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Kristy: Corra Por Sua Vida
Original:Kristy
Ano:2014•País:EUA
Direção:Olly Blackburn
Roteiro:Anthony Jaswinski
Produção:Lynette Howell Taylor, David Kirschner, Jamie Patricof, Corey Sienega
Elenco:Haley Bennett, Ashley Greene, Lucas Till, Chris Coy, Mike Seal, Lucius Falick, Erica Ash, James Ransone, Mathew St. Patrick, Al Vicente

Kristy: Corra Por Sua Vida (2014) explora as características e os clichês associados a final girl – termo bastante utilizado dentro da teoria do terror –, mas o faz a partir de uma premissa diferente: em vez de focar nas características e virtudes da final girl, a obra aborda a percepção estereotipada do público, dos demais personagens e do próprio cinema de terror em relação a essa personagem.

Escrito por Anthony Jaswinski (Águas Rasas), o roteiro acompanha Justine (Haley Bennett, de Devorar), uma jovem universitária que precisa se esforçar para melhorar as notas e não perder a bolsa de estudos. Sem dinheiro para viajar no feriado de Ação de Graças e recusando o convite do namorado para conhecer a família dele, ela acaba passando o feriado sozinha no dormitório.

Durante a noite, Justine fica entediada e resolve ir até um posto de gasolina comprar sorvete. Chegando lá, ela tem um encontro estranho com uma garota chamada Violet (Ashley Greene, de Crepúsculo). Ao voltar para o dormitório, Justine passa a ser perseguida por Violet e outros indivíduos encapuzados, sendo forçada a lutar pela própria vida sem ter ninguém por perto para ajudá-la.

O diretor Olly Blackburn (Prazeres Mortais) é hábil ao explorar a tensão que surge com a chegada dos vilões ao campus. Além disso, o filme acerta ao apresentar previamente cada um dos ambientes que serão usados depois – como a cozinha, a biblioteca e o estádio de futebol. Da mesma forma, pequenas informações mostradas de relance no início do filme se tornam relevantes no final, como o conhecimento da protagonista em química.

Mas a maior qualidade de Kristy: Corra Por Sua Vida está justamente em como o longa consegue, ao mesmo tempo, subverter e reforçar os estereótipos associados à figura da final girl. Porém, para explicar como a obra trabalha essa temática, cabe antes uma breve discussão sobre o surgimento desse termo e sobre a sua representação dentro do cinema de terror.

O termo final girl foi cunhado por Carol J. Clover em seu livro Men, Women and Chainsaws. Ao analisar diversos slashers lançados entre as décadas de 1970 e 1980, a autora notou a recorrência de um tipo específico de personagem, uma espécie de heroína/vítima que costuma ser retratada como uma garota solitária, inteligente, não sexualizada e possivelmente virgem.

Justine, protagonista de Kristy: Corra Por Sua Vida, foge desse modelo. De fato, ela é inteligente, mas suas notas estão baixas. Além disso, ela está sozinha, mas não é necessariamente uma pessoa solitária: ela tem amigas, tem um namorado e, mais importante, ela é sexualmente ativa.

Ou seja, Justine não se enquadra no conceito clássico de final girl. Ainda assim, os vilões a classificam como uma “Kristy”, a alcunha que eles dão às garotas “boazinhas”, ricas e privilegiadas, que, segundo eles, merecem ser eliminadas. Essa classificação, porém, não é baseada em fatos, mas sim na impressão que eles têm a respeito dela: ela parece ser uma Kristy, e isso basta para eles.

E é justamente aqui que reside a maior virtude de Kristy: Corra Por Sua Vida: propor uma discussão metalinguística sobre os clichês do gênero. Ao tornar esse tema central para a narrativa e para a motivação dos personagens, o longa deixa de ser apenas uma repetição de fórmulas conhecidas e passa a funcionar como um comentário sobre o nosso próprio olhar diante dessas personagens.

Apesar dessas qualidades, a narrativa apresenta algumas incongruências. Em determinado momento, por exemplo, Justine recebe no celular um vídeo já editado, contendo imagens gravadas em momentos diferentes – inclusive algo que acabou de acontecer –, algo que seria impossível de ser produzido tão rapidamente, ainda mais considerando a tecnologia da época.

Além disso, os vilões conseguem interceptar as ligações telefônicas com uma facilidade que soa inverossímil. Por fim, o roteiro ainda faz questão de introduzir personagens que não influenciam em nada na história, e são descartados logo em seguida.

No entanto, nada disso compromete a experiência. Além de ser um filme extremamente divertido, Kristy: Corra Por Sua Vida ainda encontra espaço para refletir sobre os tropos do terror e sobre os riscos da perpetuação de estereótipos. Uma grata surpresa.

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