![]() O Mestre das Ilusões
Original:Lord of Illusions
Ano:1995•País:EUA Direção:Clive Barker Roteiro:Clive Barker Produção:Clive Barker, Joanne Sellar Elenco:Scott Bakula, Kevin J. O'Connor, Famke Janssen, Daniel von Bargen, Barry Del Sherman, Joel Swetow, Vincent Schiavelli, Sheila Tousey, Joseph Latimore, Susan Traylor |
A mágica tem dois mundos.
Um é o palco reluzente do ilusionista.
O outro, um lugar secreto onde a mágica é real e apavorante.
Neste, os homens são demônios.
E a morte, uma ilusão.
É com essa definição peculiar de magia que começa o terceiro – e último – filme dirigido por Clive Barker. Harry D’Amour (Scott Bakula) é um detetive que ganhou notoriedade após salvar a vida de um garoto durante um exorcismo, passando a ser conhecido como “o detetive do sobrenatural”. Enquanto investigava um caso simples de fraude em Los Angeles, ele presencia o assassinato do cartomante Quaid (Joseph Latimore), cometido por uma criatura de aparência demoníaca e força sobre-humana. Pouco depois, é contratado por Dorothea (Famke Janssen), esposa de Philip Swann (Kevin J. O’Connor), um renomado ilusionista que começa a temer pela própria vida após a morte de seu velho amigo.
A partir daí, Harry se vê envolvido em um intrigante mistério sobrenatural, à medida que segredos do passado vêm à tona, revelando conexões entre Swann, Quaid, Dorothea e outros conhecidos com o poderoso mago O Puritano.
Assim como em seus filmes anteriores – Hellraiser – Renascido do Inferno (1987) e Raça das Trevas (1990) – Clive Barker, escritor, artista visual e cineasta assumidamente gay, aborda, ainda que de forma sutil, a temática da homossexualidade em sua obra. Enquanto Butterfield (Barry Del Sherman) pode ser facilmente associado a um personagem homossexual por sua caracterização, Nix (Daniel von Bargen), o grande vilão do filme, demonstra um amor platônico por Swann, especialmente em uma das cenas finais – momento que pode ser interpretado como um dos maiores ataques de ciúme da história do cinema.
Os efeitos visuais impressionam, ainda mais se considerarmos a época de sua produção e os recursos disponíveis. Entretanto, não são suficientes para compensar algumas falhas do roteiro.
O prólogo, ambientado em um cenário desértico nos anos 1980, mostra o primeiro embate épico entre Swann e sua turma contra Nix e seus seguidores, o que eleva as expectativas do espectador. Infelizmente, daí em diante, o ritmo do filme tende a desacelerar. A narrativa passa a ser marcada por detalhes excessivos e desnecessários, fazendo com que a qualidade da obra decline progressivamente até culminar em um final desanimador e pouco inspirado. O resultado final decepcionou o público, a crítica especializada e até mesmo o próprio diretor.
O Mestre das Ilusões foi baseado no conto The Last Illusion, publicado em 1985 no sexto volume da antologia Books of Blood. A história surgiu do fascínio de Barker pelo mundo do ilusionismo. No entanto, conto e filme apresentam diferenças substanciais. Na história original, por exemplo, Butterfield é um demônio e o principal antagonista da trama, enquanto Nix foi criado especialmente para as telonas, inspirado em casos reais de cultos que cometiam assassinatos sob a influência de líderes carismáticos.
Harry D’Amour, protagonista da história, foi concebido como um típico herói de filme noir. Longe de ser um Van Helsing, ele é um homem problemático, “com um olho para uma bela viúva e aversão a lâminas de barbear”, como definiu seu próprio criador. Segundo Barker, Scott Bakula foi a escolha ideal para dar vida ao detetive – e o acerto foi tão grande que, no futuro, o personagem passou a ser desenhado com as feições do ator nas adaptações em quadrinhos, agradando tanto ao autor quanto aos fãs do filme.
Ao longo de sua trajetória, Harry acumulou diversas aparições, seja no cinema, na literatura ou nos quadrinhos, com destaque para Evangelho de Sangue, onde enfrenta sua maior ameaça: o Sacerdote do Inferno – também conhecido como Pinhead. Definitivamente, um personagem com potencial para futuras produções, quem sabe até mesmo um reboot?
O Mestre das Ilusões é um neo-noir de terror sobrenatural que pode ser considerado mediano. Assim como a carreira de Barker na direção, o filme tem seus altos e baixos: um roteiro frágil, atuações básicas e um desfecho pouco impactante. Ainda assim, chama atenção pela forma como mistura subgêneros – marca registrada do diretor – ao combinar elementos sobrenaturais e de horror com uma trama de detetive noir. O resultado é uma obra visualmente interessante, com efeitos especiais criativos e boas doses de sangue, como somente o criador de Hellraiser poderia entregar.