A Família Addams: Humor, terror e cotidiano

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Humor e terror parecem, inicialmente, pontos impossíveis de serem unidos com qualidade ou competência. Muitas tentativas foram feitas, sendo que a maioria delas conseguiu resultados grotescos, com piadas forçadas e bobas, quando não escatológicas: vampiros desdentados, monstros burros e cientistas mais burros ainda quase sempre foram resultados desta união. Mas existiu uma família que uniu sofisticação, cotidiano e terror magistralmente: A Família Addams.

A Família Addams foi criada por Charles S. Addams, que publicava charges sobre ela regularmente na revista New Yorker nos anos 30. Na antologia de seu trabalho, realizada numa série de livros, denominada Drawn and Quartered, A Família Addams era apenas um dos aspectos do universo de Charles Addams, repleto de monstros e personagens estranhos colocados em situações cotidianas da vida norte-americana.

As charges de Addams foram transformadas numa série de programas humorísticos para a televisão no outono de 1964. O criador de A Família Addams não havia dado nome aos personagens, sendo, então, inventados para a série: Mortícia Addams (matriarca vampírica da família, caracterizada por seus longos cabelos pretos e uma saia preta e justa, que manteve a imagem sexual das vampiras, imagem esta popularizada no começo do século XX) seria vivida por Carolyn Jones; o papel de Gomez (o chefe da família que trabalhava como advogado) seria interpretado por John Astin; as crianças foram chamadas de Pugsley e Wednesday (vividas por Ken Weatherwax e Lisa Loring); tio Fester (Jackie Coogan), Vovó (Blossom Rock) e o mordomo Tropeço (Ted Cassidy) completaram os representantes da família.

O programa foi ao ar pela rede ABC em 18 de setembro de 1964, durando duas temporadas, alcançando sucesso, apesar da concorrência, pois enfrentou um outro seriado semelhante, Os Monstros (The Munsters), que apresentava um humor mais direto e escrachado – que também estreou em 1964 e também durou duas temporadas. Nos anos 70, a “Hanna-Barbera Studios” retomou A Família Addams em desenho animado para as manhã de sábado, além de produzir uma versão em história em quadrinhos.

Em 30 de outubro de 1977 tentou-se recuperar o prestígio da série com o filme Halloween with the Addams Family, que contou, inclusive, com o elenco original da televisão, mas fracassou nas bilheterias. O interesse pela família foi retomada apenas na década de 90, quando Anjelica Houston (como Mortícia) e Raul Julia (como Gomez) foram selecionados para fazer o filme A Família Addams (The Addams Family, 1991), produzido pela Paramount Pictures, que faria grande sucesso comercial, inspirando pôsteres, jogos de computador, etc.

A Paramount produziria desenhos animados (com as vozes de Nanci Linari e John Astin como Mortícia e Gomez, respectivamente), assim como lançou, em 1993, a continuação do primeiro filme, A Família Addams 2 (Addams Family Values), que também fez sucesso.

Qual é o segredo do sucesso desta família? Além de brincar com imagens eternas do terror (vampiros, lobisomens, médicos loucos, etc.), reforçando-as para novos públicos, o espírito original de Charles S. Addams foi mantido: o mundo “estranho” desta família entrando sempre em choque com o mundo “normal” do cotidiano. Os grandes momentos de humor tirados da família vêm, justamente, deste choque. Em muitos sentidos, a “estranheza” da família é sempre reconfortante para o público, pois, afinal de contas, quem não quer manter íntegra sua vida pessoal com a vida cotidiana externa? Com certeza, A Família Addams conseguiu este ideal.

Artigo anteriormente publicado no fanzine Juvenatrix e também em outra versão do Boca do Inferno.

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Orivaldo Leme Biagi

É mestre e doutor em História pela UNICAMP e pós-doutor em Relações Públicas pela USP. Atualmente é professor e Coordenador do curso de Direito da FAAT.

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