Criado em 1986 por Clive Barker para o seu conto The Hellbound Heart (publicado no Brasil como Hellraiser – Renascido do Inferno pela DarkSide Books), Pinhead é o líder dos Cenobitas, uma horda infernal de hedonistas sobrenaturais que busca suas vítimas entre pessoas que ousaram ultrapassar o limite do prazer e da dor. Muitas vezes, estas vítimas se tornam novos Cenobitas, outras vezes, apenas carne para a diversão de Pinhead e seus asseclas. Embora Pinhead apareça apenas no começo de The Hellbound Heart, em 1989 o conto de Clive Barker foi adaptado para os cinemas no filme Hellraiser – Renascido do Inferno com roteiro e direção do próprio autor e Pinhead conseguiria seu lugar eterno naquela seleta galeria de grandes vilões do horror.
Cabeça de Alfinetes
Levado para às telonas na segunda metade dos anos 80, no auge da era dos moralistas filmes slasher, Pinhead foi vivido nos cinemas inicialmente por Doug Bradley, ator inglês que deu voz e feições ao personagem em oito filmes. Posteriormente, para que a Dimension não perdesse os direitos de Hellraiser, um nono filme foi feito às pressas, dando origem ao pior capítulo da franquia. Mas Hellraiser – Revelations trazia pelo menos uma novidade: a ausência do ator Doug Bradley, substituído no novo filme por Stephan Smith Collins. A decisão foi muito criticada pelos fãs, sendo que alguns até atribuem a baixa qualidade de Revelations, entre outras coisas, à ausência do ator.
Com um novo filme a caminho, o Hellraiser – Judgment, os fãs da franquia já se preparam para mais mudanças. Pinhead será interpretado por Paul T. Taylor, o que gerou novas manifestações contrárias à substituição de Doug Bradley. Algumas questões ficam no ar e é impossível não se questionar se todo este barulho é realmente necessário, afinal franquias de maior sucesso já se arriscaram substituindo os atores por trás de seus personagens principais sem prejuízo de bilheteria ou queda no sucesso. James Bond está aí para provar isso pra qualquer um que questionar. Outras franquias do horror como Halloween e Sexta-Feira 13 nem possuem rostos por trás de seus vilões, e os atores vêm e vão sem que ninguém perceba. E isso vai além da máscara e maquiagem.
A partir do quinto filme da série, os roteiros dos filmes foram sendo adaptados para incorporar elementos do universo criado por Barker em roteiros genéricos, algumas vezes para que a Dimension não perdesse os direitos sobre Hellraiser. O resultado é uma sequência de filmes sofríveis que não lembram em nada o universo de Barker. Por isso, proponho neste artigo a reflexão sobre a necessidade de insistirmos na presença de Pinhead nos enredos da franquia Hellraiser.
O fã da série criada por Clive Barker sabe que, além de nove filmes, Hellraiser também já apareceu em livros, jogos e histórias em quadrinhos com uma infinidade de histórias e personagens. Hellraiser vai muito além de um rosto cravado de alfinetes. Barker criou um universo infernal rico e complexo que criou vida própria e cresceu e se expandiu nas mãos de outros roteiristas e escritores que trabalharam com a série. O inferno ganhou castas, estrutura política, uma história que remonta ao passado e se estende ao futuro sempre com a presença marcante de infinitos Cenobitas. Tão ou mais interessantes que o próprio Pinhead, dependendo apenas da imaginação dos artistas e leitores.
Um Quebra-cabeça de Muitas Peças
A primeira versão em quadrinhos para a franquia Hellraiser, publicada pelo selo Epic da Marvel entre 1989 e 1992, era uma série no formato de antologia que trazia, a cada mês, histórias curtas por autores e artistas diferentes. No Brasil, a Editora Abril lançou quatro edições da HQ em 1991. Muitas das HQs presentes nestes quatro números foram reunidas com algumas histórias inéditas em um encadernado de luxo publicado pela Brainstore em 2003.
Dentre os nomes que passaram pelas páginas desta encarnação de Hellraiser estão Neil Gaiman (Sandman), Peter Atkins (roteirista de Hellraiser II e III), Dave McKean (Asilo Arkham), John Bolton (Batman), Denny O’Neil (A Liga Extraordinária), entre outros artistas renomados que, podemos dizer sem medo de exagerar, criaram histórias infinitamente superiores aos filmes da série. Em muitas destas histórias, pudemos apreciar os exercícios criativos destes nomes na busca de criar Cenobitas tão marcantes e emblemáticos quanto Pinhead e os outros que apareceram nos primeiros filmes.
Logo na primeira edição somos apresentados à história “Os Cânones da Dor”, de Erik Saltzgaber (roteiro) e John Bolton (arte), que se passa durante a Idade Média e mostra um nobre retornando ao lar após sobreviver às Cruzadas com uma pequena caixa capturada das mãos dos turcos. Logo o nobre irá descobrir que a caixa é uma porta para o inferno e que sua abertura evoca o mais antigo Cenobita de que se tem notícia, embora saibamos que eles são mais antigos do que isso. De imagem repugnante, magistralmente concebida pela arte realista de Bolton, este Cenobita obeso e disforme possui vestes negras esfarrapadas que deixam expostos dois pares de seios e lábios esticados por ganchos presos ao corpo. Um dos mais horrendos e marcantes Cenobitas da franquia Hellraiser.
A primeira edição ainda apresenta o conto “Vermelho Quente”, de Jan Steve Strnad (roteiros) e do mestre Bernie Wrightson (arte), onde seremos apresentados ao Cenobita conhecido apenas como Face. Face irá marcar presença constante na Hellraiser da Marvel Epic. O Cenobita, de rosto grampeado, aparece em mais duas histórias até que, na quarta edição da revista, terá sua origem esmiuçada por Jan Strnad (roteiros) e Mark Chiarello (arte) e fica subentendido que ele é o famoso ator de filmes de horror Lon Chaney, O Homem de Mil Faces. Na HQ vemos que o ator, mundialmente conhecido por suas maquiagens realistas, tomava as faces de vítimas que ele escolhia por seus rostos marcantes. Pouco antes de ser preso, Chaney é levado para o inferno por Pinhead onde se tornará o Cenobita sem pele que usa o rosto de suas vítimas infernais para cobrir seu crânio esfolado. Face fez sucesso e apareceu em sete edições das vinte publicadas.
Em 2011 a Boom! Studios adquiriu os direitos de publicação de Hellraiser, e as HQs mudaram do formato de antologia para uma série continua que mostra um Pinhead cansado, que deseja abandonar o Inferno e passar o comando das legiões de Leviatã para outro Cenobita. Após uma longa batalha contra outros exércitos infernais e um grupo de humanos liderados por Kristy Cotton (do primeiro filme), que busca destruir todas as Configurações de Lamentos, Pinhead passa seu posto para Kristy, que se torna a nova líder dos exércitos de Leviatã. No Brasil, a editora Alto Astral lançou três edições da HQ, que depois foram reunidas em um box.
Esta nova fase em quadrinhos, escrita por Clive Barker e Mark Miller, mostra melhor as estruturas infernais, suas castas, seus líderes e seus exércitos. Ficamos conhecendo melhor como funciona a “escolha” de um Cenobita, como ele é formado e as muitas interpretações do inferno criado por Clive Barker. É com base neste cenário, descrito por Barker e Miller que proponho que os próximos filmes da franquia Hellraiser deixem de lado o personagem Pinhead, explorando melhor o inferno de Barker e seus Cenobitas.
Hellraiser – Origens, Julgamento e Morte
Em 2013 os fãs de Hellraiser foram apresentados ao projeto Hellraiser – Origins, escrito e produzido por Paul Gerrard (Fúria de Titãs), que seria um reboot da franquia nos cinemas e traria além de um novo visual, um novo Pinhead. Apesar de toda a dedicação dos envolvidos, levando pouco mais de dois anos e meio, o projeto acabou engavetado e restaram apenas algumas imagens e o trailer utilizado para captar recursos para o filme disponíveis no site oficial do projeto. O projeto foi desenvolvido fora da Dimension, que estava prestes a perder os direitos sobre a série. A Dimensions foi mais rápida e lançou o sofrível Hellraiser – Revelations, frustrando os planos para Hellraiser – Origins.
O fracasso prematuro de Hellraiser – Origins escancara a necessidade de que os direitos de Hellraiser deixem as mãos da Dimension, pois já ficou claro que a produtora não sabe o que fazer com os personagens, criando filmes fraquíssimos apenas para não perder os poucos dólares que faturam com porcarias como Hellraiser – Hellworld ou Hellraiser – Revelations. As notícias envolvendo Hellraiser – Judgment já deixam os fãs de Pinhead e sua turma com o pé atrás, pois a primeira imagem de divulgação, com design e qualidade gráfica pobríssima deixa bem claro o que vem por aí. Não há otimismo que resista a este cartaz pior do que muito flyer de festa distribuídos em esquinas por aí.
Pinhead é uma figura icônica com um design incrível, mas sua personalidade e background se tornaram irrelevantes para o público atual. A religião e o sexo mudaram muito para as novas audiências e um demônio sadomasoquista cheio de correntes e alfinetes não causa mais o impacto de outrora, como fez nos moralistas anos 80. Se tomarmos como base o universo criado por Clive Barker, as histórias em quadrinhos da franquia e a vontade e interesse dos fãs e realizadores de ressuscitar e atualizar Hellraiser para o novo milênio, não há outro caminho senão abandonarmos o que foi feito até agora.
É hora de atualizar os conceitos para o novo milênio e explorar mais o Inferno. Os efeitos digitais, hoje em dia, permitem novas visões, novas criaturas, novas punições para os desavisados que se arrisquem a resolver a Configuração de Lamentos. Os realizadores precisam alinhar o design dos personagens para as novas plateias como foi proposto em Hellraiser – Origins. Não há como prosseguir tentando manter Pinhead um personagem relevante.
Chega de Pinhead!
Concordo com ambos. Respeito a opinião do Rodrigo, assim como de quem gostou de sequencias que achei horriveis. Isso não se discute (muito) rs.
Mas a critica completamente focada num personagem maravilhoso, sem apontar realmente sua culpa, é complicado.
Estragaram a franquia, também, depois de um desastre ainda aceitam a mesma direção em duas outras sequências, isso é implorar por fracasso.
Mas pegar a esposa traindo no sofá da sala com seu vizinho, e querer queimar o sofá não faz o menor sentido!
Viva o Pinhead! s2
Sim, há a necessidade da presença de Pinhead na franquia.
O que não há necessidade é de novos filmes! Chega de decepções!
Pinhead consegue ser um vilão maravilhoso! Porem somente nas mãos de pessoas com boas ideias ❤❤
Eu sou o caminho”
-Pinhead