
|  Witchboard Original:Witchboard Ano:2024•País:EUA Direção:Chuck Russell Roteiro:Chuck Russell, Greg McKay Produção:Bernie Gewissler, Greg McKay, Jean-François Roesler, Chuck Russell, Kade Vu Elenco:Madison Iseman, Aaron Dominguez, Mel Jarnson, Charlie Tahan, Antonia Desplat, Jamie Campbell Bower, David La Haye, Victoria Grosselfuenger, Jamal Azémar, Riley Russell, Kade Vu, Renee Herbert, Elisha Herbert, Chiara Fossati, Francesco Filice, Simon Anthony, Kent McQuaid | 

O uso de artefatos de comunicação com os mortos tem se mostrado perigoso no cinema desde o palhaço Koko no longa de Max Fleischer, de 1924. Seja tábua ouija, o jogo do copo, da régua, do pêndulo e até a brincadeira do Charlie Charlie, invocar espíritos ou qualquer entidade de outro mundo traz consequências perversas. Chuck Russell, de alguns filmes B divertidos como A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors, 1987) e A Bolha Assassina (The Blob, 1988), invocou uma franquia esquecida, iniciada em 1986 com Espírito Assassino (Witchboard), de Kevin Tenney, apenas para comprovar mais uma vez que não se deve mexer com os originais, como bem disse Sidney Prescott em Pânico 4 (Scream 4, 2011).
E nesse caso a invocação é uma inspiração rasa, substituindo a tábua da Hasbro por um disco de madeira, com termos em latim e um olho no centro, onde se esconde um pêndulo feito com ossos de um dedo humano. A órfã e ex-viciada Emily (Madison Iseman) a encontrou com a ajuda de um gato (parecido com um maine coon) perdido na mata – com o mais antigo dos exemplos de jumpscare conhecido como “pulo do gato” -, enquanto caçava cogumelos com os amigos e o noivo Christian (Aaron Dominguez) visando a abertura de um restaurante crioulo em New Orleans. Mesmo encontrando algo curioso numa sacola largada por lá, a garota nem sequer pensa em procurar mais coisas no local, ignorando que além do arbusto há o cadáver do ladrão Lebarge (Shawn Baichoo), que roubou o artefato do Museu de História Natural, mas foi baleado durante a fuga, numa sequência absurdamente desnecessária. Não bastava a moça ter encontrado a peça, numa escavação improvisada?

Emily imagina que o disco possa ser usado como enfeite do novo restaurante, Creole Kings Cafe, mesmo a contragosto de seu noivo, mas não faz ideia que ele foi enfeitiçado/amaldiçoado pelo sangue da bruxa Naga Soth (Antonia Desplat) em Lorraine, na França, em 1693 d.C., na condenação pelo bispo Grogan (David La Haye). E também não sabe que o ocultista Alexander Baptiste (Jamie Campbell Bower) foi responsável pelo assalto e vive em um ambiente brega, apoiado por três servas idênticas chamadas Asha (Renee Herbert e a gêmea Elisha Herbert, além de Chiara Fossati). Ele mata o segundo ladrão, Booker (Kent McQuaid), para que seu sangue ajude a localizar o artefato, em mais uma ideia desnecessária do roteiro de Greg McKay e Russell, uma vez que a ex de Christian, Brooke (Mel Jarnson), entende de objetos antigos, identifica como um material wiccano e servirá de ponte entre Emily e Baptiste.
Como se imagina, mesmo sabendo que se trata de algo achado e que providencialmente uma reportagem na TV fala sobre o sumiço da peça do museu – a típica facilidade de roteiro que me irrita profundamente -, Emily irá utilizar o disco para descobrir a localização de sua aliança perdida, somente para “pagar” com a mão do chef Richie (Charlie Tahan), em um acidente fatal ao estilo Premonição. A desculpa para não chamar as autoridades sobre a peça achada – sim, a-cha-da – vem de Emily acreditar que o objeto não é o mesmo (sim, devem ter várias antiguidades no formato de disco com mais de 300 anos parecidas perdidas por aí) e o receio de ser presa, uma vez que já possui ficha policial. Ué, mas por que então não pediu para Christian ou qualquer outro amigo fazer a devolução?

Christian, apresentado por Emily como cético, resolve se aproximar da ex para buscar informações sobre a tal “witchboard“, chegando a Baptiste, que agora sabe que a garota, além de azarada, também é uma descendente da bruxa, assim como ele é de Grogan. Dá para levar a sério um roteiro desse? Se fosse para uma série de TV, onde facilidades acontecem a todo momento, seria mais fácil aceitar. Para um longa de horror, tendo ainda Jamie Campbell Bower atuando como vilão de filme do 007, não dá. E os erros continuam se acumulando com bobagens como na melhor sequência do filme, quando ocorre um massacre no restaurante e um cadáver fica prendendo a porta de acesso à cozinha, impedindo Christian de sair para ajudar sua noiva. O problema é que se trata de uma porta pivotante bidirecional, aquelas portas vai-e-vem que abrem para os dois lados.

Com um elenco de Malhação, fotografia colorida de comercial, Witchboard nem sequer sabe como deve terminar. O epílogo, numa espécie de vingança contra a Igreja, é um dos mais bobos que o roteiro poderia propor. De toda forma, não é preciso usar o artefato para prever que o longa dificilmente encontrará uma continuação, mas poderia servir de resposta à realização de uma refilmagem tão ruim que chega a ser difícil acreditar que existe.




















