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A Maldição - Raízes do Terror
Original:The Curse
Ano:1987•País:EUA, Itália
Direção:David Keith
Roteiro:David Chaskin, H.P.Lovecraft
Produção:Ovidio G. Assonitis
Elenco:Wil Wheaton, Claude Akins, Malcolm Danare, Cooper Huckabee, John Schneider, Amy Wheaton, Steve Carlisle, Kathleen Jordon Gregory, Steve Davis

Em tempos de discussões sobre adultização, bastante pertinentes, o sci-fi A Maldição – Raízes do Terror (The Curse, 1987) poderia ser incluído na pauta pelas polêmicas de seus bastidores. Wil Wheaton tinha pouco mais de 14 anos quando aceitou receosamente a trabalhar no filme, a partir da condição que sua irmã, Amy, tivesse um papel nele. Não tinha interesse pelo roteiro de David Chaskin, levemente inspirado em H.P. Lovecraft, e nem na proposta financeira de US$100 mil dólares, mas foi pressionado pelos pais, acusando-os de não pensar no futuro do filho. Wheaton vinha de bons trabalhos, destacando suas atuações em O Último Guerreiro das Estrelas (1984) e Conta Comigo (1986), além de episódios em séries e participação em clipe. Após as filmagens, o jovem fez inúmeras acusações sobre exploração infantil, disse ter sido tocado de maneira inadequada pelos membros da equipe de filmagem e ainda revelou que o diretor, David Keith, passou boa parte das gravações sobre efeito de drogas e tentando levar atrizes para a cama. Para Wheaton, A Maldição é um produto a ser esquecido, maldito e mal realizado.

Concordo com a parte final. Embora cultuado pelos fãs de horror, trata-se de uma produção precária, mal dirigida e com falhas técnicas evidentes, com aspectos até amadores. Keith disse ter custado apenas US$600 mil dólares, apesar da produtora Trans World Entertainment ter apontado em torno de um milhão e meio, alcançando marcas acima dos US$4 milhões com o marketing. Apesar dos recursos limitados, o que atraiu a atenção do público é o nome de Lucio Fulci, pelas filmagens de algumas cenas e associado como diretor de segunda unidade. Dizem que a cena do galinheiro, quando a pequena Alice (Amy Wheaton) é atacada pelas aves insanas, foi rodada pelo cineasta italiano, tendo mais acusações do irmão dela de maus tratos nas gravações.

O conto que serviu de inspiração, “The Colour Out of Space“, foi publicado em 1927. Nele Lovecraft relata a loucura que tomou conta das colinas a oeste da fictícia Arkham, em Massachusetts, após a queda de um meteorito nas terras do fazendeiro Nahum Gardner, em junho de 1882. As amostras coletadas por cientistas traziam uma aparência estranha, destacando sua coloração, diferente de tudo o que já foi visto. Quando ele percebe que as plantações cresceram de maneira abundante mas estão estragadas já é tarde: contaminou o solo, os animais e as pessoas, trazendo loucura e deformidades. Trata-se de uma obra de horror repulsivo, a partir das sempre boas descrições de Lovecraft. Teve uma primeira adaptação em 1965, no filme Morte Para Um Monstro (Die, Monster, Die!), com o protagonismo de Boris Karloff, e depois viria exatamente a ser resgatado em A Maldição – Raízes do Terror.

Diferente do texto original, o filme se passa em Tellico Plains, Tennessee, apresentando o adolescente Zack (Wheaton), sua irmã Alice (Amy Wheaton), o meio-irmão irritante Cyrus (Malcolm Danare), a mãe Frances (Kathleen Jordon Gregory) e seu padrasto agressivo Nathan (Claude Akins). Com uma pesada disciplina religiosa, com direito a tapas na cara e orações antes das refeições, a família é “castigada por Deus” quando Frances é rejeitada na cama e resolve dormir com o vizinho, o fazendeiro Mike (Steve Davis). É nessa mesma noite que o meteorito cai na fazenda, emitindo um brilho incandescente e chamando a atenção da família e dos vizinhos. O médico da cidade, Alan Forbes (Cooper Huckabee), estranha a composição do meteorito, a partir de um líquido viscoso que sai do interior de sua casca grossa, e pensa em relatar às autoridades, mas é repreendido pelo corretor de imóveis Charlie Davidson (Steve Carlisle), que quer comprar as terras locais pensando na iminente construção de um novo reservatório de água pela Tennessee Valley Authority (TVA).

O líquido atinge o solo e afeta o plantio local, além de deixar a água com gosto ruim. Os animais começam a agir de maneira agressiva, como o cavalo atacando Cyrus, as aves a pequena Alice e os cães Davidson e a esposa de Forbes, Esther (Hope North). Verrugas começam a surgir no rosto de Frances, também agindo de maneira agressiva, costurando uma malha na pele e tentando ferir Carl Willis (John Schneider), um representante da TVA. Percebendo as mudanças de comportamento da mãe e dos demais, Zack começa a trazer alimentos e água de fora para a irmã, mas continuar por lá pode envolver uma visita a uma Frances monstruosa no porão e ter que enfrentar o padrasto, consumido pela insanidade.

Um conceito tão interessante como o de A Maldição – Raízes do Terror merecia um desenvolvimento melhor. As atuações de Wil Wheaton e Claude Akins são muito boas, principalmente a deste último atuando como um irritante conservador religioso. Aliás, esse “castigo” sugerido pela infidelidade de sua esposa é um bom acréscimo ao enredo, trazendo boas reflexões a respeito. Por outro lado, teria um resultado mais interessante se a maldição que consome a família fosse vista pela cidade, nos moradores, com um tom mais apocalíptico, algo que necessitaria de mais recursos na construção de mutações e monstros, mas apresentaria um cenário ainda mais ousado e assustador.

Não é de todo ruim pelo argumento principal, porém a fotografia irregular, a câmera agitada de Keith não passando as proporções sugeridas, e a montagem não permitem uma avaliação além da mediana. É até compreensível sua condição cult, seja pelo envolvimento do Padrinho do Gore, ou pelas polêmicas que ajudaram a atiçar os bastidores. Duas décadas depois, o conto seria novamente adaptado em Colour from the Dark (2008), de Ivan Zuccon, no alemão Die Farbe (2010), de Huân Vu, e A Cor que Caiu do Espaço (2019), de Richard Stanley, com Nicolas Cage atuando como Nathan.

Por fim, A Maldição teve duas continuações não oficiais e uma bastarda: Mordida Mortal (Curse II: The Bite, 1989) e Panga: Lâmina Mortal (Curse III: Blood Sacrifice, 1991), ambos sem qualquer relação com o primeiro filme. E Catacumbas (Catacombs, 1989), da Empire Pictures, foi lançado em VHS nos EUA com o picareta título Curse IV: The Ultimate Sacrifice. Uma franquia sem nenhuma produção que possa ser considerada digna de nota!

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