 Batman Absoluto vol. 1: O Zoológico
Original:Absolute Batman Vol. 1: The Zoo Ano:2025•País:EUA Páginas:192• Autor:Scott Snyder, Nick Dragotta •Editora: DC Comics |
O conceito de universos, ou dimensões paralelas, é algo que está bastante em alta nas histórias atuais, principalmente nas de super-heróis. Muito disso se deve ao fato de que quadrinhos aclamados e influentes da Marvel e DC, como Batman: O Cavaleiro das Trevas e Wolverine: O Velho Logan, aconteceram em universos paralelos, fora da cronologia normal dessas editoras. Um dos maiores sucessos da Marvel no começo dos anos 2000 foi a criação do seu universo Ultimate, uma continuidade nova iniciada do zero modernizando as histórias e origens de seus personagens, cuja influência transcendeu para o mundo cinematográfico da Marvel, onde muitos pontos do universo Ultimate – como arcos de histórias, aparências e personalidades de heróis e vilões – serviram de base para as adaptações nas telas.
Com isso, a DC em 2024 decidiu lançar sua própria continuidade à parte, chamada de Universo Absoluto. Após o evento Poder Absoluto, Darkseid, apesar de derrotado pela Liga da Justiça, consegue ultrapassar sua forma física e se refugiar em um ponto até então oculto do Multiverso. Lá, ele recria de acordo com sua maligna imagem um mundo chamado de Terra-Alfa, tornando-se o deus supremo dessa Terra, que é muito mais brutal e cruel do que sua contraparte original. Apesar de Darkseid não conseguir apagar por completo virtudes como bondade e esperança, os heróis têm seu surgimento na Terra-Alfa dificultado por todas as adversidades possíveis. E é dessa premissa que temos a nova continuidade da DC, com seus heróis sendo remodelados nessas circunstâncias, e Batman obviamente sendo um deles.
Esqueça um Bruce Wayne bilionário e playboy, que mora numa enorme mansão com seu fiel mordomo e usa sua fortuna para bancar suas atividades como Batman. Aqui, Bruce não herdou dinheiro algum de seus pais. Ele vem de uma família de classe média-baixa, onde o pai era um professor escolar e a mãe uma assistente social. Existe uma tragédia familiar que será o gatilho para ele se tornar um vigilante mascarado, mas sua mãe, a famosa Martha Wayne do universo original, segue viva e trabalhando. Nesse universo, até mesmo Bruce Wayne precisa trabalhar para sobreviver e pagar as contas, e seu emprego é no ramo da construção civil de Gotham.
A cidade continua como já a conhecemos: extremamente violenta, caótica, com criminosos e gangues a cada esquina disputando espaço e ameaçando os cidadãos e com uma força policial ineficiente. Dentre essas gangues se destacam os Animais de Festa, criminosos que usam máscaras lembrando crânios de macacos e vão rapidamente expandindo seu violento controle por Gotham, já que são bancados pelo rico e excêntrico Roman Sionis, conhecido por Máscara Negra. Essa violência desenfreada chama a atenção de Batman que, nesse primeiro volume, tenta acabar com a gangue e chegar ao verdadeiro mandante dos crimes.
Além da diferente origem, Batman aqui também difere fisicamente: muito alto e musculoso, parece um behemoth imparável que devolve sem dó a brutalidade desferida por seus inimigos. É comum vê-lo causando lesões severas em seus oponentes, mas a regra do personagem de não matar ninguém, mesmo em legítima defesa, segue intacta. Além disso, é bem interessante ver que o herói tem sim sua gama de equipamentos, que são mais rústicos, porém bem criativos, que remetem a alguém que realmente trabalha na construção civil, mostrando que Bruce Wayne não precisa de dinheiro para ser o temido defensor de Gotham.
Scott Snyder consegue fazer um bom trabalho no roteiro ao trazer algo realmente novo ao Batman. Não é a primeira nem a última vez que veremos uma reinvenção do homem-morcego, mas, além de trazer fatores diferentes e únicos, Snyder consegue manter intacta a essência não só de Bruce Wayne/Batman, mas também das novas versões de personagens já conhecidos dos leitores, como Alfred Pennyworth, James Gordon, Harvey Dent, entre outros. A arte de Nick Dragotta também casa muito bem com o texto. No quadrinho, Batman possui a altura e físico do Montanha de Game of Thrones (Snyder confirmou que seu personagem tem o mesmo peso e altura de Hafthór Björnsson), trazendo uma imposição e um terror a seus inimigos apenas por suas proporções gigantescas, e isso é algo que Dragotta desenha bem. Apesar dos Animais de Festa terem uma aparência grotesca e propositalmente assustadora, é o gigantesco protetor de Gotham quem causa (bastante) medo e pânico. Além disso, Gotham sempre foi uma cidade sombria, e mesmo assim o artista consegue dar um ar ainda mais melancólico e desesperador com suas composições. Se antes já nos perguntávamos como alguém conseguia viver nessa cidade suja e violenta, isso é ainda mais intensificado em Batman Absoluto.
O Zoológico é uma divertida porta de entrada a esse novo universo, que vai agradar tanto leitores de longa data quanto aqueles que nunca haviam lido nada sobre o personagem anteriormente, deixando uma certa curiosidade para saber o que virá a seguir e quais outros personagens do universo de Batman serão reinventados nessa nova e brutal realidade.
