![]() Dark Star
Original:Dark Star
Ano:1974•País:EUA Direção:John Carpenter Roteiro:John Carpenter, Dan O'Bannon Produção:John Carpenter Elenco:Brian Narelle, Cal Kuniholm, Dre Pahich, Dan O'Bannon, Adam Beckenbaugh, John Carpenter |
Dark Star, estreia do mestre carpinteiro do cinema John Carpenter, é um daqueles filmes malditos cheios de histórias de bastidores, e que de certa forma merece uma nota, ao menos, no grande livro dos filmes mais influentes de todos os tempos, ainda que falhe miseravelmente em alguns de seus objetivos. Influenciado pela corrida espacial daqueles tempos e pelas novas possibilidades que a ficção científica apresentava ao mundo desde a estreia de 2001: Uma Odisseia no Espaço, fugindo um pouco das invasões alienígenas e da paranoia espacial com os quais o cinema das décadas de 1950 e 1960 alimentavam seu público, Dark Star nos apresenta um futuro sujo e de pouca esperança, uma tonalidade que se tornaria padrão entre os filmes do gênero.
Iniciado de forma independente ainda em 1970 e produzido por, então, estudantes da Universidade do Sul da Califórnia, Dark Star tem produção, direção e trilha sonora de John Carpenter, e o roteiro escrito conjuntamente por Carpenter e Dan O’Bannon – este, que viria a ser conhecido pelo roteiro de Alien – O Oitavo Passageiro, aqui também em seu trabalho de estreia.
O filme conta a história de uma trupe de astronautas em uma viagem espacial que já dura 20 anos terrestres. A missão: explorar e explodir planetas potencialmente instáveis e que possam prejudicar futuras colonizações humanas. A nave é comandada por uma inteligência artificial central, e, após alguns anos de viagem, está repleta de avarias: há uma liberação não controlada de material radioativo que pode pôr em risco à vida dos passageiros, problemas elétricos que ocasionaram a morte recente do comandante da nave, e até a falta de papel higiênico devido a um princípio de incêndio em uma das despensas.
Fora isso e ante a incapacidade de receber quaisquer ajudas devido à distância que o veículo se encontra da Terra, os aventureiros são acometidos por um tédio mortal que torna a destruição de planetas no único divertimento possível para alguns deles. O mote da trama se estabelece quando uma das IAs da nave aciona uma bomba fora de hora e os tripulantes precisam correr contra o tempo para desativá-la.
Carregado com o espírito juvenil da época, o que não quer dizer que os passageiros da Dark Star estejam felizes, a obra tenta se posicionar como uma paródia de 2001, não obtendo sucesso em nenhuma das esparsas tentativas de humor. Na verdade, o tédio cósmico compartilhado entre os tripulantes só os distanciam cada vez mais um dos outros, fazendo-os ignorar até os possíveis conflitos.
Um dos destaques é a cenografia, nas representações dos ambientes da nave. Os painéis coloridos, corredores simétricos e com iluminação diferenciada (tudo muito caseiro, diga-se de passagem), e até o local de descanso dos tripulantes (o dormitório improvisado tomado pela bagunça da equipe, com lixo por toda parte, paredes pichadas, pôsteres de nus e bandas de rock nas paredes, etc) contrapõem a assepsia de obras como 2001, dando o tom estético da obra – sujo, improvisado, punk pra caralho.
Esses improvisos também podem ser percebidos em alguns dos efeitos visuais, sempre curiosos em produções do tipo. Um exemplo é o mascote extraterrestre criado pelos tripulantes – uma bola de praia com patas e garras afiadas nada convincente. Esse mascote é o indutor de uma das sequências mais interessantes do longa, quando o personagem Pinback (O’Bannon), fica preso no poço do elevador. É possível observar nitidamente ali as engrenagens criativas do mestre carpinteiro na tentativa de tornar a cena crível, sem maiores artifícios que não os enquadramentos corretos. De uma praticidade genial.
Os personagens, apesar de não não terem nenhum tipo de aprofundamento, funcionam em seus espaços e momentos diminutos, ainda que seja possível dizer muito sobre eles em sua introspecção. Os diálogos são práticos e pontuais, e conseguem revelar, ainda que pouco, o estado mental de todos naquele momento do tempo, o que torna compreensível seus movimentos em cena.
Dark Star teve, originalmente, duração de 45 minutos, sendo expandido posteriormente, a partir de 1973 com a chegada de mais recursos, e estreando, em sua forma final, na Exposição Internacional de Cinema de Los Angeles (Filmex) do ano seguinte. Não foi bem recebido pelo público da época, ainda que tenha sido bem aceito pela crítica geral, chegando aos dias atuais como um clássico “cult” digno de nota.
Não é para menos. Dark Star contém todas as características “artesanais” que fariam a fama de John Carpenter tempos depois. Falha como paródia (o que é triste, pois há um certo esforço nessa direção), mas se destaca ao mostrar as inúmeras possibilidades criativas e práticas que podem ser utilizadas em uma produção cinematográfica deste tipo com pouquíssimos recursos.