![]() Veneno para as Fadas
Original:Veneno para las hadas
Ano:1986•País:México Direção:Carlos Enrique Taboada Roteiro:Carlos Enrique Taboada Produção:Héctor López Elenco:Ana Patricia Rojo, Elsa María Gutiérrez, Leonor Llausás, Carmela Stein, María Santander, Ernesto Schwartz, Blanca Lidia Muñoz, Sergio Bustamante, Lilia Aragón, Marcela Páez |
“Fadas não se dão bem com bruxas. Elas as temem. As bruxas são suas inimigas e as matam. Você já viu os caldeirões ferventes que as bruxas têm? Eles jogam caudas de lagarto, sujeira de cemitério, cinzas de cruzes, cobras e muito lixo. Você sabe o que elas fazem? Veneno. Veneno para as fadas.” – Nana (Carmen Stein)
Em um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, Magnólia (1999), de Paul Thomas Anderson, o personagem de Henry Gibson diz uma frase bem interessante e verdadeira: “É perigoso confundir crianças com anjos.“. O Cinema e a vida real já comprovaram a força dessa expressão em situações bastante assustadoras e outras suficientemente incômodas. Como exemplo desta última, há o longa dramático Veneno para as Fadas (Veneno para las hadas, 1986), que traz uma perspectiva experimental bastante eficiente, numa proposta ousada e que serviu de inspiração para outras produções como o recente Bom Menino (Good Boy, 2025).
É uma produção mexicana, comandada por Carlos Enrique Taboada, e que trata das perigosas relações de infância, quando laços se formam e os pequenos não se mostram capazes de ativar o sensor de risco. Ora, nem todas as amizades podem agregar valores em qualquer fase da vida, mas são as experiências que fortalecem a peneira social. A pequena Flavia (Elsa María Gutiérrez, em seu único papel) acaba de se mudar para um colégio particular, naquele momento terrível que muitos jovens atravessam, envolvendo recolocação em um novo ambiente escolar, precisando formar um grupo de amizade até para se sentirem mais seguros. Quem se aproxima dela é a evitada Verônica (Ana Patricia Rojo, de muitas novelas mexicanas como Maria do Bairro e Esmeralda), uma garota que se considera uma bruxinha praticante e poderosa.
Embora Flávia desconfie no primeiro momento por ter crescido com pais céticos, logo acontecem episódios que se mostram assustadores e convincentes. Em um deles, ela lamenta para a nova amiga que precisa ter aulas de piano, e Verônica promove um “feitiço“, com juramento de sangue, para que a professora Rickard (Blanca Lidia Muñoz) vá embora. Tempos depois, a docente sofre um mal súbito e morre, numa estranha coincidência, ainda que os pais de Flávia depois comentem que ela já tinha um coração fraco. É o suficiente para que a novata se sinta ameaçada pela aparente bruxinha e passe a ser controlada, participando de seus experimentos e sofrendo de pesadelos a partir de superstições provocadas.
Desde o começo, Verônica é apresentada como uma órfã, vivendo com a avó inválida, e sendo influenciada pela babá supersticiosa (Carmen Stein). Muito do que ela aprendeu vem de histórias fantásticas contadas nas leituras antes de dormir, precisando apenas de oportunidades para que ela possa colocar os aprendizados em prática. A chegada de Flávia, oriunda de uma família rica e com pais extremamente amorosos, estimula suas maquinações para ter o controle sobre a garota, conseguir que ela entregue coisas pessoais e até participe de uma viagem com a família dela para um rancho, próximo a um cemitério.
É ali que Verônica se mostra mais persuasiva ao ponto de pedir que Flávia a ajude a conseguir ingredientes para a realização do tal “veneno para as fadas“, uma vez que esses seres elementais são considerados inimigas das bruxas. E nem importa se tais produtos sejam retirados do cemitério, envolva a captura de sapos e lagartixas e precise de um caldeirão para a junção de tudo para o feitiço. Flávia se sente insegura em ter que sair numa missão no meio da madrugada ou entregar seu cãozinho a Verônica, mas ela teme que se contrariar a bruxa poderá ter um destino parecido com a da professora ou até pior.
Para uma imersão do infernauta ao mundo infantil, de descobertas assustadoras e amizades perigosas, o excelente trabalho de direção de fotografia de Lupe García, desenvolvido a partir da montagem de Carlos Savage, desenvolve o filme inteiro sob as perspectivas das meninas. Os rostos dos adultos são sempre escondidos pelo posicionamento das câmeras, pelo próprio ângulo de filmagem ou através de silhuetas, permitindo apenas que sejam revelados os dos mortos ou de “assombrações“. O recurso contribui para que as relações, sejam elas inocentes ou problemáticas, possam ser vistas como costumam ser nessa fase da vida, quando o “rosto amigo” é somente o que as crianças enxergam.
Se por um lado a técnica se mostra funcional, a narrativa, a partir do argumento de Taboada, é conduzida em um ritmo lento em que muito pouco acontece. Boa parte da produção, principalmente entre o segundo e terceiro atos, caminha na lentidão das pequenas na exploração de cenários góticos, de ruínas e cemitérios antigos. Para quem busca um enredo mais ágil e graficamente assustador, Veneno para as Fadas pode provocar alguns bocejos e a sugestão de que o resultado poderia ser mais eficiente como curta-metragem. Não deixa de ser fascinante e curioso, e ainda permitir boas reflexões sobre descobertas e ingenuidade, desde que você se envolva na proposta experimental.
Gosto de muitas produções do cinema mexicano, desconhecia esse filme e pretendo conferir, achei mto interessante a premissa.
Excelente post !!!