daí que seu caminho ficou marcado por mortes por onde passava. Mary Ann e William tiveram oito filhos, mas apenas três sobreviveram, enquanto os outros morreram de febre gástrica. Não era incomum bebês, crianças e pessoas mais frágeis morrerem por causa de febre ou complicações intestinais no período vitoriano, então as mortes não foram contestadas, foi apenas mais uma tragédia no meio de tantas outras. Mais de uma década após ter se casado, seu marido também morreu do mesmo mal que levou seus filhos, e Mary Ann herdou um pequeno montante de dinheiro de seu seguro de vida. Posteriormente, apenas uma de suas filhas continuou viva, a qual ela deixou aos cuidados da mãe. Mary se casou mais três vezes, e as mortes ao seu redor continuavam acontecendo, sempre pelo mesmo motivo. Seus maridos, filhos, enteados, até mesmo a própria mãe, encontraram um doloroso fim devido a gastroenterite. A única a escapar ilesa desse mal era, curiosamente, a própria Mary Ann, que frequentemente herdava a apólice de seguro de seus entes (não tão) queridos.

Como já foi documentado inúmeras vezes, o arsênico era um veneno de fácil acesso naquela época, causando sintomas semelhantes a doenças comuns do período vitoriano. Desse modo, o envenenamento por arsênico era o modo mais eficaz de se livrar de alguém indesejado. Mas muitas mortes podem levantar suspeitas e, após a morte de seu último enteado, Charles Edward Cotton, descobriram que praticamente todas as pessoas que se envolveram com Mary Ann tiveram o mesmo tipo de fim.  As autoridades foram alertadas, os corpos foram exumados e encontraram arsênico presente em vários deles. Após um julgamento duvidoso de apenas três dias e com uma cobertura extremamente sensacionalista da imprensa, transformando o julgamento em um verdadeiro circo midiático, Mary Ann Cotton foi considerada culpada e sentenciada à forca.

No livro, Martin Connolly aborda os pormenores do caso com seriedade e imparcialidade, dando uma ênfase maior no conturbado julgamento, já que muita coisa acerca dos crimes é um tanto nebuloso e não há provas definitivamente concretas – o que por si só já torna sua condenação questionável. Ao longo das décadas, historiadores revisitaram o caso e afirmam que Mary Ann pode ter sido julgada injustamente apenas por ter sido uma mulher que se casou diversas vezes, coisa que era extremamente malvista na época.  A quantia que recebeu dos seguros não era alta o suficiente para valer o risco de tantas mortes, os testes de envenenamento eram imprecisos e podiam ser contaminados com facilidade, o arsênico estava presente em medicamentos, cosméticos e até mesmo em papéis de parede, o que faz com que fosse comum as pessoas terem a presença do elemento no corpo e, além de tudo, Mary não era a única a lidar com os falecidos, mas foi a única suspeita. O autor discorre sobre o assunto de forma prolixa, de modo que não temos um veredito definitivo, e sim uma grande falta de provas e testemunhos contraditórios. Há muitos motivos para ela ser sim a culpada, assim como pode ter sido vítima de várias tragédias e não teve uma boa orientação para se defender. Pode ser estranho, mas acontece. A possibilidade mais aceita é que Mary Ann – apesar de ter desesperadamente tentado se provar inocente até o fim – seja sim culpada de algumas mortes, mas é muito provável que várias delas tenham sido apenas fatalidades devidas à extrema insalubridade da época vitoriana.

O conteúdo do julgamento é extenso, o que deixa a leitura um pouco cansativa em certo ponto, especialmente pelo autor se repetir muitas vezes e usar diversos termos técnicos, além de escrever detalhadamente sobre o funcionamento do sistema jurídico vitoriano. É compreensível o autor ter se focado mais no julgamento, afinal é esse o material que foi mais amplamente documentado e divulgado, porém, apesar de ser interessante saber como o sistema funcionava, há muita repetição em determinados capítulos, o que faz com que a obra seja um pouco enfadonha para alguns entusiastas de true crime que preferem um foco maior nos crimes.

Apesar do material rico em detalhes e cheio de registros de documentos reais que envolvem o nome de Mary Ann Cotton, as muitas tecnicidades presentes podem não agradar a todos. No final, não sabemos se Mary Ann, foi de fato uma assassina em série cruel e impiedosa, se matou por necessidade e desespero, ou se apenas foi duramente julgada por ser uma mulher que não se adequava às normas da sociedade. A única coisa que podemos afirmar é que, seja verdade ou injustiça, seu nome entrou para a história.

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