Caso 39 conta a história da assistente social Emily Jenkins (Renée Zellweger), que, durante um trabalho de rotina, faz uma visita à casa da família Sullivan, e começa a desconfiar que a pequena Lilith sofre de maus tratos e precisa de sua ajuda. Contando com o apoio do Detetive Mike (Ian McShane), Emily consegue evitar que a menina fosse queimada viva pelos seus pais, e ainda ganha a sua guarda provisória. No entanto, fatos estranhos dão indício que a pequena pode não ser tão inocente assim…
Trata-se de uma uma boa história de terror do subgênero criança do mal – uma tendência atual e que está no mote de diversos filmes: A Órfã, o remake de A Profecia, Corrente do Mal, 666 – O Filho do Mal, The Children -, embora seja consumida pelos excessos de clichês e falta de ousadia.
Então, por que o título deste post? Bom, quem acompanha o Boca do Inferno sabe que Caso 39 era para ter sido lançado em 2006, mas foi adiado para 2007, 2008 até ter seu lançamento oficial em 2009. Durante uns testes de exibição, o longa recebera muitas críticas negativas, obrigando várias mudanças no roteiro, refilmagem de cenas, novas edições e tudo mais. Diferente da pré-sequência de O Exorcista, aqui não precisou trocar de diretor, mas praticamente foram filmados dois filmes diferentes. Uma versão em 2006; uma versão em 2008.
No entanto, o trailer exibido nos cinemas brasileiros (e nos demais países) contém cenas da primeira versão, quando a história era praticamente outra. Assim, muitos irão se enganar com o que esperarão do filme, até mesmo porque o trailer tem cenas e diálogos fundamentais que não estão na versão que foi lançada nos cinemas lá fora e nem estarão por aqui. Inclusive, o trailer traz a morte de um personagem DUAS VEZES – mas, você só saberá disso quando assistir ao filme.
A Paramount assume essa diferença absurda entre trailer e filme, alegando que entre o processo de edição do teaser até o lançamento nos cinemas acontecem muitas mudanças no produto final. No entanto, diz que a outra versão não será lançada em DVD, nem estará entre os extras – o que é uma pena.
Se você ainda não viu o filme, aconselho a não ler os próximos parágrafos pois trará alguns detalhes dessas diferenças.
OS CASOS 39
O trailer apresentado nos cinemas brasileiros e internacionais traz um começo fiel ao filme, mostrando o desespero de Emily em tentar salvar a menina e conseguir a guarda provisória. A situação muda a partir dos 50 segundos, quando vemos a jovem Lilith dizer que consegue ouvi-los. Depois a nova mudança surge no minuto 1:37, quando algo parece sair do armário de Emily.
Segundos depois, em 1:41, temos uma cena que não está no filme, onde vemos um sem-teto mudando o rosto para uma criatura, seguida por outra onde Emily é puxada para dentro de sua cama. O encontro do Detetive Mike com os cães em seu carro encerra sua participação no filme oficial, já que ao tentar matá-los ele acaba atingindo a própria cabeça com um tiro. Porém, esse mesmo detetive aparece caindo do prédio aos 2 minutos do trailer.
“Eles vão me pegar, Não vão parar nunca”, diz Lilith no trailer, mas não no filme. Emily abraçando a pequena assustada e pedindo para algo ir embora – “Deixem-na em paz” – não temos também no produto final. E nem nos segundos finais, quando Emily tapa a boca de uma Lilith medrosa, enquanto a porta é aberta violentamente…
O que podemos concluir dessas alterações é que no filme que seria lançado em 2006, Lilith era uma menina inocente e que algo tentaria arrastá-la para o inferno. Até mesmo a mãe da garota chega a dizer que quando ela nasceu algo veio com ela. Contudo, o filme dos cinemas, e do DVD, é totalmente diferente: Lilith é um demônio, faz coisas ruins, está relacionada às mortes que acontecem.
Por que houve a mudança? É difícil dizer sem um anúncio oficial. Em fóruns espalhados pela internet, há aqueles que acreditam que mudaram porque perceberam que um filme com o impacto de uma criança assassina poderia sair nos cinemas, sem problemas, vide o sucesso de A Órfã. Há aqueles que suspeitam que o produto final estava aquém mesmo do desejado e precisava haver uma presença maléfica física no filme.
No fim das contas, Caso 39 é um bom filme, sim, mas peca pela originalidade. Provavelmente, a outra versão poderia não ter apelo popular, porém conseguiria destaque por contar uma história um pouco diferente. Apesar de que já tivemos algo assim com A Filha da Luz…
Bom artigo. Eu não sabia desse histórico do filme e senti que há momentos com tons diferenciados, pois na versão final, o começo ainda dá a entender que a menina seja inocente. Mas teria que rever para ter mais detalhes, e nem sei se vale mais a pena. Gostaria que lançassem a versão original.