![]() DinoGator
Original:DinoGator
Ano:2024•País:EUA Direção:Jim Wynorski Roteiro:Blake Miller Produção:Steven Louis Goldenberg Elenco:Michael Madsen, Grace Roubidoux, Paul Logan, Lauren Parkinson, Aaron Groben, G.J. Echternkamp, Jesse Bernstein, Savannah Goldstein, Bryan Clark, Jack Teague |
A perda recente de Michael Madsen me levou a um caminho de ruindades cinematográficas que desafiaram a minha sanidade. Depois de vê-lo como Dr.Frankenstein no crossover Monster Mash (2024) achei que poderia resistir a mais uma bagaceira com um dos atores favoritos de Quentin Tarantino. A escolha tem a assinatura de Jim Wynorski, um cineasta acostumado a orçamentos de gorjeta, elenco contratado em evento de influencer e algumas doses de nudez e exploração de corpos femininos. Dinogator (parece nome de energético de academia) é uma amostra disso, com um mostro digital de doer os olhos, mas sem corpos nus.
Filmado em 2016 com o título Cobragator – bem mais condizente com a proposta ruim -, e quase lançado em 2018, o filme poderia ter sido largado em alguma gaveta de estúdio para nunca encontrar a luz do dia, mas encontrou uma rota para distribuição ano passado, com exibição direta para a TV. Se você pesquisar, irá encontrar os dois títulos e anos diferentes no IMDB, porém em avaliações distintas. Enquanto Cobragator conquistou a nota 5.6, seu segundo lançamento está com o correto 2.5. Pode ser que os tempos sejam outros; dez anos atrás ele faria muito mais sentido do que hoje. Ou talvez quem avaliou na época conseguiu achar motivos para se divertir com isso aqui, depois de assistir Sharknado e outras bombas de mesma quantidade de megatons.
Começa com um trio de personagens descartáveis adentrando uma caverna. Um casal jovem e um homem mais velho (Jack Teague), o pai da jovem. Ele começa a tocar flauta como um encantador de serpentes – é sério – e o Cobradinogator aparece para devorá-los numa qualidade que nem uma burrice artificial seria capaz de fazer. Dois morrem na hora, enquanto o rapaz mais novo abre caminho de dentro do monstro somente para aparecer morto do lado de fora. Toda a cena é testemunhada por Madsen em sua vestimenta de aventureiro da mata. Ele é Layton, alguém capaz de desenvolver essas criaturas com o apoio de hormônios de crescimento, considerando-as como filho, diferente de seu verdadeiro, Wyatt (Bryan Clark), visto como uma anomalia pelo fato de ser gay.
Ele chama o garoto para recuperá-lo (pode aqui ter um duplo sentido: tentar uma “cura” ao filho na evidência de sua homofobia ou caçar a criatura à solta) numa caçada que envolverá o fortão Jake (Paul Logan), justificando o estereótipo ao ser encontrado numa academia levantando peso. “Ele é pragmático. Sabe o que significa?“, pergunta Layton ao filho, e conclui: “Alguém que faz as coisas sem fazer perguntas.” São apresentados os jovens idiotas que alternarão as ações, os componentes da banda “Swamp Vixens from Uranus“: Izzy (Grace Wes), Rony (Lauren Parkinson) e Aubrey (Savannah Goldstein), além do baterista descamisado Troy (Aaron Groben), aparecendo assim inclusive na ficha do IMDB. Todos já fizeram parte de alguma outra produção do cinema bagaceira de Wynorski como a péssima Parkinson, de Bigfoot or Bust (2022) e Killbots (2023), em suas caretas de roqueira adolescente.
A banda pretende gravar um clipe nos pântanos, com o diretor Dennis (GJ Echterkamp), e levam o guia Nathan (Jesse Bernstein) para conduzir o barco. Entre centenas de “uhulls” e falas que também estereotipam bandas, eles terão problemas com o monstro cobra-jacaré. Não apenas eles, mas alguns coadjuvantes ocasionais, em cenas rápidas, apenas para aumentar o número de mortes, sangue digital e efeitos desgracentos, realizados à luz do dia, o que amplia a falta de qualidade. O roteiro de Blake Miller reserva as principais pérolas para Madsen, como quando eles escutam uma senhora chamar algo no pântano, fazendo-os acreditar que se trata de um cachorro. “Faz sentido se for Vern, mas meus ouvidos dizem que ela está chamando Fern“.
Em dado momento, Layton acerta um tiro sem querer em um dos integrantes da banda. E então, para não ser denunciado, passa a caçar os jovens, esquecendo até a busca oficial do seu “garoto“. Nathan deixa de ser apenas o piloto do barco para se tornar o herói, defendendo as sobreviventes, fazendo curativo, correndo pela mata, em um bug, na construção de armas incendiárias. Os absurdos permeiam toda a produção: uma garota leva um tiro na perna e depois é vista andando normalmente; “Você ainda tem o isqueiro?“, questiona Nathan a uma das moças sendo que em nenhum momento antes o acessório tenha sido mencionado; sem contar as armas que disparam milhares de tiros sem nunca ficar sem bala e promovem sons de biribinhas de festa junina.
Não consigo achar DinoGator divertido. Talvez esteja muito velho para gostar de uma bagaceira como esta, mas nenhuma das piadas funcionaram para mim, e não consegui ter olhos para um filme-paródia, e sim uma produção séria e mal realizada. Não entendi porque o roteiro desperdiçou dez minutos com os sobreviventes atravessando uma caverna para simplesmente não acontecer nada, não cruzarem com o monstro e nem terem confronto com Layton. E nem sequer aceitei facilmente as desculpas para o surgimento do espécime, mesmo com todo o discurso de Madsen para comprovar seus experimentos, sem sequer seu personagem ter noção científica.
DinoGator não deve ser levado em consideração na filmografia de Madsen. Está mais para mais uma podreira de Jim Wynorski do que para algo que mereça ser conhecido pela presença do falecido ator.