![]() GOAT
Original:GOAT
Ano:2025•País:EUA Direção:Justin Tipping Roteiro:Justin Tipping, Zack Akers, Skip Bronkie Produção:Ian Cooper, Jordan Peele, Win Rosenfeld, Jamal M. Watson Elenco:Marlon Wayans, Tyriq Withers, Julia Fox, Tim Heidecker, Jim Jefferies, Maurice Greene, Indira G. Wilson, Geron McKinley, Heather Lynn Harris, Don Benjamin, Naomi Grossman, Adam Tedesco, Bryce Dylan |
Desde o seu anúncio, GOAT foi envolto em um marketing massivo que estampava o nome de Jordan Peele em letras garrafais, estratégia que serviu como chamariz certeiro para a associação direta do longa com o diretor de Corra!. A presença da produtora de Peele, a Monkeypaw, foi usada para aumentar ainda mais a curiosidade do público, embora Peele atue apenas como produtor, e não como roteirista ou diretor.
Quem assume a direção e também assina o roteiro é Justin Tipping, cineasta que vem de uma trajetória na televisão e antes de GOAT dirigiu seu primeiro e único longa, o drama Kicks, em 2016, muito bem recebido pela crítica por sua abordagem sobre a juventude negra nos subúrbios dos Estados Unidos. Em Kicks, acompanhamos um adolescente que tem seu par de tênis roubado por um bandido local e embarca com os amigos em uma perigosa missão para recuperá-los.
Em GOAT, Cam Cade (Tyriq Withers), um jovem astro do futebol americano, é convidado por seu ídolo, Isaiah (Marlon Wayans), para um retiro de treinamento que rapidamente se transforma em um perigoso jogo psicológico.
O longa inicia com um ritmo dinâmico e uma montagem acelerada que imprimem a atmosfera competitiva e a constante pressão do universo que apresenta. Embora prenda a atenção nos primeiros minutos, esse recurso logo se torna repetitivo e previsível, freando seu impacto conforme a trama avança.
Com tons saturados e enquadramentos milimetricamente construídos, GOAT é visualmente imponente. Justin Tipping aposta em uma linguagem imagética que relaciona a grandiosidade do esporte ao espetáculo, misturando referências de videoclipes de hip-hop e comerciais de grandes marcas esportivas com doses precisas de gore. Tipping usa o suor e o sangue não só como elementos estéticos, mas como parte da narrativa visual, revelando o ponto em que o esforço se torna autodestruição.
O problema é que essa estética, que funciona bem no início, logo se esgota. E o que antes era uma escolha estilística interessante se transforma em um recurso visual exaustivo para o espectador.
O roteiro usa o esporte como alegoria para discutir temas como idolatria, obsessão, masculinidade tóxica e a exploração de corpos negros. Há uma premissa interessante em construir um paralelo entre o futebol americano e uma seita, onde a fé, a obediência e o sacrifício se misturam em um mesmo ritual de devoção e poder. No entanto, apesar da tentativa de equilibrar sátira e crítica social, o texto falha em sua execução, e o que deveria ser um retrato incômodo do sistema acaba soando ora exagerado, ora literal demais, mas sempre conduzido de forma rasa, como se não parecesse acreditar nas próprias ideias.
A trilha sonora é um dos maiores trunfos do longa e acompanha o clima de tensão e grandiosidade que o filme tenta construir, usando o silêncio de forma pontual para potencializar a sensação de desconforto e enclausuramento do protagonista. Há momentos em que a trilha parece estar em maior sintonia com o tom do filme do que o próprio roteiro, contribuindo para o impacto emocional que as atuações não conseguem alcançar, segurando cenas que, de outra forma, teriam ainda menos força.
As atuações, em geral, não contribuem para o impacto que GOAT parece buscar. Tyriq Withers apresenta um protagonista sem carisma e que não sustenta o mínimo de peso dramático que seu personagem exige. Sua atuação é tão monótona que faz com que o arco do quarterback Cam não tenha força à medida que a história avança.
O maior destaque vai para Marlon Wayans, que entrega um personagem que transita entre um mentor carismático, quase messiânico, e uma figura autoritária, tomada pela loucura causada por sua própria obsessão, mas a sua atuação se perde entre os extremos. Apesar de muitos momentos acertar o tom, no fim, Wayans não consegue carregar o filme sozinho.
GOAT é como um time que treina para o espetáculo, mas esquece o jogo. O filme parece tão obcecado em ser aesthetic o tempo todo que acaba sufocando a própria mensagem que queria transmitir. Um dos títulos mais aguardados por muitos, e que inicialmente parecia promissor, termina como uma das maiores decepções do gênero no ano.