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Original:What We do in the Shadows
Ano:2019•País:EUA
Direção:Taika Waititi, Jemaine Clement, Jackie van Beek, Jason Woliner
Roteiro:Jemaine Clement, Paul Simms, Josh Lieb, Tom Scharpling, Duncan Sarkies, Iain Morris, Stefani Robinson, Marika Sawyer
Produção:Taika Waititi, Paul Simms, Scott Rudin, Garrett Basch, Eli Bush
Elenco:Kayvan Novak, Matt Berry, Natasia Demetriou, Harvey Guillén, Mark Proksch

O texto contém alguns spoilers da série. 

Chamar o filme What We Do In The Shadows de uma das melhores comédias de horror dos últimos tempos é quase um pleonasmo. A produção neozelandesa de 2014 foi um verdadeiro fenômeno ao nos apresentar um falso documentário que acompanha a vida de três vampiros da maneira mais nonsense possível, com um crescimento de acontecimentos surreais que em momento nenhum faz a obra perder o fôlego. Por isso, quando a FX apresentou a proposta de uma série americana de 10 episódios baseada no original, o medo de um produto que atingisse negativamente a imagem do filme era bastante justificável. Felizmente, temos aqui algo tão grandioso e divertido quanto o seu antecessor.

Na série de dez episódios, nos distanciamos da Nova Zelândia e passamos a acompanhar o dia a dia dos vampiros Nando (um antigo e cruel guerreiro otomano cujo único hábito não perdido foi o de usar capas longas), Lazslo (um nobre europeu da antiguidade com um fraco para sexo e rituais cansativos) e Nadja (casada com Lazslo e mostrando que o ‘felizes para sempre’ precisa de um upgrade quando se é vampiro), que moram juntos há cerca de 100 anos na pequena Staten Island, nos Estados Unidos.

Ainda fazendo parte do time da casa – que tem tantas velas que nenhuma empresa venderia seguro contra incêndio – temos o humano Guillermo, o criado (quase escravo) de Nando há dez longos anos, esperando o momento que se tornará um vampiro, e Colin Robinson, novidade no enredo ao ser um ‘vampiro de energia’.

Vivendo de forma banal nos últimos tempos, o equilíbrio dos três é posto à prova quando um poderoso vampiro antigo chamado Barão chega a cidade e anuncia que é missão deles dominarem o país. Bastante acomodados (para dizer o mínimo) onde estão, o desespero pela busca de resultados se torna presente.

A série de What We Do In The Shadows segue totalmente a fórmula do filme, até mesmo na ideia de um falso documentário (mesmo que vez ou outra esquecemos que seja), mas expandindo suas possibilidades e podendo brincar com tramas e subtramas a rodo, cada uma mais bizarra e sem sentido que a outra de um jeito que começa até comedida no primeiro episódio, mas que vai saindo totalmente do controle e ficando cada vez mais insana ao final.

De fato, se o sucesso de What We Do In The Shadows veio de seu número gigante de situações inimagináveis durante sua trama, a série precisava apostar em ir além disso. Sim, fiquem tranquilos: a série funciona, talvez no mesmo patamar do filme.

As mudanças pontuais também são extremamente bem vindas. A começar pela inserção de uma vampira. Mulher de Lazslo, a estilosa Nadja é de longe a melhor novidade da série. Voz da razão na maioria das vezes, sua inteligência acima dos outros dois da mesma raça a coloca em situações hilárias e até mesmo suas tramas pessoais, como a de um amante amaldiçoado que atravessa os séculos para encontrá-la é simplesmente um dos pontos altos da série.

Mas é a relação do milenar Nandor com seu criado Guillermo que praticamente norteia o enredo. Mesmo fazendo os piores serviços possíveis, como encontrar as vítimas para o trio e tendo que limpar a imundice de corpos e sangue no processo, Guillermo é tímido e dócil apesar dos pesares, esperando ansiosamente o dia que finalmente será recompensado em se tornar um vampiro… o que parece que nunca irá acontecer! Os serviços e diálogos com Nandor são pontos altos, principalmente nos conflitos que surgem e suas resoluções.

E se no primeiro episódio, o conceito apresentado para Colin Robinson era no mínimo desconfiável, a ideia do vampiro de energia é trabalhada de um jeito a se tornar sensacional. Todas as aparições e comentários de Colin são de rir a ponto de nos incomodarmos com a falta de presença dele em alguns momentos. O episódio que realmente lhe aprofunda é o mais original da série, onde temos sua disputa com uma outra vampira de energia que surge no local de trabalho.

Perto dos últimos episódios, What We Do In The Shadows ainda nos presenteia com momentos memoráveis. A cena em que o trio passa por um julgamento é simplesmente estonteante junto a um conselho vampírico formado por celebridades de outras obras ficcionais, o que inclui a participação especial de Tilda Swinton e o trio de vampiros do filme original. E o episódio da orgia é de longe o melhor de toda a temporada, onde toda a construção das piadas sexuais superaram todo o grotesco visual apresentado, com direito a um plot twist épico.

Entre pontos fracos, pouca coisa pode ser citada. Algo que possivelmente irá desagradar os fãs do filme é o pouco espaço dado aos lobisomens, resumidos a uma treta de vizinhos num único episódio, mas tão bem feita, que realmente gostaríamos de um pouco mais. O arco da vampira Jenna também não é dos mais bem construídos entre tantas subtramas boas. Para piorar, quando ela realmente engata, simplesmente é esquecida em seguida.

E se a série de What We Do In The Shadows funciona, parte desse mérito se dá justamente pelo envolvimento de Taika Waititi e Jemaine Clement, diretores do filme. Com a participação de ambos, a mesma magia que acontece no filme acontece em seu spin-off, onde encontramos a genial fusão de um gênero já quase saturado da cultura pop que são os vampiros, com a banalidade da vida real que o ser humano conquistou nos últimos anos.

A transição de um humor tão especial da Nova Zelândia para o público americano de forma sutil foi um sucesso. E com direito a um interessante gancho e a já confirmada segunda temporada, só podemos torcer para que o sucesso da série de What We Do In The Shadows siga por um bom tempo.

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