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Imagens Estranhas
Original:Henna E
Ano:2025•País:Japão
Autor:Uketsu•Editora: Suma

Psicólogos afirmam que desenhos escondem emoções inconscientes do indivíduo, conflitos e como vê o mundo, por isso é uma manifestação tão forte de arte. Com as crianças, os desenhos têm um papel fundamental, mostrando como veem suas relações familiares e seu lar, ajudando a descobrir se sofrem abusos verbais ou físicos em casa. Aos olhos de leigos, pode parecer um simples desenho de uma casa, uma árvore, um animal, mas para especialistas vai muito além disso. O traço, as cores, as formas utilizadas, tudo isso indica sentimentos, desejos e medos ocultos.  Em Imagens Estranhas, publicado pela editora Suma, o fenômeno do terror japonês Uketsu explora como algo banal pode esconder terrores absurdos. Aqui, as imagens definitivamente valem muito mais do que mil palavras.

O livro começa com uma psicóloga mostrando o desenho de uma criança que assassinou a própria mãe. A profissional faz uma análise das formas e traços e dá explicações de como provavelmente a criança estava se sentindo após o homicídio e quais suas chances de reintegração na sociedade. Com essa breve introdução, somos apresentados a quatro histórias distintas que estão interligadas entre si.

Em O Desenho da Mulher ao Vento, dois universitários ficam obcecados com um blog aparentemente banal de um rapaz chamado Shin, onde conta sua vida com sua esposa Yuki. Shin descreve sua felicidade ao descobrir que sua mulher está grávida e como ela fez cinco desenhos ao longo de sua gestação. Após um trágico acontecimento, a última postagem do blog é curta e enigmática, despertando a curiosidade dos estudantes. Eles têm certeza de que algo muito estranho aconteceu e decidem investigar, usando os desenhos como pistas principais. A atmosfera de estranheza é crescente, e nos sentimos parte da investigação. Há algumas conveniências narrativas um tanto forçadas que poderiam perfeitamente serem refutadas, então é preciso relevar isso para um melhor envolvimento na leitura.

A seguir, O Desenho do Quarto Encoberto de Névoa nos apresenta o pequeno Yuta, uma criança que vive apenas com sua mãe, Naomi, após a morte repentina de seu pai há alguns anos. Em uma atividade da escolinha, a criança desenha um prédio com uma estranha mancha escura justamente no andar onde mora com sua mãe. Após uma conversa com a professora, Naomi fica extremamente preocupada, pois tem certeza de que estão sendo seguidos por alguém há dias, e isso pode ter afetado Yuta. Logo depois, o garotinho desaparece, deixando sua mãe desesperada à sua procura, mesmo assim ela tem um comportamento incomum: se recusa a chamar a polícia. A partir daí, as revelações vão ficando cada vez mais bizarras, e algumas peças começam a se encaixar.

O Desenho Final do Professor de Artes nos traz o mistério do assassinato de um homem no cume da montanha. Após anos sem resolução a polícia decide encerrar o caso, mas algumas pessoas jamais esqueceram do ocorrido. O jovem aspirante a jornalista Iwata e o jornalista veterano Kumai são duas delas. O primeiro foi aluno do homem assassinado, que era professor de artes e sempre lhe ajudava; o segundo estava cobrindo o caso para o jornal, porém, teve que se afastar por motivos médicos e, quando voltou à ativa, as investigações estavam encerradas. O corpo do professor foi encontrado deformado, vítima de uma violência descabida, junto de um desenho da vista do alto da montanha. A partir desse desenho, os dois jornalistas começam uma investigação independente que se mostra extremamente perigosa. Se as duas histórias anteriores tinham algo de estranho, essa é sem dúvidas a mais visceral e surpreendente.

Chegamos à última história, e aqui já sabemos de quase tudo, mas ainda há pontas soltas. O Desenho da Árvore que Protege o Passarinho chega para fechar o círculo. O tal desenho do título é justamente o desenho do começo do livro, aquele que a psicóloga discorre sobre. Se faltava algo para completar a conexão entre todas as histórias, é encontrado aqui e, no final, deixa o leitor de boca aberta com a engenhosidade de Uketsu em construir tamanho suspense e sustentá-lo até o fim. Novamente, é preciso relevar algumas deduções convenientes, mas isso não tira o mérito da obra – Sherlock Holmes e Poirot que o digam.

À primeira vista, os desenhos não possuem nada de incomum, mas com o passar das páginas se revelam verdadeiros portais para o horror, cheios de significados ocultos, nos levando a reinterpretar o que vimos incialmente com outros olhos. O autor trata de temas que são considerados tabu, em especial no Japão, como uma criança ter o potencial de ser uma assassina, e não apenas um símbolo de pureza e inocência.  Traumas, violência infantil, abuso, suicídio e relações familiares também são outros temas muito recorrentes na obra.  Uketsu usa elementos comuns para construir uma narrativa aterrorizante tal qual no tradicional terror japonês (por exemplo, aqui são desenhos, em O Chamado temos fitas de vídeo, nas obras de Junji Ito é recorrente o cotidiano se transformar em algo grotesco), mas sem usar elementos sobrenaturais.

Assim como em Casas Estranhas, Imagens Estranhas convida o leitor a participar de perturbadoras e envolventes investigações que se desenrolam a partir de algo tão banal como um desenho, construindo um suspense com bons momentos de terror psicológico, envolvente e interativo.

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