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Mirtillo: Numerus IX
Original:Mirtillo: Numerus IX
Ano:2025•País:Itália
Direção:Sanzi Desiderio
Roteiro:Sanzi Desiderio
Produção:Electrowish
Elenco:Silvia Argenti, Giuditta E Cecilia Baccarelli, Beatrice Baiocco, Paolo Baiocco, Anna Borini, Camilla Branchetti, Clarissa Bruschini, Sanzi Desiderio, Fabio Fieri, Elena Gambini, Michaela Leon

Em 20 de abril de 2025, Mirtillo – Numerus IX , uma fantasia de horror italiana, foi distribuída pela Filmhub nas principais plataformas de streaming. O longa gerou um misto de estranheza entre os espectadores, que o acusavam de verborrágico, tedioso e extremamente amador, como um concurso de cosplayers…mas aqui estou eu para bancar o “advogado do diabo”.

Mirtillo – Numerus IX é uma experiência visual única, que nos entrega um mundo repleto de fantasia teatral. Os fãs do gênero até podem reclamar da exaustiva profusão de diálogos existencialistas e dos recortes repentinos entre as cenas mas, como num sonho, o filme apresenta simbologias quem o próprio espectador deve digerir para formar sua opinião, o que não acontece hoje em dia no cinema mainstream, por exemplo, onde tudo já vem mastigado para o entendimento imediato… mas vamos deixar de lado um pouco as explicações filosóficas e partir para a sinopse da trama.

Em uma Europa devastada pela Peste Negra, Andruccio (Fabio Fieri), um jovem fugitivo, deixa para trás sua aldeia de Coccorone (hoje conhecida como Montefalco) e parte para Triora, uma cidade lendária onde vivem as “streghe del villaggio“, bruxas que o protagonista acredita possuírem uma cura para a doença. Ao longo do caminho, Andruccio encontra uma figura peculiar jogada na floresta, um ser de pele negra e chifres proeminentes e o chama de Mirtillo (interpretado pelo próprio diretor, Sanzi Desiderio). Juntos, a criatura muda e o andarilho maltrapilho adentram numa jornada onírica onde a realidade e a fantasia (muitas vezes densa e macabra) dão um toque de redenção, algo como uma descoberta espiritual em busca de salvação e compreensão (e aceitação) da morte. Arrisco até em citar que vi muito da Divina Comédia de Dante Alighieri e A Odisséia, de Homero, na composição do filme.

A estranheza de Mirtillo – Numerus IX é o que o torna uma obra individual. Somos assolados por imagens enigmáticas provindas de pesadelos, mas com um brilho feérico, semelhante às pinturas de Dave McKean (quadrinista e ilustrador britânico), tudo muito bem orquestrado por Daniele Cruccolini como diretor de fotografia e Elena Nati como narradora. Partilhamos com Andruccio e Mirtillo paisagens mirabolantes repletas de criaturas místicas, rituais ancestrais e ambientes soturnos onde reina a escuridão e o desespero. Destaque para a cena do enforcado que cita um poema de Collodi sobre a Morte (Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini, famoso por ter criado As Aventuras de Pinóquio). Outra curiosa interseção é a de Paulo Baiocco, que interpreta um representante da Igreja que narra trechos do Malleus Maleficarum, livro escrito por Heinrich Kramer e Jacob Sprenger e que funcionava como um manual de caça às bruxas.

Em uma entrevista, o diretor foi questionado pela “falta de coerência” do filme e respondeu: “Eu queria que o espectador se sentisse perdido como Andruccio. A Idade Média era cheia de medos, onde crenças obscuras se confundiam com a realidade. Com Mirtillo – Numerus IX, você entra em um mundo entre o sonho e o pesadelo. A ideia do filme veio do curta ‘Mirtillo – Numerus I’ (2013), nascido durante a pandemia global onde todos refletiam sobre os precedentes históricos da humanidade, então decidi incorporar isso, mas em um estilo fantasioso.

De certa forma, a normalidade nas obras de Desiderio é um item desnecessário. Além de diretor é um artista gráfico que atua nas áreas de pintura, instalação e performance. Viajou por muitos anos entre a Itália e Cuba e participou da 54ª Bienal de Veneza no Pavilhão Cubano (2011), de duas edições da Bienal de Havana (2012 e 2015) e da 4ª Bienal “Fin del Mundo” em Valparaíso, Chile (2015). Entre 2007 e 2009, realizou a trilogia de curtas-metragens: Beauty Hazard, Confabula Spurio e I love my Queen.  Mais informações sobre este artista multimídia podem ser visualizadas no seu site oficial.

Mesmo com um ar de cinema amador, Mirtillo – Numerus IX não deve ser ignorado. Dedique um tempo para adentrar na jornada de Andruccio, onde descobrirá que a verdadeira redenção não reside em escapar da morte e sim compreendê-la como um item essencial para o entendimento da vida. Garanto que não vai se arrepender…

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