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Natal Sangrento
Original:Silent Night, Deadly Night
Ano:2025•País:EUA
Direção:Mike P. Nelson
Roteiro:Mike P. Nelson
Produção:Erik Bernard, Scott Schneid, Jamie R. Thompson, Jeremy Torrie, Dennis Whitehead
Elenco:Rohan Campbell, Ruby Modine, David Lawrence Brown, David Tomlinson, Mark Acheson, Madeleine Cox, Erik Athavale, Sharon Bajer, Toni Reimer, Isla Verot, Tom Young, Rick Skene

No final do ano de 1984, um slasher de baixo orçamento viu sua fama crescer inesperadamente nos EUA quando pais, educadores e críticos de cinema com os nervos de uma donzela de seriados de matinê dos anos 1940 juntaram-se em prol de uma campanha para banir seus anúncios da tevê e o próprio longa-metragem dos cinemas. Temendo que as crianças pudessem passar a ver o Papai Noel como um psicopata, e não mais como o bom velhinho que rejeita os miseráveis, presenteia os ricos e cospe nos pobres, esses guardiões da infância realizaram diversos protestos em frente aos cinemas que exibiam o filme. Bom, se o verdadeiro significado do Natal é a união entre as pessoas, então Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night) cumpriu seu dever com louvor. E qual foi o resultado dessa corrente do bem? 2,5 milhões de dólares de bilheteria – mais de três vezes o orçamento do filme – durante os poucos dias em que ele esteve em cartaz até que fosse retirado pela distribuidora. O que mais o estúdio poderia pedir de presente, não é? Como dizem, não existe má publicidade, apenas publicidade.

Na esteira do sucesso vieram quatro sequências e um remake em 2012. Então, você pode estar se perguntando: “por que mais um remake?”. A resposta sincera talvez fosse: “temos uma franquia relativamente conhecida no terror, todo mundo gosta de um bom slasher (menos aquelas pessoas no começo do texto) e, diabos, todo ano tem Natal!”. Mas Mike P. Nelson, diretor e roteirista desse novo filme, possui outra resposta, digamos, mais nobre. Segundo ele, existia a oportunidade de apresentar algo diferente e contemporâneo, ao mesmo tempo em que se celebra o material original. Realmente, Nelson se esforça nesse sentido. Acerta em alguns momentos, e, quando falha, talvez seja menos culpa dele do que do espírito do nosso tempo (pode haver spoilers abaixo).

É perceptível que vivemos uma era de ressignificação dos vilões. Os exemplos que vêm primeiro à memória estão relacionados aos filmes de super-heróis (e super-vilões). O arqui-inimigo do universo cinematográfico compartilhado da Marvel, Thanos (Josh Brolin), impactou milhões de espectadores ao cometer um genocídio intergaláctico para tentar trazer equilíbrio ao cosmos. Erik Killmonger (Michael B. Jordan), o antagonista de Pantera Negra (Black Panther, 2018), também buscou um objetivo nobre por meios escusos. O Coringa pobre coitado de Joaquin Phoenix sofre tanto que faz até o Jó da Bíblia parecer um sujeito de sorte. E por aí vai: Venom, Morbius, Kraven… Uma lista de criminosos suavizados e/ou justificados que prova que, na maioria das vezes, perdemos bons vilões apenas para ganharmos em troca heróis meia-boca. Ou, num termo mais cool, “anti-heróis”.

No terror temos um caso bem recente disso em A Lenda de Candyman (Candyman, 2021), que exacerba a faceta de justiceiro do personagem-título, esvaziando muito do seu potencial de ameaça. Ao realizar esse movimento, tanto essa sequência do Candyman original quanto o remake de Natal Sangrento acabam conectando-se – intencionalmente ou não – a uma tradição de filmes de vigilantismo e a protagonistas como o Dirty Harry de Clint Eastwood, o Paul Kersey de Charles Bronson (da franquia Desejo de Matar (Death Wish, 1974 – 1994)) e tantos personagens das carreiras de Sylvester Stallone, Steven Seagal e demais astros de ação dos anos 1970 e 1980. Ironicamente, filmes que carregam um conteúdo ideológico hoje em dia bastante problemático.

Na versão de 2025, Billy Chapman (Rohan Campbell e Logan Sawyer) é um jovem traumatizado pelo assassinato dos pais por um homem vestido de Papai Noel (Mark Acheson). Desde então, ele passa a ser guiado pela voz do assassino em uma missão natalina: matar uma pessoa por dia durante todo o mês de dezembro. Ao chegar a uma nova cidade, ele precisa lidar não apenas com essa macabra incumbência, como também com sua atração por Pamela (Ruby Modine), uma colega de trabalho que parece ainda mais volátil do que ele próprio.

Enquanto o filme original começava buscando por um desenvolvimento psicológico do protagonista, mas, a certa altura, preferia investir na estrutura tradicional do slasher, o filme de Nelson pouco tem desse subgênero, alinhando-se mais a estudos de personagem como O Maníaco (Maniac, 1980) e Psicopata Americano (American Psycho, 2000), ainda que sem a sujeira do primeiro ou a inteligência do segundo. Por sorte, Campbell segura bem o papel, dosando brutalidade, esquisitice e vulnerabilidade. O mesmo pode-se dizer de Modine, sua parceira em tela.

Ao mesmo tempo em que abri um sorriso ao ver que a sequência mais legal do filme desenrola-se justamente no dia 22 de dezembro (meu aniversário!), também não pude evitar sentimentos conflitantes pela saída um pouco fácil usada para se criar catarse e empatia durante esse momento – afinal, quem não gosta de ver neonazistas sendo trucidados? Surpreendentemente, a sequência contém menos gore do que o esperado, o que se aplica ao filme como um todo.

Contando com um bom elenco e um diretor que parece cheio de energia e confiante no seu material, Natal Sangrento é uma opção para quem deseja um filme de fim de ano divertido e descompromissado. Não deve virar um clássico natalino como Duro de Matar (Die Hard, 1988), Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990) ou mesmo o filme original, porém, nos próximos natais, não vai fazer feio como programa para se ver antes ou depois dos terrores reais da ceia em família.

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