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Caça-Fantasmas

Se tem algo esquisito e que não parece estar bem, quem você vai chamar?” Durante boa parte da História do Cinema até a Segunda Guerra Mundial, que alteraria o papel da mulher na sociedade principalmente com a atuação de Bette Davis no clássico Pérfida (The Little Foxes), de William Wyler, a resposta a essa pergunta da composição de Ray Parker poderia ser “um homem“. Com papéis cada vez mais influentes, graças à necessidade de substituir o soldado em guerra, a visão distorcida de associá-las ao dever doméstico ou a fragilidade do sexo começou a diminuir, ainda que, passados mais de setenta anos, não tenha desaparecido por completo. Talvez por conta do sexismo constantemente em pauta – atitudes misóginas e misândricas se confrontam a todo momento – o trailer de As Caça-Fantasmas adquiriu um tal grau de importância que vai além da qualidade do material exposto.

Não é a primeira produção a ir ao banco dos réus das polêmicas, mas é a pioneira de uma batalha tão evidente dos sexos devido à possibilidade de comparação dos gêneros, ampliado pelo saudosismo de um clássico da década de 80. Ora, filmes considerados feministas de horror existem aos baldes: Possuída (Ginger Snaps, 2000), Abismo do Medo (The Descent, 2005) e Garota Infernal (Jennifer’s Body, 2009), por exemplo, podem incomodar àqueles que gostam de ver as ações ditadas pelos Homens ou que não enxergam as críticas metaforizadas pelo fantástico. No entanto, eles não são refilmagens (ou reboots) de filmes anteriormente associados exclusivamente a um determinado gênero. Assim, para os incomodados, independente de sua qualidade – algo que realmente inexiste na pequena amostra de pouco mais de dois minutos -, As Caça-Fantasmas foram além de exterminar fantasmas, mas extinguiram o bom senso.

Lançado em 1984, no auge do “terrir“, Os Caça-Fantasmas, de Ivan Reitman, divertia não apenas pelo enredo cartunesco de Dan Aykroyd e Harold Ramis, mas pela química da trupe dos heróis de ocasião. Bill Murray tinha o carisma de um paquerador barato, sendo suportado pela inteligência de Harold Ramis, pelas ricas ideias de Dan Aykroyd e pelo companheirismo de Ernie Hudson. Formavam uma espécie de Os Trapalhões em suas aventuras em VHS, com a extração do pastelão apelativo. A fama do quarteto – e dos coadjuvantes de luxo como Sigourney Weaver e Rick Moranis – espalhou o símbolo do fantasma proibido por todos os cantos da América, em uma caça-fantasmania que duraria até o segundo filme. Qualquer perspectiva de uma refilmagem à altura – já experimentado indiretamente com o falho Evolução (Evolution, 2001) e o bonzinho Vizinhos Imediatos de 3º Grau (The Watch, 2012) – já seria improvável sem essa essência química concebida no original. A solução foi uma continuação-reboot, com um elenco renovado por talentosas atrizes oriundas de séries de TV e comédias, e a manutenção de efeitos especiais similares aos do período.

Se é capaz de remeter ao longa original pela trilha clássica e a aparição de alguns fantasmas como o saudoso Geleia, por outro lado faltou alguma dose de anos 80. Não é culpa do elenco feminino ter ocupado a vaga dos meninos, embora a raiva pela existência dessa possibilidade tenha despertado o machismo camuflado de alguns, e, sim, pela falta daquela energia quase infantil de outrora. Há algum momento inspirado ali, como a referência ao Exorcista, além da aparelhagem atraente, qualidades frágeis para uma avaliação positiva.

As Caça-Fantasmas pode até ser divertido, já que o trailer é apenas uma pequena amostra de seu conteúdo, porém já está conseguindo atrair a atenção do público por incitar comparações mais amplas do que as que envolvem remakes e originais. Agora, é aguardar as próximas prévias para saber se as polêmicas continuarão destruidoras como o monstro de marshmallow.

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8 Comentários

  1. Odeio remakes, quando soube deste então… e que ainda seriam mulheres nos papéis principais. Aí sim fiquei mais ressabiado, pois estava esperando colocarem algumas “modelos” para os papéis. Mas qual foi minha surpresa… Agora é esperar… apesar de ainda achar que será ruim, pelo menos a escolha das atrizes foi algo positivo.

  2. Se discordar de um filme que tem uma premissa “feminista” só pelo elenco (pra corrigir os erros de uma sociedade machista opressora) é ser machista, então eu sou machista, embora eu deteste machismo e feminismo, então dane-se, ultimamente tem sido assim mesmo, se vc critica coisas relacionadas a gênero sexual ou de sexo, vc é rechaçado como se isso fosse uma aberração, paciência, não sou obrigado a ter a mesma opinião dos pretensos donos da verdade dos dias atuais, não gostei e dane-se que não gostou de eu não ter gostado.

  3. O maior erro desse filme é ignorar os anteriores. Ponto!

    Substituir os personagens por mulheres é uma baita ideia que vai de encontro às mudanças mais recentes no cinema de ação e gênero. Começou com Jogos Vorazes, Mad Max e mais recentemente com Star Wars. Quem reclama da substituição dos personagens e se diz fã da franquia está mentindo, pois no final dos anos 90 houve um desenho onde os fantasmas haviam desaparecido e o Egon era professor universitário, devido a uma obra no Metrô, Nova Iorque é novamente dominada por fantasmas e o Egon monta uma nova equipe com alguns alunos da universidade onde dá aulas. Incluindo uma mulher, que era a minha personagem favorita daquela série.

    É machismo mesmo, disfarçado de saudosismo.

    1. Não vai ignorar os filmes anteriores. Além da participação do Geleia e do Bill Murray, já foi dito em diversas notícias – até mesmo por aqui – que o filme trará inúmeras referências aos anteriores. Mas, isso não o torna melhor. Achei bem ruim mesmo.

      Sou fã da franquia, dos desenhos e tal. Se o elenco principal fosse mantido, minha opinião seria a mesma. Tentaram fazer Os Três Patetas, trocando homens por homens, e foi uma bosta. Já A Hora do Espanto 2 (88) eu acho divertido, embora o Jerry Dandrige tenha dado lugar a uma mulher. Mas, não gostei do remake de Poltergeist também pela ausência da Tangina. Se o material for interessante, a troca de sexo não faz diferença.

      O que faltou ali foi um trato melhor na amostra. Mas, ainda é cedo para falar qualquer coisa.

      Abs

      1. Ignorar no sentido de não ser uma continuação direta. O próprio diretor já disse que ignorou os filmes anteriores pra poder valorizar mais a nova equipe e o novo filme. Eu achei o trailer fraco mesmo, mas ainda vou ver no cinema. Adoro a franquia e acho que merece uma vista pelo menos.

  4. Não tem jeito, eu tenho uma opinião formada sobre remakes e não teve um que me fez mudar: Remake = falta de criativade. Os dois primeiros filmes, sensacionais. Esse ai, prefiro passar longe.

  5. Eu acho que não tem nada a ver por elas serem mulheres, mas o elenco escalado. Essa Melissa McCarthy é péssima em todos os sentidos, é praticamente um Leandro Hassum dos EUA. Sem falar que o trailer mostra indícios do mesmo humor lixo que essa atriz está acostuma a fazer.

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