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The Sinner
Original:The Sinner
Ano:2017•País:EUA
Direção:Antonio Campos, Tucker Gates, Brad Anderson, Cherien Dabis, Jody Lee Lipes
Roteiro:Petra Hammesfahr, Derek Simonds, Liz W. Garcia, Jesse McKeown, Tom Pabst
Produção:Brad Carpenter, Donna E. Bloom, Randy Sutter
Elenco:Jessica Biel, Christopher Abbott, Bill Pullman, Dohn Norwood, Danielle Burgess, Enid Graham, C.J. Wilson, Jacob Pitts, Nadia Alexander, Eric Todd, Abby Miller, Susan Pourfar, Kathryn Erbe, Patti D'Arbanville, Peggy Gormley, Meredith Holzman, Robert Funaro, Grayson Eddey, Joanna Adler, Christopher Innvar

Há um tempo, a Netflix veio com o filme Clinical (2017), que queria ser um suspense, mas tinha pretensões maiores que sua narrativa, ou seja, fazia muito barulho por nada. E mais um vez, o mesmo erro ocorre. The Sinner não é nada daquilo que seus três primeiros episódios prometem.

A série é baseada no livro homônimo de 1999 da autora Petra Hammesfahr, mas já quero deixar claro que não li a obra, então os comentários são baseados apenas na experiência com a série.

A trama é muito instigante no início. Acompanhamos a história de Cora (Jessica Biel), uma mulher que leva uma vida comum, com trabalho, marido e filho. Entretanto, logo de cara, percebemos que Cora usa alguns calmantes e que a vida com o marido não parece das melhores. Ela não aparenta ser feliz, como se estivesse escondendo algo. Até que num dia a família resolve ir para uma praia. Tudo corre bem, até que um casal sentado próximo a eles começa a ouvir uma música que dá um start na protagonista. Ela levanta de seu lugar e ataca o homem com uma faca que estava usando para cortar frutas para seu filho. Faz isso em plena luz do dia e na frente de todas as pessoas.

A história vai se desenrolar a partir desse acontecimento do primeiro episódio. O objetivo da série é descobrir a motivação de Cora: quem era o rapaz que ela matou? Eles se conheciam? Por que ela fez isso?

Os três primeiros episódios tem um ritmo muito bom e criam um suspense que te prende logo de cara. As possibilidades para as respostas ao mistérios são amplas, e a série cria isso por camadas, pois a protagonista não tem a memória de acontecimentos de um certo período de sua vida, onde os motivos para o assassinato residem. Então, vamos descobrindo esses fatos conforme as lembranças de Cora surgem, o que faz com que apareçam novos personagens e novas peças desse quebra-cabeças.

Os atores também são um ponto positivo. The Sinner é bem megalomaníaca nesse sentido e conta com um elenco gigante. Mas os personagens que mais aparecem  – Cora e seu marido (Christopher Abbott), -o delegado (Bill Pullman), JD (Jacob Pitts), e todas versões de Cora e a irmã na juventude – tem boa execução e são convincentes.

Entretanto, nem tudo são flores. O delegado Harry Ambrose (Bill Pullman) tem uma história paralela que se fossemos planificar duraria um episódio completamente desnecessário e nada convincente. A atuação de Bill Pullman é ok, o problema foi o roteiro. Eles tentam colocar trechos da história do delegado que justifiquem o interesse que ele tem pelo caso de Cora. Mas não convence. No final ele vem com um discurso ridículo sobre sua vida e a identificação que teve pela moça, mas nada disso é plausível justamente porque as relações não são evidentes, são “pecados” distintos e nada justifica a empatia que ele sentiu pelo caso. Seria mais digno colocar uma motivação prática de resolução do crime, como novas evidências, ou até mesmo mudar suas motivações, porque aquela ali, sinceramente, foi piegas e vazia. Além disso, Ambrose tem uma ligação com plantas e árvores que no começo você acredita ser relevante, mas no final percebe que foi enganado mais uma vez.

Mesmo com as boas atuações, os personagens não geram empatia. É como se a série quisesse mostrar o lado mau e imoral do ser humano, então ninguém ali deve ser bonzinho. Entretanto, o desfecho da história joga toda essa perspectiva “cabeça” por água abaixo. Então o fato de você não conseguir criar empatia por ninguém acaba esvaziando a história, já que no final seria apenas isso que poderia fazer a produção valer a pena.

Já deu para perceber que The Sinner se constrói numa linha em queda em direção ao nada. A série tem oito episódios e os três primeiros são bons, desenvolvem o suspense, criam operadores para a continuidade e revelam boa parte dos personagens. Mas depois disso, vem a derrocada. Cora tem vários flashs dos momentos de sua vida em que não tem memória, mas que acredita terem motivado o assassinato do garoto na praia. E os flashs são tensos: um papel de parede bizarro, um lugar misterioso, cenas de sexo, drogas, costelas quebradas. Dá para imaginar várias possibilidades, como o envolvimento com um culto satânico, ou algo no estilo do filme De Olhos Bem Fechados (1999). Mas quando a conclusão aparece… Sentimento de enganação e traição é o que descreve. A narrativa não é nada daquilo que prometia e as motivações ficam ridículas, já que os problemas do passado eram bem simples de serem resolvidos no momento em que ocorreram. Nada justifica aquele desenrolar, ficou absurdo e sem fundamento. Pelo menos a história se encerra nessa temporada, então, com sorte, não teremos uma continuidade ruim.

Alguns podem tentar justificar falando das críticas à sociedade e instituições que são feitas na série e a própria questão de mostrar o lado ruim das pessoas. Mas acredito que tem outras produções que fazem isso bem melhor e sem zombar da nossa inteligência com uma narrativa pobre. Exemplos de filmes: O Caçador (2008), Bedevilled (2010), O Presente (2015), Amnesia (2000); e série: The Big Little Lies (2017).

The Sinner é uma série que começa bem, com uma premissa interessante e um suspense instigador. Mas se perde na pobreza de sua narrativa e por criar um clima maior do que seu resultado final.

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1 comentário

  1. Excelente crítica. Muito boas observações e me fizeram refletir sobre a série e concordar com tudo que você falou.

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