
![]() Bambi: O Acerto de Contas
Original:Bambi: The Reckoning
Ano:2025•País:EUA, UK Direção:Dan Allen Roteiro:Rhys Warrington, Felix Salten Produção:Scott Chambers, Rhys Frake-Waterfield Elenco:Roxanne McKee, Russell Geoffrey Banks, Samira Mighty, Nicola Wright, Catherine Adams, Tom Mulheron, Alex Cooke, David Ambler, Joseph Greenwood, Adrian Relph, Big Tobz, Luke Cavendish, Ewan Borthwick |

Quem poderia imaginar que Bambi também seria uma vítima da liberação dos direitos autorais? O simpático cervo-de-cauda-branca, fruto de uma produção de 1942 da Walt Disney indicada a três prêmios Oscar, agora é uma criatura voraz, com dentes pontiagudos e uma inevitável sede de vingança. Depois dos dois filmes do Ursinho Pooh e um de Peter Pan — sem contar Popeye, Mickey, Cinderela, Bela Adormecida… —, Bambi é a quarta produção da série “The Twisted Childhood Universe”, que promove a distorção do universo infantil, dos contos de fadas e desenhos que ajudaram a construir nossa visão moralista das fantasias e finais felizes. E, pode-se dizer sem exageros que, dentro dessa prateleira obscura, é o melhor trato já realizado, sem personagens humanos usando máscaras toscas e partindo para o tradicional filme de monstro.
Quando se diz “melhor“, não quer dizer que temos um exemplar digno de figurar entre os destaques de 2025. A comparação se faz pelas mesmas ferramentas: exploração de um personagem conhecido em um filme de horror trash. Desta vez, pelo menos, fizeram algo que poderia ser exibido no antigo canal Syfy, entre tubarões digitais e aranhas oriundas da lava. E se quiser comparar com algo além desse mundo, também não vejo problema em dizer que, tanto em enredo e efeitos especiais, no que se refere a quadrúpedes assassinos, Bambi: O Acerto de Contas é melhor do que A Morte de um Unicórnio (Death of a Unicorn, 2025), cujo orçamento pagaria a realização de um cinco filmes da ITN Studios. Provavelmente o salário de Jenna Ortega e Paul Rudd já serviriam para bancar o longa de horror do cervo.
A direção é de Dan Allen (do bisonho Mummy Reborn, 2019), a partir de um roteiro de Rhys Warrington. Começa como os demais filmes da produtora, com uma animação tosca e narração para contar o enredo básico: depois que sua mãe morreu nas mãos de um caçador, Bambi cresceu e formou sua própria família. Homens despejaram resíduos tóxicos na mata, mataram o companheiro do cervo e ainda sequestraram sua prole. Isolado e tristonho, Bambi bebe da água contaminada e se transforma numa versão vingativa, gigante e monstruosa, disposta a eliminar qualquer humano que vier pela frente. Mas não está sozinho.

Xana (Roxanne McKee) está chateada porque seu ex-marido Simon (Alex Cooke) está ocupado demais para passar um tempo com o filho Benji (Tom Mulheron) ou visitar a avó. Eles partem de táxi para a casa rural, com um motorista que fala mais do que olha para a estrada, até serem atacados por Bambi, que faz o carro capotar, e ainda pisa sobre o veículo como o Tiranossauro Rex de Jurassic Park. Correndo pela mata, alcançam a casa, habitada pela avó Mary (Nicola Wright), que sofre de demência, os tios de Benji, Andrew (Russell Geoffrey Banks) e Joshua (Catherine Adams), a esposa de Andrew, Harriet (Samira Mighty), e o adolescente irritante Harrison (Joseph Greenwood).
Enquanto a avó pinta imagens de Bambi e o fica chamando na mata — parece saber algo que ninguém nem o roteiro consegue explicar —, a criatura chegará ao local, invadirá a casa, arrancará cabeças, cortará alguém ao meio e os perseguirá pela floresta. Além dessa família, os responsáveis pelo lixo tóxico estão na mata eliminando os animais mutantes e darão a oportunidade certa para Bambi concluir sua vingança. Ainda que o monstro esteja fazendo vítimas o roteiro brinca com a estupidez dos personagens, sendo que três deles morrem sem o menor esforço do animal, através de incidentes trágicos.

Como todo o filme se passa em ambiente noturno, os efeitos da criatura até conseguem disfarçar suas limitações em muitas cenas. E a combinação com animatronics surtiu um efeito aceitável, ainda que não totalmente convincente. E quando o infernauta já se sente envolto no filme de um cervo monstruoso, Bambi surpreende ao mostrar que não está sozinho: coelhos raivosos e carnívoros, em referência ao fofinho Thumper, também fazem suas vítimas.
Um conceito simples (e que não responde a furos como a necessidade do garoto Benji de ficar com o videogame o tempo todo e a câmera sempre evidenciar isso), vagamente inspirado na animação original, Bambi não empolga e nem esconde seus clichês e obviedades. Ainda assim pode ser um passatempo levemente divertido, talvez até melhor que sua versão live action lançada também este ano. Será que ainda veremos o gambá Flower numa eventual sequência?





















