4.5
(2)

Chime
Original:Chime
Ano:2024•País:Japão
Direção:Kiyoshi Kurosawa
Roteiro:Kiyoshi Kurosawa
Produção:Misaki Kawamura, Hideyuki Okamoto, Miyuki Tanaka
Elenco:Mutsuo Yoshioka, Seiichi Kohinata, Hana Amano, Junpei Yasui, Kôji Seki, Giiko, Noa Kawazoe, Koki Ishige, Tomoko Tabata, Ikkei Watanabe

por Gustavo de Azevedo

Escrito e dirigido por Kiyoshi Kurosawa (mesmo diretor de Pulse, 2001), Chime é um média-metragem japonês onde acompanhamos Takuji Matsuoka, interpretado por Mutsuo Yoshioka, um professor de gastronomia assombrado por um som que o persegue. A partir disso vemos a vida dele seguir por um caminho conturbado.

Durante o filme, a todo momento esperamos uma sucessão de tragédias. Isso porque em Chime, a história é regida as avessas ao retratar o que é trivial com tamanha anormalidade, e, o que extrapola nossa moral com bastante naturalidade. O filme constrói uma atmosfera de estranheza em cenas de aulas, de refeições em família e de conversas cotidianas. Ao passo que mostra com frieza os atos violentos cometidos pelos personagens, como se essas fossem as reações esperadas mesmo.

Kurosawa evidencia a ausência de interação do personagem principal com o lugar onde vive, colocando-o como adereço em um ambiente que não se interessa na existência dele. Observamos o protagonista conversando em uma cafeteria e, pelo reflexo da vitrine, as pessoas seguem suas vidas. Por vezes, ele anda e vemos um trem seguindo seu curso em alto e bom som. O que existe é uma desconexão desconcertante entre ele e o mundo ao redor.

Os personagens, de modo geral, não apresentam muita profundidade e podem ser resumidos a suas funções na trama sem traços psicológicos mais profundos. Exceto, claro, pelo principal que está sempre com o olhar vazio, exausto da vida que está vivendo, ele não expressa alegria e simpatia de modo genuíno. Ao contrário, percebemos sua encenação quando interage com as outras pessoas.

Em uma das cenas, a esposa de Takuji, interpretada por Tomoko Tabata, se retira da mesa onde estão comendo e vai jogar fora sacos cheios de latinhas amaçadas. Esse barulho invade, incomodando por ser alto e prolongado demais. Mesma coisa acontece com os demais ruídos ao longo do filme, além dele trabalhar com sons que aparecem sem justificativa na cena. Acabamos sendo levados a um estado exaustivo e paranoico por essa camada sonora.

Na fotografia, também, nada é tratado com efusividade. Chime assume um aspecto de assepsia para a imagem, trazendo um tom até mais artificial para linguagem do média-metragem. Assistimos, simultaneamente, a falta de identidade dos personagens e a falta de identidade dos espaços.

De certa maneira, tudo o que foi construído durante o filme é desfigurado no final dele. Nesse momento a imagem fica granuladíssima, os barulhos desconfortáveis se desvinculam do aspecto paranoico e assumem uma forma nítida, o protagonista interage com o que está ao seu redor, finalmente validando suas perturbações.

Chime é uma obra intrigante que reflete o sentimento de falta de propósito, muito comum nos dias de hoje. E conquista na maneira que desenvolve o arco dramático de seu personagem principal e na construção instigante do seu suspense.

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