![]() A Meia-Irmã Feia
Original:The Ugly Stepsister
Ano:2025•País:Noruega, Romênia, Dinamarca, Polônia, Suécia Direção:Emilie Blichfeldt Roteiro:Emilie Blichfeldt Produção:Maria Ekerhovd Elenco:Lea Myren, Ane Dahl Torp, Thea Sofie Loch Næss, Flo Fagerli, Isac Calmroth, Malte Gårdinger, Ralph Carlsson, Isac Aspberg, Albin Weidenbladh, Katarzyna Herman, Adam Lundgren, Willy Ramnek Petri |
por Maria Belafronte Pasin
Estreante em longas-metragens, a diretora norueguesa Emilie Blichfeldt trouxe para o cenário de horror de 2025 um body horror que se propõe a subverter contos de fadas.
A Meia-Irmã Feia segue a onda de virar uma história do avesso e observá-la da perspectiva do vilão, algo feito nos últimos anos pela Disney em filmes como Malévola (2014) e Cruela (2021). Dessa vez acompanhamos uma das meias-irmãs de Cinderela em uma jornada inconsequente em busca da beleza.
Diferente dos filmes anteriormente citados, A Meia-Irmã Feia não se interessa pela versão da Gata Borralheira popularizada pelas animações do Walt Disney. Tão pouco é uma adaptação direta do conto dos Irmãos Grimm. O filme reconhece as duas versões e as mistura para a construção de um terror que, além de corporal, reverbera em uma perturbação psicológica bastante atual.
A narrativa em si é simples: Elvira é uma jovem feia que precisa ser bonita para atrair a atenção do príncipe. A partir daí, a história desemboca em uma série de procedimentos estéticos extremos no grande estilo “os fins justificam os meios”.
A Meia-Irmã Feia não tem medo de ser um body horror. As cenas de procedimentos estéticos precários, sem anestesia correta e intrinsecamente dolorosos, não são apaziguadas com cortes súbitos e, por vezes, são realçados por zooms ou pelos gritos da personagem. Não em prol de um puro exibicionismo da dor, mas para que a mensagem fique o mais clara possível: isso é o quão longe as pessoas podem chegar para atingir os padrões estéticos. Discussão pertinente em meio a uma atualidade regada a remédios para emagrecimento e cirurgias plásticas.
Apesar do roteiro simples, a história consegue estabelecer Elvira (Lea Myren) como uma personagem intrigante e foge de um clichê comum desse estilo de filme ao não transformá-la em uma mocinha. Elvira é uma protagonista questionável, com uma mentalidade que se torna cada vez mais instável ao longo da narrativa.
Outra personagem interessante é Agnes (Thea Sofie Loch Næss), a famigerada Cinderela. Aqui, ela não é uma jovem sonhadora e inocente, mas também não é uma vilã. Agnes é realista e bastante ciente do contexto no qual está inserida. Ela reconhece o casamento com o príncipe como sua chance para uma vida melhor.
O longa demonstra através dela que abandonou a perspectiva romântica presente no filme da Disney. O baile e o casamento são negócios. Algumas aparições ocasionais do príncipe e de outros homens envoltas em falas e comportamentos misóginos servem para reforçar tal consciência narrativa.
O romantismo fica a encargo da mente de Elvira e de seus sonhos apaixonados, sempre demarcados com filtros de cor que destoam do restante da fotografia do filme. Esse recurso estético funciona bem não só para delimitar o que é onírico, mas também para fortalecer aquela perspectiva idealizada como estranha ao restante da narrativa.
Outro trunfo de A Meia-Irmã Feia está em sua direção de arte e nos figurinos que conseguem imprimir um clima fantasioso, responsável por captar a atenção do telespectador e fazê-lo se sentir imerso naquele universo, enquanto relembra: isso apenas se parece com um conto de fadas.