
![]() Buffy, A Caça-Vampiros
Original:Buffy the Vampire Slayer
Ano:1992•País:EUA, Japão Direção:Fran Rubel Kuzui Roteiro:Joss Whedon Produção:Kaz Kuzui, Howard Rosenman Elenco:Kristy Swanson, Donald Sutherland, Paul Reubens, Rutger Hauer, Luke Perry, Michele Abrams, Hilary Swank, Paris Vaughan, David Arquette, Randall Batinkoff, Andrew Lowery, Sasha Jenson, Stephen Root, Natasha Gregson Wagner, Candy Clark, Mark DeCarlo, Thomas Jane, James Paradise, Ben Affleck, Seth Green |

“Desde o crepúsculo do homem, vampiros caminham, matam e se alimentam de nós. A única pessoa com força e habilidade para deter sua malevolência é a Caçadora, a que traz a marca de nascença. a marca da irmandade. Treinada pela Sentinela, uma caçadora morre e a seguinte é escolhida.”
O conceito inicial de uma das principais séries de terror teen e influenciadoras dos futuros enlatados americanos de sucesso, incluindo o site Boca do Inferno, foi este filme Sessão da Tarde, dirigido por Fran Rubel Kuzui e com grande elenco. Na verdade, ele é um produto isolado dentro do universo Buffy (conhecido como Buffyverse), uma espécie de ensaio para o que seria feito quatro anos depois. O próprio idealizador, Joss Whedon, não gostou das distorções de seu roteiro e até se afastou do projeto durante as filmagens, o que, de certa forma, contribuiu para a realização da famosa série.
Whedon vinha de dois trabalhos para a TV, o sitcom Roseanne (1989-1990) e Parenthood (1990-1991) – este inspirado no longa O Tiro que não Saiu pela Culatra (1989). Desenvolveu o argumento do longa Buffy, A Caça-Vampiros (Buffy the Vampire Slayer, 1992) com uma relação muito próxima com a rotina estudantil, imaginando uma jovem como qualquer outra, com manias e defeitos, descobrindo que é a lendária Escolhida, a caçadora que será treinada pela Sentinela para combater vampiros e as forças do mal. O roteiro traria mais paralelos com a vida escolar, com metáforas envolvendo relacionamentos, mudança no corpo e compromissos acadêmicos. Durante as gravações, o longa se afastou desse ambiente para referenciar outras obras e partiu para a comédia pastelão, sem o lado sombrio que o roteirista resgataria no produto para a TV.

“O Sr.Howard é horroroso. Disse que eu não tenho noção de História e me deu um C positivo. Eu não tenho noção de História? Ele usa uma gravata marrom.”
A fútil Buffy Summers (Kristy Swanson) é a líder de torcida da Hemery High School, em Los Angeles. Suas preocupações refletem a de muitos adolescentes na vida escolar: chamar a atenção pelas roupas, falar sobre relacionamentos e planejar o baile de formatura. É o tipo de perfil que depois inspiraria outras personagens superficiais como a Cher (Alicia Silverstone), de As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless, 1995) e Regina George (Rachel McAdams), de As Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004), entre passeios no shopping, incômodos no cinema e preconceitos. Ela lidera o grupo das garotas artificiais Jennifer (Michele Abrams), Nicole ‘Nicki’ (Paris Vaughan), Cassandra (Natasha Gregson Wagner) e Kimberly (a conhecida Hilary Swank, de O Dom da Premonição e Colheita do Mal), e se relaciona com o atleta Jeffrey (Randall Batinkoff), amigo de Andy (Andrew Lowery) e Grueller (Sasha Jenson), todos com seus hormônios elevados e falta de inteligência.
Cassandra: “Quais as ameaças imediatas ao meio ambiente no momento?”
Jefrey: “Lixos?”
Kimberly: “Incêndios florestais?”
Buffy: “Insetos?”
Kimberly: “Insetos! Pode crer!”
Jennifer: “É. Eu odeio insetos”.
Cassandra: “O que acham da camada de ozônio?”
Buffy: “É. Temos de nos livrar dela.”

Buffy começa a perceber a aproximação de um estranho, um tal Merrick (o excelente Donald Sutherland), que diz que ela é a Escolhida e que deve treiná-la contra vampiros, convidando-a para um passeio ao cemitério à noite. Atormentada por pesadelos de suas antepassadas e sofrendo de cólicas, Buffy o segue até o confronto com a primeira ameaça, Robert Berman (Paul M. Lane), morto há três dias. Aos poucos, seus amigos e conhecidos começam a ser atacados por vampiros como Amilyn (Paul Reubens), a serviço de seu líder Lothos (o também lendário Rutger Hauer). Buffy encontra apoio no rebelde Pike (Luke Perry, astro da série Barrados no Baile), depois que o parceiro beberrão dele, Benny (David Arquette, da franquia Pânico), transforma-se numa criatura da noite.
Benny: Deixe-me entrar, Pike. Estou com fome!
Pike: Vá para casa, Ben.
Benny: Vamos, estou com fome.
Pike: Você está flutuando! Vamos, cara, saia daqui!
Convencida de sua habilidade, Buffy percebe as mudanças de comportamento de outros jovens, como a de um transformado Grueller, conseguido se destacar no basquete como o licantropo Michael J. Fox em O Garoto do Futuro (Teen Wolf, 1985) – nessa cena, é possível notar um jovem Ben Affleck na quadra. Ao tentar avisar seus amigos das ameaças, ela percebe o quanto os jovens têm preocupações desnecessárias como o Baile de Formatura, mesmo com o risco de um apocalipse vampírico. Assim, com a morte de Merrick, Buffy usará seu talento de caçadora para eliminar o Rei dos Vampiros e salvar os formandos.
A Buffy do cinema é realmente bem diferente do que seria sua versão para a TV. A aposta dos executivos da 20th Century Fox foi em um tom mais leve, sem a profundidade intencionada por Whedon. Se o diretor escolar, Gary Murray (Stephen Root), entregando detenções no baile, é bem parecido com alguns que assumiriam o cargo em Sunnydale High, a mãe da Buffy (Candy Clark) demonstra pouco interesse pela filha, algo que não seria visto no perfil de Joyce (Kristine Sutherland). A própria protagonista tem mais identificação com o que viria a ser Cordelia (Charisma Carpenter) na série do que a interpretada por Sarah Michelle Gellar.

Os vampiros também tiveram uma ótima evolução na versão televisiva: os do filme não possuem um visual alterado e não se transformam em pó quando são mortos, o que ocasionou uma das cenas mais ridículas da produção quando Amilyn é ferido por uma estaca, no ápice do pastelão. A série de Josh Whedon também possui elementos de humor, mas são trabalhados nos diálogos e na expressividade do carismático Nicholas Brendon, sem precisar fazer “cara de tonto” na atuação forçada de Hilary Swank. Além dela e dos mencionados, o longa ainda conta com uma pontinha de Thomas Jane e é possível identificar Seth Green, como um dos vampiros que invadem a festa de formatura, antes dele entrar para a série Buffy na segunda temporada.
Como a Buffy, de Sunnydale, é considerada uma jovem expulsa de uma escola em Los Angeles por ter “incendiado uma quadra” – algo que estava no roteiro de Whedon, mas foi descartado no filme -, e ela já sabe de suas habilidades como caçadora, pode-se dizer que a série é uma continuação da produção, mesmo com todas as diferenças, incluindo poderes de força acima do normal e o fato da garota já estar no terceiro ano do ensino médio em vez do segundo. Contudo, apesar do longa ser até divertido na apresentação de uma personagem que se tornaria ícone da TV, ele deve ser visto realmente como um produto à parte. A série é muito mais completa, incluindo outros elementos de horror como demônios, criaturas estranhas, assombrações, múmias, lobisomens e monstros diversos, com uma relação bem próxima do universo escolar, sem soar bobo e infantil.

Com esse bom elenco e toda a sua importância como pontapé da personagem, Buffy, A Caça-Vampiros (Buffy the Vampire Slayer, 1992) vale a pena ser conhecido. Não é necessário para quem quer apenas assistir à série, e descobrir as identificações propostas nos enredos para a TV, mas pode divertir levemente como o rascunho do que seria, sem exagero, um dos melhores programas de horror, com elementos teen, da televisão mundial.





















