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O Massacre da Família Hope
Original:The Only One Left
Ano:2024•País:EUA
Autor:Riley Sager•Editora: Intrínseca

Em 1892 um caso horrendo chocou os Estados Unidos, e até hoje tudo que o envolve  é muito nebuloso. Uma abastada família foi violentamente assassinada a machadadas em sua casa, e a única sobrevivente foi a filha. Você provavelmente já ouviu falar nela: Lizzie Borden. A filha rapidamente se tornou suspeita, afinal, era a única dentro de casa quando o crime aconteceu, mas também não demorou para ser considerada inocente pelo júri. A falta de provas, especialmente da arma do crime, fez com que ela fosse solta, mas viveu o resto da vida como se estivesse em uma prisão, sendo hostilizada por onde passava, isolada e sem sair de casa. O caso foi ganhando força no imaginário popular ao longo das décadas, e rendeu diversas produções e uma rima em forma de cantiga infantil. Até hoje é um mistério se Lizzie realmente cometeu aqueles assassinatos e onde estava a arma do crime. Inspirado por esse caso, o autor Riley Sager faz uma releitura atual do caso de Lizzie Borden em O Massacre da Família Hope.

Kit McDeere é uma cuidadora de idosos que ficou meses suspensa após um incidente com um paciente. Um dia, é chamada para voltar ao trabalho, mas é claro que nada seria como antes. Ela é chamada para cuidar da infame Lenora Hope, uma idosa conhecida por ter supostamente assassinado toda a sua família quando era jovem, mas, por falta de provas, acabou sendo absolvida. Além do fato de cuidar de uma provável assassina, a mansão fica no alto de um penhasco, isolado de tudo e de todos e com ares de mansão mal-assombrada. Definitivamente Kit não quer aceitar esse emprego, mas se vê sem escolha. Chegando à assustadora mansão, onde marcas do crime estão por toda a parte, a cuidadora é recebida pela governanta, a séria e rígida Sra. Baker, que entrevista rapidamente a moça e informa que Lenora é completamente inofensiva, já que devido a uma série de derrames e problemas de saúde a velha senhora não fala, não anda e não consegue fazer nada sozinha, por isso precisa de uma cuidadora 24 horas por dia, de forma que Kit precisará morar na mansão. Receosa, Kit começa a fazer seu trabalho, mas tudo muda quando Lenora datilografa, com a única mão que ainda consegue mover, a seguinte frase “eu quero te contar tudo”.  Essa única frase desperta a curiosidade de Kit, que terá sua vida mudada para sempre com as revelações que estão prestes a serem feitas.

Esse é um daqueles livros que desperta a curiosidade logo nas primeiras páginas, com um mistério habilmente construído de tal forma que se torna impossível largar a leitura, com traços de terror psicológico em vários momentos e algumas pitadas de gótico. Há muitas perguntas que rondam Lenora e a mansão, e a cada momento um novo segredo aparece para deixar o quebra-cabeças ainda mais complexo e interessante.

Absolutamente todos os personagens escondem segredos, desde obviamente Lenora e Kit até algum personagem secundário que apareceu meia dúzia de vezes ao longo da trama, mas esconde algo crucial para seu desfecho. Lenora é uma personagem difícil de entender, que ora parece totalmente inocente e injustiçada, ora parece completamente culpada e sem um pingo de remorso, e isso faz com que ela seja fascinante e sem dúvidas a grande estrela do livro. É incrível como uma personagem que não fala uma frase sequer segura o suspense como poucos. Mas não podemos deixar de dizer que os secundários brilham muito e são tão complexos quanto as protagonistas, e também a própria mansão, que acaba virando um organismo vivo e central.

A inspiração utilizada no livro é bem clara, e vemos pedaços da história de Lizzie Borden espalhadas ao longo de toda a narrativa, mas sem de fato evocar elementos tradicionais do caso real, como o machado, o que é um ponto positivo. Sager usou a história como base e criou muito mais em cima disso. Em alguns momentos, “mais” até demais.

Até mesmo leitores mais calejados em suspense vão se chocar com algumas das revelações finais. Algumas coisas começam a ficar claras depois de mais da metade do livro, mas outras nos pegam completamente de surpresa. O ritmo é bom e constante, e Riley Sager não deixa a peteca cair ao longo dos capítulos…até chegarmos nas páginas finais. Quase tudo já foi revelado, já tivemos diversas reviravoltas, mas o autor quer mais, e é essa ambição que vira um certo problema. Nada que comprometa seriamente a experiência, mas o livro poderia ser impecável se não fosse a vontade de Sager de querer impactar mais. Não impactou e ainda pareceu um tanto forçado. O impacto já havia acontecido lá atrás, de forma que esse pequeno acréscimo em forma de aproximadamente vinte páginas foi totalmente desnecessário.

O Massacre da Família Hope é um thriller excelente com um suspense que prende desde o início, usando um caso real como inspiração para uma história recheada de reviravoltas e revelações.  Assim como Lenora Hope, provavelmente Lizzie Borden teria grandes segredos a contar sobre o fatídico dia que mudou sua vida caso tivesse uma cuidadora.

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